Ultimamente tenho acordado mais morta do que viva. Meu corpo dói, está pesado e nem sei como tenho sobrevivido ao cansaço intenso que venho sentindo ao decorrer do ultimo mês. Se antes eu clamava de cansaço emocional, agora me refiro a cansaço físico mesmo. Mas tenho de dar conta da vida e me obrigo a cumprir tudo o que me cabe. Desde a semana retrasada que minha irmã já estava em fim de vir para Uberlândia e isso não deixa de ser um agravante ao meu estado de mal-humor e mal-estar físico. Até o meu estomago parece estar retardatário para fazer a digestão e por vezes quase chego a pensar que vou vomitar. Essa noite sonhei que minha mãe brigava com um vizinho quando este começou a lhe tacar pedras. Mandei-a entrar dentro de casa, mas ela queria revidar. Entretanto ele estava num prédio enquanto ela estava no chão e, logicamente, as pedras dele eram arremessadas com muito mais força do que as dela. Eu fingi que tinha sido atingida no braço e comecei a gritar muito pensando que aquilo pudesse impedir a continuação da chuva de pedras, mas não adiantou. Quando notei que o barulho das pedradas havia parado, vi minha mãe desfalecida. Desesperada corri até o corpo dela já inerte. Nisso vi a aproximação de Bezerra de Menezes, Adolfo Fritz, Bittencourt Sampaio e vários outros espíritos com aparência humana normal, mas que eram denominados de orixás. Não sei explicar como eu os reconheci, pois eles estavam com uma aparência diferente e, ademais, o único cuja aparência me era conhecida antes do sonho era do Dr. Bezerra. Aliás, só fiquei sabendo se tratar deles pois no sonho eu gritei o nome de cada um desesperada ao ver minha mãe morta. Vendo que eles iam 'resgatá-la' afastei-me do corpo. Vi o espirito de minha mãe ser socorrido. Com um vestido branco esvoaçante e com aparência de jovem, ela se levantou mantendo uma espécie de grande tumor, parecia sangue coagulado, na altura do coração. Ver o lado espiritual foi um pequeno consolo no meio da tragédia. Prefiro até sonhar com minha própria morte. Mas pensando bem, essa mãe por certo é uma representação minha, não é? Mas por que motivo fui sonhar com essa tal equipe espiritual se nem lembrava direito de tais nomes, se nem conhecia a aparência deles e se nem pensava na possibilidade dos orixás serem espíritos de aparência humana normal?
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Resposta:
“Alra” pensou sobre os sonhos e assim teceu o seguinte comentário: “Uma análise imediata do sonho indica o desejo de ver sua mãe morta. Não se assuste! O desejo de morte dessa 'mãe' pode ser confundido com o desejo de morte da mãe real, a progenitora, mas estou dizendo da representação simbólica da matriz. Esse desejo de morte, excluindo casos patológicos, não faz referência à morte física da mãe, mas ao momento que estabelece o término, ou à fase inicial do processo de desligamento: 1. Do poder de intervenção materno a partir da realidade desta entidade de força, deste indivíduo matricial construtor e formador do outro Ser. 2. Do poder de intervenção da representação simbólica materna constituída no inconsciente, originada da mãe real. No inicio ocorre a diminuição desse poder de intervir até que este conteúdo seja dissolvido, restando apenas a representação do conteúdo afetivo de mãe.
Esse mecanismo é semelhante ao que ocorre com a representação e simbologia do Pai. Em ambos os casos, a partir do momento em que o indivíduo se constitui uma individualidade adulta maturada, esses conteúdos e representações são dissolvidos, já que incorporados na constituição da personalidade do sujeito, não se fazem mais necessários como referências básicas de princípios, de conduta na relação com a realidade, ou de proteção à estrutura psíquica. Assim, essa mãe pela qual se desespera é a sua mãe em você. Naturalmente há conflito entre a sua busca de consolidação como um individuo adulto, sua Singularidade, e a menina que resiste em abandonar o conforto e condição de estabilidade de filha dentro do seu cenário de vida juvenil. Mas parece que a vida lhe empurra para a realidade, para o seu destino, para a consolidação de sua existência como uma mulher, lhe exigindo novas escolhas, novos caminhos, novas respostas. Empurra-lhe para que se assuma como mulher madura e para isso, agora, com seus conceitos pessoais incorporados aprendidos e herdados, deixe de se ancorar e de se proteger na barra da saia da mãe para prosseguir na construção de seu destino, na realização de seus desígnios.
Muitos nesta hora recuam e escolhem não avançar. Evitam crescer e amadurecer. Pagam o alto preço de contrariar a lei da impermanência da vida. Fixam-se no solo como árvores resistentes propensas a dobrarem apenas a cada tempestade cíclica do tempo. Pensam que escolhem o caminho mais confortável e às vezes nem descobrem o equivoco de suas escolhas, o erro de interromper o processo natural de desenvolvimento de suas existências fixando-se na segurança ilusória do passado de proteção familiar. Mas mesmo que não descubram seus equívocos, são obrigadas a amargar o sofrimento sem saber o porquê de tão trágico destino. Prefiro não pensar nas entidades que aparecem como sendo reais, mas sim como símbolo, conteúdos e referências de sua vida de Adulta, que incorpora conceitos, princípios e doutrinas na formação pessoal. Associo com conteúdos originários de sua formação pessoal que indicam a referência para que responda de acordo com a realidade. No caso acima, a morte da mãe que representa a sua ascensão individual, lhe provoca o medo de arriscar, o medo da transformação, e as entidades representantes da doutrina, seus conteúdos formados de conceitos incorporados, afloram como referência de resposta ao cenário de Morte. Todos eles, são imagens, são referências significativas da Doutrina Espírita. Como se lhe dissessem: 'a doutrina indica a crença na imortalidade. Não há porque desesperar!' Integre seus conteúdos, alinhe-se aos preceitos nos quais acredita sintonizando-os com o comportamento e as respostas adequadas. De que adianta conceber uma noção de mundo e agir como quem nega essa noção? Neste aspecto o sonho confronta a ação, forma de resposta, com a idealização.
Inserido neste contexto está o apego e a importância de trabalhar o desapego, para que o impacto das perdas deixe de ser devastador em sua estrutura e na condução de sua vida. Pela vida vemos indivíduos trabalhando para se apegarem como gosma a todo o tipo de ilusões, quando deveriam trabalhar o desapego para conquistar a libertação, único estado que nos permite a plena maturação. De que adianta o conceito da vida como passagem se ficamos viciados, agarrados, apegados a cada estação que passamos? E a questão que considero a chave primordial: a aceitação do destino. Uma das grandes causas de sofrimento no mundo é a falta de aceitação dos limites da existência. As pessoas podem passar toda uma vida estéril, sem que o saibam, lutando contra a condição definitiva da existência: seus limites. Em síntese: para crescer precisamos matar simbolicamente o pai e a mãe dentro de nós, conservando apenas o vínculo afetivo. Precisamos aceitar a realidade da existência para aprender a não sofrer com as perdas e para não transformar a existência numa projeção da tragédia pessoal e conceitual do mundo.
A figura de mãe é uma representação pessoal de você mesma enquanto mãe, enquanto parte feminina, representa sua auto-proteção, origem, lado afetivo ou de desafeto, simboliza sua expectativa de mãe e a expectativa que nutre projetada em sua mãe, realça os sentimentos e emoções que nutre pela Mãe que se origina dentro de você. Ainda que nascidos da mãe-mulher, também gestamos e promovemos o nascimento de uma Mãe dentro de nós, Homens e Mulheres. Essa Mãe que gestamos, transcende a dimensão sexual em decorrência de sua natureza eterna. Ela nasce a partir do arquétipo da Mater Aeternale que vive em nós e participa como guia em nossas vidas, como um espírito do tempo a nos conduzir. A partir do nascimento do indivíduo essa Mãe interna, nascida de dentro da mãe biológica, conduzida através da memória do tempo da natureza, encontra sua origem fora de si, encontra a criatura que o originou passando a estruturar o nascimento interno do sujeito. A gravidez promove a construção do corpo e configura a base do nascimento de sujeito como entidade subjetiva a partir da memória genética que define o corpo e o substrato do sujeito.
Quando a mãe é retrativa, não afetiva, e promove a rejeição, ainda que ofereça o sustento e a sobrevivência, não permite o encontro e a sintonia entre a mãe interna e a externa, produzindo um sujeito desalinhado, gerando a fonte de graves distúrbios psicopatológicos. Quando o processo é bem sucedido, o sujeito realiza seu desenvolvimento de forma equilibrada se referenciando na estrutura dos pais para construir a sua base de sustento psíquico. Base que na vida adulta será essencial para a maturação da individualidade constituída, quando a psique em sua dinâmica favorece o desligamento do cordão umbilical dissolvendo conteúdos que já pouco significam para a estrutura formada. Neste momento o individuo constituído tem sua relação com o mundo consubstanciada numa conexão plena com o universo. É a integração inicial como seres amadurecidos que nos permitirá atingir estágios mais completos de consciência e de harmonia na relação com o mundo, até que possa atingir a realização com a individualização.
O sonho prossegue com o mar sem ondas, sem movimento, associado à água congelada, indicando energias densas. São energias preparadas para se integrar no fluxo do rio, em dinâmicas vibracionais elevadas, ou são energias imobilizadas das quais você não possui poder de acesso. Funciona assim: existe um fluxo energético que coloca todo o sistema em operação e existem reservas que o organismo tem acesso apenas para reequilibrar o sistema e supri-lo de energia. Estas energias potencialmente poderiam estar a disposição do individuo, mas dependem exclusivamente da forma como foram reservadas ou se nunca foram acionadas. Conteúdos autônomos, por exemplo, para atingirem o fluxo vibracional do sistema nervoso se utilizam de mecanismos que possam acionar sua sobrevivência. Quando não conseguem acesso à câmara do pensamento, tendem a se dissolver e se concentrar como energias densas para acesso exclusivo do sistema de sobrevivência. Quando acessão a câmara do pensamento conseguem energias que aumentam sua sobrevida. Assim o mar congelado pode fazer referência a energias de reservas que podem ser integradas ao sistema ou à conteúdos densos que conseguem atingir o centro do sistema energético. O mar é representação do inconsciente, oceano do mundo psíquico, das águas inferiores ou superiores, dependendo da visão cultural. É fonte da vida, gérmen original por onde afloram os conteúdos, a dinâmica, as pulsões, a força, a vida, o oceano primordial, as águas abissais, símbolo da dinâmica da vida de onde tudo veio e para onde tudo retorna, lugar do nascimento, do renascimento, das transformações, do surgimento do imponderável, da riqueza e da multiplicidade do universo. É o laboratório da vida. Seu movimento simboliza o estado de transição, de metamorfose entre os processos forjáveis e aqueles já forjados, entre as possibilidades informes e as realidades configuradas.
Você pensa que pode andar sobre as águas. Penso na superestima ou no diagnóstico equivocado, que lhe coloca em perigo decorrente de avaliações precipitadas. Vejo uma tendência pessoal, certa ingenuidade ou velho hábito de se permitir encantada e surpreendida por aquilo que lhe parece inusitado e a cautela que se segue. O inconsciente nos exige essa cautela para lidar com o inominável, com o desconhecido, o inesperado. Há a indicação de que o sistema se movimenta, ou inicia o movimento, de força e poder, que antes estava congelado, paralisado. E é preciso cautela para lidar com essas forças, é necessário avaliar com mais precisão as escolhas que possam ser feitas. Quando abrimos a porta para os mistérios da vida, descortinamos o véu que encobre o desconhecido. O que antes adormecia, hibernava, passa a se movimentar. E o que virá a seguir? Se o risco é o de morrer, mas se já estamos mortos, não há riscos. Nessa condição não temos nada a perder, ao contrário, só podemos ganhar. Neste sentido a consciência de morta é da velha criatura que precisa morrer abrindo espaço para que a nova mulher, renascida, viva! O oceano congelado pode ser o inconsciente em estado de transição, de transformação, onde o calor das paixões ou das pulsões hibernava, mas se fazem preses a renascer, a revigorar e agitar-se dentro de você.
Em terceiro sonhei que me olhava no espelho e meu rosto estava inchado, perto da região ocular havia muitas erupções bem vermelhas, mas as mesmas não coçavam e nem doíam. Eu enxergava normalmente, mas não conseguia ver os meus olhos no reflexo, pois dentro deles havia uma grande quantidade de remela preta parecendo piche. Fiquei nervosa e disse a mim mesma que trabalhar na área da saúde estava me trazendo muitas complicações.
Por fim vamos ao terceiro sonho: os olhos são uma janela para o mundo, ainda que existam outras portas e janelas que nos permitam ver e 'sentir' o mundo. Se não existem problemas físicos reais, o sonho pode ser indicação de que essa janela pode estar embaçada, fechada, congestionada, alterando sua percepção do mundo. A visão não está obstruída, mas o olho não é visível, está escondido. Pode ser defesa pessoal para que não veja o mundo como precisa ver que ele é. Talvez esteja se precavendo da verdade, se escondendo da realidade. Outra possibilidade está no espelho: há dificuldade em se ver no mundo, em ver o mundo como reflexo de sua imagem. Isso é indicativo de transformação de conteúdos narcísicos ou de uma autoestima que não consegue ver o que espelha, mas o que pensa que reflete. Analise o seguinte: a visão não está obstruída, mas ao invés de ver os olhos somente são visíveis as remelas. A percepção está alterada. Como a visão existe, esta vem de um olho interno e pessoal que deforma a imagem pessoal, ou acusa o problema instrumental. O rosto simboliza a evolução do ser vivo, das trevas à luz. A sua irradiação determina e diferencia o rosto do mal (endemoniado) e o rosto do bem (angelical). O rosto simboliza o divino, ou sua ausência, as sombras, a maldade. Ele expressa a bondade, indica o ausente e o perdido ou o reencontrado, o mascarado, o dissimulado e o irradiante. E se o olhar é o espelho da alma, o sonho demonstra que você ainda se esconde atrás de máscaras que impedem o brilho dos seus olhos. Pense nisso”.