O assunto minguou e retirei-me indo até o espelho. Nisso assustei-me muito: meus olhos estavam tampados de remela e cada pupila estava num canto do olho. Saí desesperada em busca de um banheiro para lavar os olhos e não encontrava. Nesse momento o local parecia uma escola, pois tinha grandes salas de aula, professores, alunos, mas também duas escadas rolantes e a que descia estragara de forma que os degraus estavam desmontando-se no final da mesma. Percebi que eu não era a única agoniada naquele momento. O cenário foi me parecendo caótico como se tudo fosse começar a desmontar. Algumas pessoas pareciam agitadas e outras nem se preocupavam mantendo uma tranqüilidade quase mórbida como se estivessem acostumadas a situações conturbadas. Eu enxergava tudo de maneira normal e não sentia nada diferente nos olhos, mas preocupada com o que vira, ia de um lado para outro a procura de um banheiro para lavar o rosto. Minha respiração estava ofegante e alta como se eu estivesse tendo um ataque asmático ou fosse desmaiar a qualquer momento. Acho que foi isso que chamou a atenção de uma jovem que me seguiu na intenção de perguntar se eu precisava de ajuda. Disse-lhe que precisava urgentemente de água e ela levou-me até um bebedor dando-me um copo grosso de vidro. Tinha muitas pessoas com garrafas esperando para enchê-las e, ao colocar água no copo, fiquei sem jeito de lavar os olhos e acabei bebendo a água. Claramente noto que disfarcei o tempo todo o meu problema, mesmo que tenha expressado meu desespero. Ninguém me olhava de modo estranho por causa dos olhos ou comentava sobre tal, e isso me deixava ainda mais confusa.
Ao olhar para o lado, a jovem que me dera o copo estava aos beijos com um menino que teria idade para ser seu filho. Estranhei aquilo por causa da diferença de idade, mas o ambiente estava tão tranqüilo que me portei como as demais pessoas, ou seja, sem reparar a cena como uma anormalidade. O menino parecia oriental com os olhos puxados (vale notar que meu foco foi o olhar por conta do problema dos meus próprios olhos) e, embora bastante jovem, tinha um semblante de conquistador convencido. Nisso ela levantou o copo dela me mostrando e ofereceu-me a bebida fazendo gesto com a cabeça na direção do bebedor. No que olhei já não era um bebedor, mas um arranjo de umbigos de cacho de bananeira (ou algo parecido) enfeitado com minúsculas flores amarelas claras e, no meio dessa composição, havia uma espécie de tonel com saquê. Ao aproximar-me fui servida com cerca de um dedo da bebida e tomei-a num único gole, mas não lembro que gosto tinha, era como se eu estivesse com o paladar desligado. Na vida real nunca provei saquê e até então nunca me interessara em saber que tipo de bebida é. Tomar aquilo pareceu cerimonioso, além do que, é algo que nada tem a ver com o contexto real da minha vida, ainda mais com aquela evidente ligação oriental.
Semelhante a um fechamento onírico, veio-me um fleche de tudo o que eu sonhara e senti a precisão de acordar para não esquecer os detalhes. Forcei para acordar. Vi-me numa cama e enquanto tentava acordar eu conseguia mexer-me da cintura para cima em movimento lateral para a direita entre pontos luminosos dourados que formavam uma nevoa. Aquilo me assustou e comecei a chamar minha mãe, clamando por socorro e gritando para ela me acordar, mas como essas tentativas de acordar já me são conhecidas, eu sabia que minha voz não estava saindo o suficiente para ela escutar e que a peleja ia ser em vão. Eu estava muito pesada, com total dificuldade para acordar e sabia que só o conseguiria se me acalmasse e deixasse isso acontecer de modo natural. Eu sabia que se não conseguisse acordar provavelmente não me lembraria de nada depois. Foi então que parei de gritar e me entregando ao risco de não conseguir acordar e esquecer tudo, inesperadamente eu inspirei e expirei rápido como se fosse um soluço e acordei assustada como se houvesse caído na cama em cima de mim mesma. Tal tipo de despertar sempre me foi agonizante, mas dessa vez eu me senti mais controlada e compreensiva sobre tal maneira específica de despertar em mim mesma, o qual é impossível de se dar de forma forçada, por mais que continue sendo abrupto esse acordar para a realidade de forma desejosa e consciente. Era como se meu inconsciente e consciente estivessem trabalhando em equipe. No momento do fleche eu me tornei consciente de que tudo era um sonho e tive a sensação de que cada detalhe tinha grande importância. Conscientemente eu queria despertar para anotar tudo, mas era como se meu inconsciente ainda em trabalho me pedisse para confiar no processo como um todo. Além de um sonho, pareceu-me uma experiência bem diferente, pois o desfecho foi forçado, mas não deixou de ser natural ao mesmo tempo. Posso dizer que consegui acordar de maneira mais fácil, rápida e tranqüila do que em todas as demais vezes que passei por isso, mesmo que ainda me seja um processo estranho. Exatamente pela necessidade do despertar, tenho para mim que esses sonhos são importantes, mas não sei decifrá-los. O que essa seqüência onírica pode representar?
Como já lhe dissera, o cachorro é o símbolo do guia dos homens após a morte, guia dos que “não enxergam”, e aparece no sonho como uma solução alternativa para os que estão perdidos. Mesmo que a escolha pareça ruim, o sonho apresenta a decisão de levar o desconhecido para a casa da namorada ao invés de deixá-lo seguir seu caminho, ou seja, trazê-lo para dentro do caminho pessoal ao invés de dizer não à interpelação e, em outras palavras, levá-lo para a intimidade agregando o desconhecido perdido. É a representação de correr risco por ingenuidade. Transformar o cachorro no cunhado é como perceber o mesmo na figura do animal, não no sentido literal ou de forma pejorativa, mas como o elemento submisso ao domínio do outro, de uma dona: a irmã. O emprego surge como compensador da visão crítica de "Alra" sobre o outro lhe dando importância e relevância no encaminhamento de sua vida. A compensação amortece o julgamento que "Alra" faz dele, pois isso a coloca na condição similar de desempregada subjugada. O sonho diz-lhe para não fixar o olhar crítico na condição alheia sem olhar antes para sua própria realidade. O “emprego autônomo” é essa conquista da individualidade, da autonomia que supera o estado de submissão.
Ao se olhar no espelho "Alra" é capaz de se identificar como quem precisa superar o nível do cão, o qual é fiel mas também é submisso. Mas seus olhos estão cheios de remela e embora continue a enxergar normalmente, isso representa um problema de visão, de auto-percepção dentro do contexto donde está inserida. No meio do caos ela está sob controle, mas a ambivalência está em permanecer no caos. Essa ambivalência reflete estar entre as necessidades pessoais de amadurecimento e estar entre o equivoco de avançar na linha de manutenção de uma imagem vendida para o outro como forma de marketing pessoal. Com vergonha não resolve o seu problema, lavar o rosto, mas disfarça, dissimula, se esconde bebendo a água. O fato das pessoas se manterem tranqüilas, quase mórbidas, como se estivessem acostumadas a situações conturbadas, reflete em absoluto a postura de "Alra" em seu disfarce natural. Ver a mulher aos beijos com o menino evidencia sua postura crítica e seus preconceitos que, no caso, estavam ligados a diferença de idade e as escolhas alheias. Por trás disso veio a justificativa de olhar para o outro apenas por conta de suas dificuldades. Essa “normalidade”, “normal idade”, logo “idade normal” adequada para que as coisas aconteçam não existe. Cada um tem o seu tempo e suas escolhas e isso é que precisa ser entendido e superado. Precisamos aceitar as diferenças e não nos esconder nelas. "Alra" precisa trabalha esses conceitos.
Buda fez da bananeira o símbolo da fragilidade, da instabilidade das coisas e que não merecem por conta disso absorver o interesse. Em tal teoria, as construções mentais assemelham-se a uma bananeira. É o símbolo da impermanência e da imprevisibilidade da vida. Algumas possibilidades de significado por sair disso. Somos indivíduos em transição em um universo transitório. Como o umbigo da bananeira prenuncia o desenvolvimento da fruta e o bebedouro a fonte, o arranjo montado indica renovação, purificação e transformação. O umbigo regenera-se e aflora como fruta. À medida que "Alra" em seu crescimento pessoal mudar o foco contido na vida alheia para dar vazão ao foco de si mesma, iniciará seu processo de reconstrução, regeneração, podendo assim super a cegueira causada pelos miasmas em forma de remela (escória) e deixará aflorar em si o nascimento do fruto carnudo, a cornucópia da vida. É preciso deixar de ser cão para se amadurecer. O controle do despertar está associado ao lento acordar da pouca consciência de si mesma. Foi isso o que lhe disse de momento.
Ao se olhar no espelho "Alra" é capaz de se identificar como quem precisa superar o nível do cão, o qual é fiel mas também é submisso. Mas seus olhos estão cheios de remela e embora continue a enxergar normalmente, isso representa um problema de visão, de auto-percepção dentro do contexto donde está inserida. No meio do caos ela está sob controle, mas a ambivalência está em permanecer no caos. Essa ambivalência reflete estar entre as necessidades pessoais de amadurecimento e estar entre o equivoco de avançar na linha de manutenção de uma imagem vendida para o outro como forma de marketing pessoal. Com vergonha não resolve o seu problema, lavar o rosto, mas disfarça, dissimula, se esconde bebendo a água. O fato das pessoas se manterem tranqüilas, quase mórbidas, como se estivessem acostumadas a situações conturbadas, reflete em absoluto a postura de "Alra" em seu disfarce natural. Ver a mulher aos beijos com o menino evidencia sua postura crítica e seus preconceitos que, no caso, estavam ligados a diferença de idade e as escolhas alheias. Por trás disso veio a justificativa de olhar para o outro apenas por conta de suas dificuldades. Essa “normalidade”, “normal idade”, logo “idade normal” adequada para que as coisas aconteçam não existe. Cada um tem o seu tempo e suas escolhas e isso é que precisa ser entendido e superado. Precisamos aceitar as diferenças e não nos esconder nelas. "Alra" precisa trabalha esses conceitos.
Buda fez da bananeira o símbolo da fragilidade, da instabilidade das coisas e que não merecem por conta disso absorver o interesse. Em tal teoria, as construções mentais assemelham-se a uma bananeira. É o símbolo da impermanência e da imprevisibilidade da vida. Algumas possibilidades de significado por sair disso. Somos indivíduos em transição em um universo transitório. Como o umbigo da bananeira prenuncia o desenvolvimento da fruta e o bebedouro a fonte, o arranjo montado indica renovação, purificação e transformação. O umbigo regenera-se e aflora como fruta. À medida que "Alra" em seu crescimento pessoal mudar o foco contido na vida alheia para dar vazão ao foco de si mesma, iniciará seu processo de reconstrução, regeneração, podendo assim super a cegueira causada pelos miasmas em forma de remela (escória) e deixará aflorar em si o nascimento do fruto carnudo, a cornucópia da vida. É preciso deixar de ser cão para se amadurecer. O controle do despertar está associado ao lento acordar da pouca consciência de si mesma. Foi isso o que lhe disse de momento.
COLABORAÇÃO ESPECIAL: M. EDUARDO
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