Obrigada pela visita!

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domingo, 11 de janeiro de 2009

outro encontro... - Agape e Mateus 3

"Ágape" foi com sua mãe até a casa de sua avó “Mariposa” já por volta das cinco horas da tarde, mas nem entrou uma vez que primeiramente tinha de ir ao Parque do Sabiá fazer sua caminhada e corrida. Ao chegar no portão principal do parque, a primeira pessoa que viu foi "Mateus" sentado num dos bancos remexendo no celular. Lembrando do episodio ocorrido donde "Mateus" ficou chateado por ela ter passado sem cumprimentá-lo, sentiu-se obrigada a ir falar-lhe antes de prosseguir com seu exercício físico. Como se pudesse sentir que ela havia chegado, "Mateus" olhou em sua direção e sorrindo levantou-se para cumprimentá-la. Ambos abraçaram-se como se houvesse um ímã a uni-los. "Ágape" ficou sem palavras enquanto sentia a energia dos braços de "Mateus" a envolvê-la. Inexplicavelmente era como se aquele abraço já lhe fosse desde muito conhecido, sentido, desejado e principalmente esperado. "Mateus" disse que já havia corrido e, diferente dos outros dias, estacionara o carro na parte externa daquela entrada. Ele gostava de variar o sentido do percurso e daí ia alternando sua entrada pelos vários portões de acesso ao parque. Uma vez que "Ágape" ainda ia correr, ele prontificou-se de aguardá-la enquanto fazia alguns telefonemas. Mais do que depressa "Ágape" embrenhou-se no meio dos caminhantes e cerca de quarenta minutos depois já estava de volta encontrando-se com "Mateus" outra vez. Nisso ele sugeriu que saíssem da movimentação do parque e fossem sentar-se no ultimo degrau de cima da escada lateral do Estádio João Avelange, o qual ficava exatamente na frente daquela entrada do parque. Gostando da idéia "Ágape" o acompanhou e minutos depois estavam os dois subindo de mãos dadas a escadaria. Lá de cima podia-se ver boa parte da entrada do parque e o vento correndo solto dava a sensação de estarem sobre o pico de uma montanha.
___ Já trouxe muitas garotas para esse lugar? – ar
riscou "Ágape" puxando conversa.
___ Nenhuma que me valesse a pena. Aliás, nunca tive um namoro que me valesse de algo, nem mesmo que esse algo desejado fosse uma lembrança positiva – respondeu "Mateus" deixando um rastro de desi
lusão passar por seu rosto.
"Ágape" achou estranho escutar aquilo de "Mateus" e embora quisesse fazer mil perguntas, calou em seu intimo toda sua curiosidade aguardando que ele continuasse a dizer qualquer coisa.
___ Quer saber de uma c
oisa? Eu já tive vários envolvimentos que iniciaram e terminaram de formas indesejáveis, pois no fundo o que eu mais queria não aconteceu: eu nunca soube o que é apaixonar e amar verdadeiramente uma mulher. Eu aprendi a seduzir, envolver, conquistar, gostar profundamente e ser respeitoso, mas isso nunca me satisfez. Uma vez insatisfeito eu também aprendi a trair, aceitei ser traído e passei a lidar com o sexo de forma puramente maquinal, apenas para me sentir homem e satisfazer meus desejos e instintos masculinos. Não que os meus envolvimentos tenham sido um erro cabível para arrependimento. Mas eles apenas aumentaram o vão que já existia dentro de mim. Apesar dos bons momentos vividos, dos beijos, abraços e trocas de carícias, eu nunca fui feliz da maneira como sempre desejei. E talvez o maior culpado tenha sido eu mesmo ao nunca ter acreditado que seria possível viver um amor verdadeiro, perfeito e maravilhoso. Eu vivi toda a futilidade de um relacionamento a dois porque dentro de mim só havia a triste certeza de que nenhuma mulher estaria à altura dos meus sonhos. Eu já chorei amargamente e muitas vezes eu solucei em total desconsolo com a crença de que ter uma mulher comigo era fácil, mas ter um grande amor seria impossível. Isso sempre pesou dentro de mim, até que resolvi nunca mais me envolver amorosamente com ninguém.
"Ágape" escutava-o dizer de si como se falasse dela também. Incrivelmente as palavras dele serviam perfeitamente para definir o passado de "Ágape" e suas tentativas de namoro.
___ Eu entendo o que você está me dizendo. Sempre fiz uma tremenda força para ter esperanças dentro
de mim com relação a esse tipo de amor. Minhas experiências não passaram de meras tentativas frustradas. Valeram-me apenas para comprovar o que eu já sabia e não admitia: não tem como eu encontrar um grande amor distante do modelo de homem que sempre idealizei para mim. Tentei de todas as formas e fui tolamente flexível em todos os relacionamentos achando que eles podiam dar certo. Desejando ardentemente suprir meu vazio sentimental eu acabei confundindo o que poderia ser apenas amizade com a possibilidade de qualquer coisa parecida com um envolvimento amoroso. Posso dizer que já vivi o amor do carinho e do respeito, mas esse nunca chegou aos pés do sentimento intenso que eu queria sentir por um homem, ou seja, amor do puro amor – disse "Ágape" também lhe abrindo o coração. – E foi assim que eu resolvi ter paciência e dar tempo à vida para que ela encaminhasse meu destino sem tantos trancos e barrancos... Mas eu nunca deixei de acreditar que um dia, mesmo que seja só nas próximas vidas, eu encontrarei um grande amor e comporei uma historia de felicidade, respeito, cumplicidade e total união.
"Mateus" encarava "Ágape" um pouco impressionado e seu sorriso saiu com sua
vidade quando ela terminou de falar e olhou-lhe também. Mesmo que ambos não estivessem querendo aceitar ou acreditar, estava rolando um clima entre eles, e foi na tentativa de disfarçar tal sensação que "Mateus" mudou de assunto com a seguinte pergunta:
___ Como foi seu dia?
___ Bem, na medida do possível. Ontem eu já estava exausta, praticamente não agüentando ficar em pé, quando verifiquei que meu chaveiro havia sumido. Fiquei caçando as chaves até de madrugada nas duas casas e nada de encontrá-las. Isso me deixou péssima. Logo cedo mamãe acordou-me para ajudá-la a descer algumas coisas da cozinha. Eu levantei com custo, tomei café da manhã e comecei a ajudá-la, mas não tardou e fui obrigada a deitar. Dormi pesadamente e fui novamente acordada para almoçar. Mal almocei e tive que deitar outra vez, pois estava me sen
tindo tonta de sono. Era como se eu houvesse tomado uma caixa de sonífero com um litro de pinga. Voltei a apagar na cama e só levantei quando começou a trovejar e chover. Nisso minha mãe, como sempre muito apressada em gastar dinheiro, foi mandar fazer copia das chaves para mim e enfezada acabei levantando. Arrumei mais algumas coisas da mudança e pouco tempo depois mamãe estava de volta. No que eu colocava as chaves novas num chaveiro a minha mãe abriu a primeira gaveta de seu guarda-roupa menor e achou meu chaveiro. Nenhuma de nós duas soube explicar ou deduzir como as chaves tinham ido misteriosamente parar naquela gaveta. Logo depois nos arrumamos para ir à casa de vovó e adivinha o que aconteceu na saída? Não encontramos a chave da casa de vovó. Parecia uma piada de mau gosto. Tivemos de sair assim mesmo e mamãe foi obrigada a chamar por vovó para abrir-lhe o portão. Essa situação de mudança já está nos enlouquecendo e estamos estropiadas de tanta bagunça. Se você soubesse o quanto eu estou cansada! – desabafou "Ágape" imaginando o quanto seria bom se pudesse ter um colo ou um ombro como o de "Mateus" para repousar sua cabeça e sentir um leve cafuné, mesmo que brevemente.
"Mateus" lhe tocou carinhosamente no rosto e depois de alguns instantes de silêncio disse pensativo:
___ Você me lembra alguém que eu não sei dizer quem. Talvez seja por isso que sua presença me transmita algo diferente que também não sei explicar, só sei dizer que é uma sensação muito boa. A sua fisionomia, o timbre acanhado de sua voz e até seu jeito simples de se vestir. Eu sinto que você é uma pessoa especial, mas não consigo entender por que sinto isso. Você me passa uma sensação de segurança e aconchego.
"Ágape" não conseguiu deixar de rir. Muitas vezes já escutara pessoas dizendo que ela transmitia paz, mas segurança e aconchego eram demais. Achando que aquela conversa estava deixando "Mateus" confuso sentimentalmente, "Ágape" disse que precisava ir embora, uma vez que sua mãe ficara esperando-lhe na casa de sua avó. "Mateus" concordou ol
hando no relógio e assim desceram as escadarias indo até o portão do parque novamente.
___ Te vejo amanha? – perguntou "Mateus".
___ Talvez – respondeu "Ágape" não querendo deixar nada marcado.
___ Fica com Deus – desejou "Mateus" dando um beijo na mão de "Ágape".
___ Você também – retribuiu "Ágape" acariciando a mão de "Mateus".
Nitidamente eles queriam mais proximidade, entretanto existia uma cautela embutida em ambos, de forma que a despedida acabou finalizando-se apenas no toque de mãos que lentamente foram se separando. "Ágape" voltou para a casa de sua avó. Esta lhe ofereceu bolo e deu-lhe uvas também. “Mariposa” comentou por duas vezes que gostaria novamente de ter a companhia de "Ágape" lá dormindo com ela. O assunto não se estendeu, mas foi bom para "Ágape" sentir que as portas da casa de sua avó lhe estavam abertas. Ela ainda pretendia dormir lá mais vezes, assim que a situação de
mudança em sua casa lhe desse uma trégua.
Ao voltarem para casa, sua mãe recebeu duas ligações: uma da “Cinaty” pressionando com relação ao aluguel da chácara e outra de “Soberana” dizendo que estava a caminho de Uberlândia novamente. Isso
indicava que teriam novidades a caminho, uma vez que aquela viagem não era nem um pouco previsível. Ao chegar de volta, "Ágape" continuou guardando alguns pertences da cozinha e num passe mágico encontrou a chave da casa de sua avó. Aquela situação de chaves sumindo e aparecendo do nada estava cruel e "Ágape" não via à hora de tudo estar nos seus devidos lugares. Sem mais acontecimentos, foi assim que mais um dia finalizou-se na vida de "Ágape".

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