“Olá 'Pessoal do mundo todo'! Eu voltei ao meu bom estado. Hoje acordei bem cedo para ir à chácara com minha mãe e tudo transcorreu com alegria. Gosto muito de lá e digo a todo tempo que ainda vou morar na minha casinha de campo. A seca está brava, mas nem assim a fartura do pomar diminui: é tantos cachos de banana, abacates e mexericas que daria para encher muitas caixas. É muito bom estar confiante e em paz. Minha fonte obviamente é a ligação espiritual. Eu acredito na proteção que me cabe e em minhas potencialidades, inclusive àquelas que ainda não desenvolvi, mas que estou na busca e tentativa. Já escutei pessoas dizendo que sou tranqüila demais (ou seja, além do limite de equilíbrio benéfico) e por vezes até eu me espanto com essa minha personalidade tão resignada, acomodada e confortada, mas não há nada mais satisfatório e pleno na vida do que a intensa vontade de viver e essa aspiração, ao menos para mim, é oriunda não da agitação de muitos afazeres ou de sucesso profissional e material, mas exatamente da tranqüilidade de sentir-me segura, protegida e sobretudo amada, mesmo sem ter um emprego, uma estabilidade financeira ou a certeza de um futuro casamento com filhos. E o melhor sem via de dúvidas é saber que essa segurança, proteção e amor, serão eternos. Quando estou no meio da natureza eu me sinto em casa como se eu fosse uma árvore cheia de vitalidade que cresce e floresce naturalmente, apenas com a força do tempo que passa e ao mesmo tempo não passa, pois é infinito. Em tudo que vejo e toco a vitalidade faz-me sentir completamente vital e isso me revigora bastante. Eu sinto minha vida de maneira tão especial! Viver não é fácil, mas para mim é suave quando tenho certeza de que tudo está sempre certo da maneira como está, de que tudo caminha para o melhor e que não há erro desnecessário ou ignorância em vão.
No retorno da chácara, deixei minha mãe seguir de ônibus e desci próximo da biblioteca donde troquei meus dois livros de leitura e segui até o abaçá da mãe ‘Chefe’ para tentar encontrar-me com a mãe ‘Iara’ conforme lhe relatei anteriormente. Dessa vez ela estava lá e cheguei no momento em que ela lanchava com uma outra conhecida e mais duas mulheres que nunca vira antes. Eu estava abarrotada de tanta comilança na chácara, mas não tive escapatória perante a insistência: sentei-me e tomei café com rosca e manteiga. Eu estava nervosa com o impacto da chegada e nem consegui saborear muito bem o pedaço de rosca que comi numa tentativa de disfarçar meu ligeiro constrangimento. Por mais ambientada num local ou com determinadas pessoas, eu nunca deixo de ter imensa ansiedade e agitação interior quando em locais dos quais estou exposta ao contato humano. A ‘Leny’ também estava lá, mas eu só a vi depois. Assim que cheguei disse a mãe ‘Iara’ que fora lá apenas para dar um beijo nela e comentei que sentia saudades, que não me esquecera dela, etc. Ela me especulou um pouco e fui respondendo sem muito entusiasmo para falar de mim (detesto interrogatório). A mãe ‘Cláudia’ apareceu pouco depois e foi bem providencial, pois ela comentou que encontrou comigo dentro do ônibus que ia para São Paulo (foi quando fui aí para Campinas no ano passado). Isso reforçou a idéia de que andei viajando, uma verdade que poderia parecer mentira. Ao ir embora ela pediu-me para ir até a padaria com ela comprar o lanche do pessoal e assim eu fiz. Depois de voltar para o terreiro e deixar as sacolas com pão, presunto e guaraná, despedi-me de todos e com a sensação do dever cumprido segui minha caminhada para casa.
Embora sem palavras explicitas, percebi um certo desgosto por parte da mãe ‘Iara’ pelo fato de eu ter deixado o terreiro e as almas de uma hora para outra sem avisar ou dar explicações. No ar ficou aquela esperança pedinte para que eu retorne, mas fui imparcial. Não pretendo voltar, mas preferi não declarar isso para a mãe ‘Iara’. Ela é uma filha de Oxum com Oxossi muito sensível e extremamente dedicada a umbanda e principalmente às almas. Eu não tinha muito que conversar com ela (nem com ninguém na verdade) e senti alivio quando saí de lá. Confesso que fiquei com receio dela insistir para eu ficar no trabalho de atendimento (detesto insistência). Na volta estive pensando que no fundo eu tenho saudade de algo que não sei bem o que é. Tenho saudade do terreiro, de algumas tarefas, dos pretos-velhos, dos caboclos, baianos, giras e exus, mas não me encaixo nisso o suficiente. É como se eu tivesse saudade por algo que ainda nem conheço e, exatamente por não conhecer, desviasse a minha saudade para o que conheço, no caso, a umbanda. No fundo tenho saudade de algo místico que nem sei definir o que se trata e assim acontece com as pessoas também. Minha saudade não era integralmente da mãe ‘Iara’, mas talvez de alguma mãe-velha que não sei quem é. De todo modo é claro que eu estava com saudade da mãe ‘Iara’, tanto que fiz questão de ir lá para vê-la e agora posso passar mais alguns anos distante. Mesmo que eu tenha as minhas limitações e não saiba demonstrar meus sentimentos, sou muito fiel ao que sinto pelas pessoas e isso me faz bem. Sou feliz por saber que tenho consideração por várias pessoas, mesmo que elas não sejam satisfatórias ao sentimento saudosista que eu sinto tão forte em mim. Sinto realização quando visito alguém, mesmo que para esse alguém a minha visita não signifique nada (não que seja o caso com relação à mãe ‘Iara’, assim espero). Amar é complexo, mas é gratificante. Sinto que tenho amores muito grandes que distantes de mim estão, provavelmente numa outra dimensão. É por isso que vou a busca de expressar meu sentimento pelas pessoas que me são queridas, mesmo que os laços de afinidade e intimidade sejam ínfimos. Quando dou antes de receber me sinto mais satisfeita do que se fosse o contrário, pois me sinto com o mérito. Quando dou o que não recebo parece cruel, mas ainda é melhor do que apenas receber. Ter empatia pelas pessoas é bom, mas melhor ainda para mim é o êxito que sinto quando consigo demonstrar afeto, mesmo que de forma tímida.
Cheguei em casa pouco depois das cinco horas da tarde. Tive o prazo de aguar as plantas do quintal, bater um novo hidratante de babosa com essência de cravo da índia, jantar, tomar banho e eis que estou aqui a lhe escrever. Pois bem, esse foi o meu dia...”
No retorno da chácara, deixei minha mãe seguir de ônibus e desci próximo da biblioteca donde troquei meus dois livros de leitura e segui até o abaçá da mãe ‘Chefe’ para tentar encontrar-me com a mãe ‘Iara’ conforme lhe relatei anteriormente. Dessa vez ela estava lá e cheguei no momento em que ela lanchava com uma outra conhecida e mais duas mulheres que nunca vira antes. Eu estava abarrotada de tanta comilança na chácara, mas não tive escapatória perante a insistência: sentei-me e tomei café com rosca e manteiga. Eu estava nervosa com o impacto da chegada e nem consegui saborear muito bem o pedaço de rosca que comi numa tentativa de disfarçar meu ligeiro constrangimento. Por mais ambientada num local ou com determinadas pessoas, eu nunca deixo de ter imensa ansiedade e agitação interior quando em locais dos quais estou exposta ao contato humano. A ‘Leny’ também estava lá, mas eu só a vi depois. Assim que cheguei disse a mãe ‘Iara’ que fora lá apenas para dar um beijo nela e comentei que sentia saudades, que não me esquecera dela, etc. Ela me especulou um pouco e fui respondendo sem muito entusiasmo para falar de mim (detesto interrogatório). A mãe ‘Cláudia’ apareceu pouco depois e foi bem providencial, pois ela comentou que encontrou comigo dentro do ônibus que ia para São Paulo (foi quando fui aí para Campinas no ano passado). Isso reforçou a idéia de que andei viajando, uma verdade que poderia parecer mentira. Ao ir embora ela pediu-me para ir até a padaria com ela comprar o lanche do pessoal e assim eu fiz. Depois de voltar para o terreiro e deixar as sacolas com pão, presunto e guaraná, despedi-me de todos e com a sensação do dever cumprido segui minha caminhada para casa.
Embora sem palavras explicitas, percebi um certo desgosto por parte da mãe ‘Iara’ pelo fato de eu ter deixado o terreiro e as almas de uma hora para outra sem avisar ou dar explicações. No ar ficou aquela esperança pedinte para que eu retorne, mas fui imparcial. Não pretendo voltar, mas preferi não declarar isso para a mãe ‘Iara’. Ela é uma filha de Oxum com Oxossi muito sensível e extremamente dedicada a umbanda e principalmente às almas. Eu não tinha muito que conversar com ela (nem com ninguém na verdade) e senti alivio quando saí de lá. Confesso que fiquei com receio dela insistir para eu ficar no trabalho de atendimento (detesto insistência). Na volta estive pensando que no fundo eu tenho saudade de algo que não sei bem o que é. Tenho saudade do terreiro, de algumas tarefas, dos pretos-velhos, dos caboclos, baianos, giras e exus, mas não me encaixo nisso o suficiente. É como se eu tivesse saudade por algo que ainda nem conheço e, exatamente por não conhecer, desviasse a minha saudade para o que conheço, no caso, a umbanda. No fundo tenho saudade de algo místico que nem sei definir o que se trata e assim acontece com as pessoas também. Minha saudade não era integralmente da mãe ‘Iara’, mas talvez de alguma mãe-velha que não sei quem é. De todo modo é claro que eu estava com saudade da mãe ‘Iara’, tanto que fiz questão de ir lá para vê-la e agora posso passar mais alguns anos distante. Mesmo que eu tenha as minhas limitações e não saiba demonstrar meus sentimentos, sou muito fiel ao que sinto pelas pessoas e isso me faz bem. Sou feliz por saber que tenho consideração por várias pessoas, mesmo que elas não sejam satisfatórias ao sentimento saudosista que eu sinto tão forte em mim. Sinto realização quando visito alguém, mesmo que para esse alguém a minha visita não signifique nada (não que seja o caso com relação à mãe ‘Iara’, assim espero). Amar é complexo, mas é gratificante. Sinto que tenho amores muito grandes que distantes de mim estão, provavelmente numa outra dimensão. É por isso que vou a busca de expressar meu sentimento pelas pessoas que me são queridas, mesmo que os laços de afinidade e intimidade sejam ínfimos. Quando dou antes de receber me sinto mais satisfeita do que se fosse o contrário, pois me sinto com o mérito. Quando dou o que não recebo parece cruel, mas ainda é melhor do que apenas receber. Ter empatia pelas pessoas é bom, mas melhor ainda para mim é o êxito que sinto quando consigo demonstrar afeto, mesmo que de forma tímida.
Cheguei em casa pouco depois das cinco horas da tarde. Tive o prazo de aguar as plantas do quintal, bater um novo hidratante de babosa com essência de cravo da índia, jantar, tomar banho e eis que estou aqui a lhe escrever. Pois bem, esse foi o meu dia...”
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