Não tive uma noite muito agradável. Sonhei que tanto eu quanto minha mãe havíamos tido um pressentimento sobre a morte da minha tia mais velha. Abracei minha mãe e disse que estava com medo. Minha própria tia havia predito sua morte e senti mais medo de possuir a informação da morte com antecedência do que da hipótese de morte em si. Ela sofreria uma morte trágica e acordei bastante assustada no meio da noite. Depois que voltei a dormir sonhei com uma jovem que ia cantar numa competição e ela já era bem afamada. Eles colocaram a música e, ainda nos bastidores, ela verificava que a plateia cantava aguardando sua entrada no palco. Sentindo-se a estrela do momento, ela começou a cantar indo em direção ao palco, mas quando lá chegou, para sua surpresa, já havia uma outra moça cantando. Não entendi se a outra moça fazia uma espécie de duble ou se o microfone da jovem que estava nos bastidores foi desligado. De todo modo percebi sua decepção quando ela me entregou o microfone e simplesmente se retirou do local. Embora ela tenha me dado apenas um microfone, logo depois eu segurava um em cada mão. Não sei por quanto tempo segurei aquilo, mas sei que em sequência comecei a voar. Primeiro voava sobre um gramado e depois já estava voando dentro de casa. Todos me olhavam como se eu estivesse fazendo algo perigoso ao subir nos móveis e mergulhar no ar, mas eu conseguia, embora com dificuldade, voar até o teto. Isso é o que lembro.
Eis a resposta de “Alra” sobre tal sonho: “Pessoas próximas, familiares ou não, envolvem representações fundamentais na vida de um individuo e, portanto, possuem representações associadas à sua pessoalidade. O tema envolve questões básicas e fundamentais: a morte, perdas, tragédia e separação, aceitação ou a dificuldade, o poder do premonitório, custos e responsabilidades, medos e angústias. Se o sonho é premonitório, não tenho como falar, mas você o saberá. A questão que me chama mais atenção não é a premonição em si, mas as consequências do conhecimento e da consciência do futuro. De certa forma estamos blindados no presente, tendo acesso ao passado, com o qual podemos nos referenciar para não repetir erros desastrosos. Temos acesso restrito ao futuro, o bastante que nos permita a cautela e a prevenção de erros e dissabores, coisa que a transcendência humana nos permite. E nunca se pensa que a premonição antes de ser uma dádiva possa ser uma tempestade antecipada de dores e sofrimentos. A carga de quem 'vê' o futuro pode ser pesada. Muitos podem enxergar uma aura de magia e poder na premonição desconsiderando as implicações e responsabilidades que isto possa ter. Chama-me a atenção a ocorrência dos medos.
Numa análise tradicional a morte da tia poderia ser traduzida como o desejo de sua morte, ou por deslocamento, o desejo de morte da mãe. Pessoalmente não me sinto atraído por essa vertente de compreensão e análise. Penso mais na morte de representação familiar, um lado que representa a família que chega ao limite da existência, que caminha para a dissolução em decorrência das transformações operadas por você. Neste aspecto prefiro pensar nas mais significativas identidades, ou parecenças, com sua tia, que você repete na sua vida e que agora podem ficar reservadas ao passado. É importante que também entenda a necessidade de trabalhar o desligamento de sua mãe, porque sendo a morte definitiva, hora chegará de sua despedida nesta dimensão. Há também a necessidade de aprimorar o sentido natural das pré-sensações no preparo para lidar com o conhecimento antecipado dos fatos nesta vida. Não é tarefa fácil. Antever e prever são apenas variações da sensibilidade aprimorada do ver, estado em que o presente é referência e onde passado e futuro se encontram. Quanto mais estiver preparada, menos sofrimento viverá e o seu destino mais tranquilamente se realizará. Já lhe disse: frente ao nosso destino só nos resta realizá-lo e cumpri-lo. Sofrimentos, medos, angústias e desesperos existem quando não há compreensão nem aceitação da impermanência da vida.
Posteriormente vem um sonho que explicita uma ânsia de fama, uma liderança latente que deseja um palco para dirigir e comandar multidões. O sonho mostra que você não aparece para realizar o seu sonho, que ainda existe a necessidade de palco para exibir-se e, principalmente, que há angústia pela falta de oportunidade de mostrar ao outro sua capacidade. Há anseio, expectativa e frustração. O microfone pode representar membro viril, símbolo da fecundidade e do poder de penetração. Neste aspecto poderia pensar na minimização da força do masculino castrador-repressor e no fortalecimento do feminino, da sensibilidade representada pela musicalidade. Em outras palavras, a mulher masculina, castradora, perde força e deixa crescer a presença da mulher feminina, sensível, encantadora, que procura o seu espaço para expressar-se. Há a intenção do canto, manifestação da sensibilidade, encantamento pela musicalidade e há a frustração representada pelo microfone não utilizado, entregue como objeto de renúncia. Fora essas variações podemos pensar na presença da vaidade e da força narcísica deixando claro que a individualidade precisa ser fortalecida.
Em relação ao voo podemos pensar em: 1. Fuga e escape, fantasia ou compensação da inferioridade, diante da expectativa frustrada; 2. Aumento de tensões e conflitos que levam a compensação através da leveza do corpo, na elevação da condição fantasiosa; 3. Aumento da relação lúdica diante de uma realidade frustrante; 4. Aumento da confiança diante da realidade; 5. Aumento da necessidade de se expor ao outro; 6. Crescimento da necessidade de ser visível ao outro; 7. Necessidade de ariscar-se mais, de se lançar e mergulhar naquilo que lhe agrada. Aí fico pensando: você tem níveis elevados de fantasia porque segura o microfone nas mãos e tem o poder de controlar a ação? Ou a condição de fantasiosa fica possível em decorrência da necessidade de compensar o estado de frustração que lhe impacta? Por hora ficam essas possibilidade para refletir”.
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COLABORAÇÃO ESPECIAL: M. EDUARDO
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