“Olá ‘Ami’! Os meus dias estão sem grandes fatos para serem
relatados, e os seus? Por onde andas que nunca mais deixou nenhum comentário em meu blog? Bem, ontem me a
conteceu algo surpreendente. Depois de um dia como todos os demais, eu fui deitar-me já mais de onze horas. Na noite retrasada tive muitos pesadelos e o mesmo repetiu-se de ontem para hoje. Antes disso eu posso complementar dizendo que estava sonhando muito, mas não eram pesadelos e sim coisas entre boas e totalmente esquisitas, daqueles sonhos malucos e bestas
que nem damos importância. Mas o que vou lhe contar não foi um sonho. Embora eu já estivesse deitada e pronta para dormir, sei que estava co
mpletamente lúcida quando senti a presença espiritual de "Mateus". O perfume dele espalhou-se pelo meu quarto e senti o calor do corpo dele a me envolver meigamente. Ele deitou-se comigo na cama e ficou passando as mãos em meu rosto e fazendo cafuné pelos meus cabelos, nuca e ombros. Eu podia sentir claramente que era ele, mas confesso que a
princípio achei tudo muito estranho. Se não era ele era algum ser que me proporcionava sensação de leveza e proteção por demais maravilhosa. Numa espécie de conversa intuitiva ele começou a dizer que me amava e sempre estaria comigo. Que
eu podia confiar nele e crer que jamais ele me abandonaria. Em pensamento questionei como era possível ele estar ali comigo e como eu podia senti-lo tão bem sem o ver se isso nunca me ocorrera de maneira tão expressiva. Ele apenas respondeu que isso
é possível e acontece com todas as pessoas podendo ser com mais ou menos consciência. Ele estava aqui comigo em espírito desprendido do corpo e isso era apenas uma espécie de projeção astral. Fiquei por entender e disse-lhe que tudo era muito complexo para mim, pois embora tenha minha intuição e mediunidade reconhecidas desde a infância, eu nunca as d
esenvolvi a ponto de conseguir identificar e conversar com um espírito, fosse ele desencarnado ou não. Ele estava desprendido do corpo, mas eu tinha total certeza de que eu não estava. Parece uma controvérsia, mas, se tratando de uma sensação captada
com a alma, eu fechei os olhos para aguçar os sentidos e, imediatamente, visualizei como se fosse uma espécie de imagem mental, que o quarto esta
va repleto de luz. Era como se tudo dentro dele estivesse coberto de neve e sobre essa camada branca o sol raiasse fortemente. Havia uma névoa igual a um farol de carro quando se acende no meio de um penhasco coberto de neblina. O perfume e a leve sensação de calor aumentaram nitidamente quando fechei os olhos e mergulhei na dimensão invisível. Embora surpresa eu estava relaxada, cheia de paz e feliz.
Eu abracei a sensação do "Mateus
" espírito e disse ainda mentalmente que estava com muitas saudades. Sem muita demora "Mateus" demonstrou o mesmo e explicou-me que tinha algo muito sério para contar, algo que queria me dizer desde o início do relacionamento, mas ainda não conseguira a coragem necessária para dizer. Fiquei encabulada e receosa i
maginando um monte de coisas. Captando todos os meus pensamentos ele pediu-me calma e disse que não era nada do que eu estava pensando. O que poderia ser então? Verificando minha curiosidade ele foi direto ao assunto, contou-me que estava em São Paulo ajeitando algu
mas documentações para sua viagem de mestrado, a qual faria em Portugal, donde tinha a casa de seu avô para residir. Fiquei estática e nem cogitei de pedir detalhes. Pensei sinceramente que estivesse ficando lou
ca ou que algum espírito estivesse querendo me pregar uma peça. "Mateus" tentou me acalmar e ia me explicar algo quando eu levantei-me de supetão e fui ao quarto de mamãe na intenção de pegar o telefone. Ele pediu-me que não fizesse isso, pois obviamente seu espírito ia ser ‘chupado’ pelo seu corpo assim que esse despertasse com o barulho do celular. Fiquei confusa, pois já era tarde e seria estranho eu ligar para o "Mateus", principalmente se aquele que ali estava comigo não fo
sse ele em espírito. Eu pensei no que poderia dizer para descobrir alguma coisa mais real e sem pesta
nejar mais disquei o número do celular dele. Por volta do quinto toque escutei a voz de sonolenta de "Mateus" atendendo ao telefone.
___ "Ágape", aconteceu alguma coisa?
___ Sim, quer dizer, não, está tudo bem – gaguejei meio confusa. – Tudo bem cont
igo?
___ Sim – respondeu ele parecendo ainda mais sonolento, o que me deixou ainda mais sem graça.
___ Desculpa te acordar, você está na sua casa? – me mordi por dentro por ter de perguntar no meio da madrugada algo tão desconexo.
___ Não, é que eu tive de fazer uma viagem e... – se eu já não deduzisse tudo poderia imaginar um monte de idiotices, mas é lógico que ele não ia me responder que ‘não’ caso as minhas idiotices fizessem sentido. – Porque me perguntou isso? – voltei a escutá-lo depois de liquidar meus pensamentos turvos
.
___ Você está em São Paulo? – arrisquei me sentindo uma doida.
___ Quem te contou? Como você sabe?
___ Você – eu respondi sem rodeios.
___ Ah?!
___ Não se lembra de nada?
___ Não, tenho certeza que não te disse que...
___ Que você vai para Portugal fazer mestrado? – interrompi-o e completei sua fala corajosamente, mas ainda sem querer aceitar que tudo fosse real.
___ Não é possível, desde aquela noite na casa de sua avó que venho ensaiando para lhe contar isso e do nada você simplesmente descobre?
___ Quando v
ocê vai viajar? – perguntei sem ligar para o espanto dele.
___ Final de março.
Respirei fundo e somente então percebi que tudo era verdade. Minhas pernas bambearam e uma sensação de tontura ligeiramente passou por mim, junto a um frio que percorreu minha espinha de cima a baixo. Não apenas era real o fato de eu haver estado com o espírito de "Mateus" desprendido do corpo, enquanto eu estava plenamente acordada, bem como
o fato de que ele ia mesmo viajar para uma tempo
rada de estudos num país que muitíssimo mexe comigo.
___ Quanto tempo vai ficar por lá? – senti que minha voz não queria sair como se eu fosse romper-me num choro a qualquer momento.
___ Entre dois a três anos. Eu queria muito ter te contado antes, pois essa viagem está programada desde o ano passado e...
___ Tudo bem – eu disse já não conseguindo avaliar o que estava sentindo.
___ Eu ainda não entendi como você ficou sabendo de tudo – escutei "Mateus" dizendo aflito.
___ Você não se lembra de ter estado comigo? Não tem nenhuma impressão mesmo que vaga igual a um sonho?
___ Não, do que você está falando?
Emudeci sem saber se contava ou não. Ele tinha o dir
eito de saber, mas eu não sabia ao certo como lhe relatar o ocorrido e minha cabeça naquele momento já não conseguia raciocinar mais nada. Só querendo desligar o telefone o quanto antes, não percebi quando respondi:
___ Só posso lhe garantir que você, em espírito, esteve aqui comigo. Desculpa ter lhe acordado e impedido que ficássemos mais tempo juntos. Não sei lhe dar maiores explicações e, se me concebe licença, gostaria de desligar agora.
___ "Ágape" – ele disse as pressas antes que eu desligasse. – Eu te amo! – concluiu ele com
a voz emocionada após perceber que eu ainda estava na linha.
Suspirei fundo e repeti as três ultimas palavras de sua fala. Desliguei o telefone com a sensação de que o mundo estava g
irando ao meu redor e me sacudindo como uma formiga dentro de um vidro. Se por um lado era péssimo saber que ele ia fazer uma viagem para ficar até três anos no exterior, por outro era maravilhoso saber comprovadamente que nós havíamos estado juntos mesmo tend
o nossos corpos tão separados. Será que tal fato repetir-se-ia? E se ambos estivéssemos dormindo e não lembrássemos posteriormente? Minha mente confusa e cheia de perguntas só me deixou dormir bem tarde da noite. Eu não cansava de me perguntar o que ia me acontecer e foi sem conseguir supor uma resposta clara que meus sentidos se apagaram por completo e consegui finalmente adormecer. Tive pesadelos com minha mãe, irmã e o concurso da Futel, bem como out
ros detestáveis que, emb
ora me lembre vagamente, prefiro nada comentar. Acordei hoje tranqüila, mas ainda cheia de imensas curiosidades. Por momento vou ficando por aqui. Um grande abraço e tudo de bom!”