Obrigada pela visita!

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terça-feira, 30 de setembro de 2008

carta 18





“Olá ‘Ami’! Estou um tanto amuada. Ontem e hoje passei o dia todo esfregando o chão dos cômodos lá de baixo. Minha mãe comprou tíner, acido clorídrico (muriático), hidróxido de sódio, aguarrás e palha de aço. Nunca fiquei tanto tempo pelejando com algo tão chato: eu esfregava num lugar, a tinta diluía e ia grudando ao redor. O tíner parece acetona e se deixar secar o chão fica mais branco do que antes de esfregar a tinta seca. Quanto trabalho e que peleja! Conclusão: continuo exausta! Francamente estou parecendo uma morta-viva ou se preferir, uma viva-morta. Minha vida por inteira continua parada e eu dentro dela estou mais parecendo uma ameba do que qualquer outra coisa. Bem, o recado é só esse. Sorte, paz e amor em nossos caminhos. Até depois!”

domingo, 28 de setembro de 2008

carta 17

“Ola ‘Ami’!
As coisas comigo continuam na mesma toada, como costuma dizer minha avó. Hoje andei ajudando mamãe a limpar a bagunça lá de baixo.
Esparramei o resto de areia nos canteiros junto com calcário e adubo de cobertura que eu comprara para colocar nos pés de plantas.
Depois disso eu dei uma primeira limpada em tudo, mas a verdade é que o local está tão sujo que será preciso muitas lavadas.
O pintor praticamente rebocou o chão todo de tinta a óleo, nunca vi tanta lambança. Não sei onde minha mãe vai arrumar tíner para limpar tanta sujeira, se é que ela vai animar de limpar aquilo. Eu já fiz o que podia e estou exausta.
Mas o que me trás a essa escrita neste momento é outro assunto: vou relatar-te os meus pesadelos noturnos. Continuo sonhando muitas coisas inconvenientes com minha mãe e irmã. Detesto relembrar os pesadelos que costumo ter com minha irmã, mas talvez me seja bom falar sobre eles. Se pesadelos já são ruins por si só, ficam ainda pior quando são com pessoas tão próximas. Talvez desabafando a má sensação que eles me causam eu os elimino aos poucos. Antes devo dizer que, se na realidade eu concordo sempre com minha irmã e abaixo a cabeça, nos sonhos a cena é diferente, composta de muitos gritos e atritos, inclusive físicos. Eu realmente não gosto de falar disso, mas visualizando pelo ângulo da absurdez resolvi lhe contar as poucas lembranças que ficaram avivadas na mente.
Pois bem, o pesadelo dessa noite foi o seguinte: eu estava discutindo com minha irmã e ela me pressionava (como sempre) para eu arrumar um trabalho e deixar a minha vida ‘boa’ de quem nada faz. Já irritada com tal discussão eu larguei ela falando e fui beber água. Nisso o namorado dela chegou: um lindo europeu de Toledo (Espanha). Obviamente isso é pura maluquice de minha mente que, como sempre, pareceu ser extravasada através de meus sonhos, pois tenho certeza de que minha irmã nunca namorou nenhum estrangeiro, além do mais a realidade dela ser casada não encaixa absolutamente nada com a cena sonhada. Como se fosse a primeira vez que o via (dentro do sonho – apenas dentro dele - eu o conhecia desde muito tempo) fiquei estarrecida com a tamanha beleza daqueles olhos claros que novamente me olhavam fixamente após um cumprimento. Querendo despicar com minha irmã, dei uma má resposta ao cumprimento de seu namorado e observei por trás dele a cara zangada de minha mãe com aquela falta de educação que eu acabara de fazer. Eu já ia tomar o segundo copo de água quando minha irmã chegou à cozinha também fazendo cara brava para mim. Sem nenhum desconcerto o namorado de minha irmã perguntou o que estava se passando no ambiente e minha mãe tentando amenizar a situação contou que eu e minha irmã estávamos discutindo pela minha falta de trabalho. Daí ele começou a falar qualquer coisa (que não me recordo) a fim de me defender (na vida real dificilmente alguém concorda comigo em qualquer coisa que seja). Um tanto confusa eu desviei meu olhar de todos e me virei para encher o copo novamente de água. No que desvirei o namorado de minha irmã estava com outra fisionomia totalmente diferente: bigode e uma barba enorme, típica de anciões. Nenhuma das duas fisionomias apresentadas no sonho se parece com meu cunhado e o mais interessante é que a primeira me faz lembrar alguém que em verdade não sei quem é. Fiquei bastante intrigada com o desfecho desse pesadelo (assim considero sempre que me vejo em atrito com minha mãe e/ou irmã) e acordei logo depois desse trecho que aqui descrevi. Tiveram muitos outros sonhos antes e depois, mas não me recordo praticamente de nada. De toda forma, creio que esse não é o mais enigmático pesadelo que já tive com minha irmã. Por momento isso é tudo o que tenho a contar-te. É uma pena eu não conseguir lembrar os demais sonhos. Vou continuar prestando atenção nesse lado hermético de meu viver. Um abraço e felicidades!”

sábado, 27 de setembro de 2008

carta 16

“Olá Ami!
Comigo tudo continua na mesma.
A disposição para dormir com minha avó pode transparecer até mesmo uma caridade, mas interiormente eu sinto que a maior beneficiária sou eu mesma, não pela expectativa de qualquer remuneração, mas pela simples fuga do meu cotidiano banal e sem graça.
Estranho que já me sinto responsável pela minha avó no sentido de fazer-lhe companhia à noite.
É como se a vida houvesse encaixado as necessidades dela às minhas ilusões de algo diferente e aventureiro.
Sinto muita compaixão de vê-la reclamando das doenças, as dores e principalmente da solidão.
Daí eu me pergunto: como pode uma vida de tanta luta e trabalho terminar de forma tão insignificante? Quando olho fundo nos olhos de vovó eu sinto como se os anos não fossem absolutamente nada perante uma vida humana.
Sinto quase fisicamente que nesse mundo só há valor os aprendizados e experiências que se solidificam em forma de crescimento evolutivo.
O resto é simplesmente o resto.
Ou melhor, o resto é apenas um complemento que, no final da vida, pode ser chamado de nada. Concorda comigo?”.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Sociopatia – Flora na novela A Favorita

Ouvi dizer que Flora poderia pegar até 190 anos de cadeia. É isso mesmo! O público brasileiro que assiste a novela das oito da Rede Globo (no Brasil) ficou chocado ao descobrir que Flora (aquela personagem meiga, com cara de anjo) era na verdade a vilã da trama. Afinal, Flora era a queridinha da maior parte dos telespectadores da novela global “A Favorita“.
Mas agora todos estão começando a conhecer a verdadeira face da personagem interpreta por Patricia Pillar na novela das oito. E a pergunta que fica é: “será que a Flora é má mesmo e não tem volta“?
A trama da novela global está levando para dentro das casas no Brasil um assunto bastante delicado (que para mim é prazeroso enquanto escritora, enquanto “estudante” de psicologia): a sociopatia.
Contudo, a personagem Flora é um caso raro na televisão, já que em poucas vezes foi apresentado a Sociopatia enquanto tema. A novela A Favorita aborda um problema que ao que tudo indica está cada vez mais próximo de pessoas “comuns”. A sociopatia que também é chamada pelo autores franceses, de “insanité sans délire” (insanidade sem delírio) ou, pelos alemães, de “insanidade moral” atinge hoje 4% da população mundial, o que significa dizer que você já pode ter convivido com um individuo sociopata sem fazer a menor idéia. E ainda me pergunto se eu mesma não chegaria a ser uma também... brincadeirinha!
A sociopatia caracteriza-se principalmente pelo egocentrismo que faz com que a pessoa ame e odeio ao mesmo tempo, já que o outro não é alvo de sua preocupação. O individuo sociopata tem por hábito manipular as pessoas, como quer seja necessário, para atingir seus objetivos. Suas armas são o charme, a sedução, a intimidação e a violência, usadas, assim, progressivamente, de modo cada vez menos sutil, no caso de as outras pessoas não se comportarem da maneira como o sociopata deseja. Não há um perfil preciso quando a esta doença. O que significa dizer que não há um padrão pré-estabelecido, ou seja, cada sociopata comporta-se de acordo com o ambiente em que vive.
Vale lembrar ainda que os sociopatas portadores de distúrbio de personalidade dissocial (freqüentemente chamados de “psicopatas”) são exímios simuladores e manipuladores, conseguindo enganar mesmo alguns dos melhores peritos e escapar de promotores e juízes. A sociopatia enquanto doença fornece elementos vários para a composição de personagens, mas poucas vezes ganhou espaço em tramas televisivas, como novelas por exemplo. Nas telas do cinema um exemplo de abordagem do tema foi o filme “O Anjo Malvado” (The Good Son) que chegou a ser proibido em vários países devido a índole do personagem interpretado por Macaulay Culkin, que na trama viveu uma criança sociopata. As diversas cenas fortes vividas pelo ator Macaulay Culkin geraram desconfortos deixando claro que a sociedade não sabe o que fazer com as crianças que apresentam os sintomas dessa doença.
A Sociopatia começa a apresentar sintomas já na primeira infância. Aqui, infelizmente se encaixa o ditado “já nasceu todo ruim“. Os pais tentam repreender os filhos e nada parece funcionar no sentido de modificar o comportamento da criança: repreensão, castigo, surras. Nada disso surte efeito algum, porque a criança sociopata é imune a tudo isso.
Já o sociopata adulto é uma pessoa tranqüila, com excelente presença social e boa fluência verbal. São membros “notáveis” da sociedade porque eles exercem um fascínio sobre o outro. Impressionam em tudo que fazem. São extremamente frios, pensam com calma em tudo que fazem, manipulam e agem com ponderação. Definitivamente não têm limites em suas ações. Apresentam uma atitude aberta de desrespeito por normas e regras e obrigações sociais de forma persistente e irresponsável. Possuem baixa tolerância a frustração e facilmente explodem em atitudes agressivas e violentas. Mas você jamais desconfiaria dele.
Talvez o que realmente incomode na Sociopatia é saber que não há cura possível. Os estudos acerca dessa doença, levaram ao conhecimento de dois tipos específicos de sociopatia:


· O Psicopata Carente de Princípios: Estes psicopatas exibem com arrogância um forte sentimento de autovalorização, indiferença para com o bem estar dos outros e um estilo social continuamente fraudulento. Existe neles sempre a expectativa de explorar os demais. Os Psicopatas Carentes de Princípios exibem uma total indiferença pela verdade, e se são descobertos ou desmascarados, podem continuar demonstrando total indiferença. Quando castigados por seus erros, ao invés de corrigirem-se, podem avaliar a situação e melhorar suas técnicas em continuar a conduta exploradora. É como se evoluíssem a partir do erro cometido.

· E o Psicopata Malévolo que são particularmente vingativos e hostis. Seus impulsos são descarregados num desafio maligno e destrutivo da vida social convencional. Eles têm algo de paranóicos na medida em que desconfiam exageradamente dos outros e, antecipando traições e castigos, exercem uma crueldade fria e um intenso desejo de vingança. O outro é sempre seu inimigo e sempre se move de forma a prejudicá-lo e ele acredita se antecipar a isso e não há limites em suas ações. Eles vão ao limite e não demonstram qualquer tipo de remorso.
O que significa dizer que existem tipos leves de sociopatia que são aquelas pessoas que nunca irão muito além de mentiras e jogos de enganação e há o caso mais grave que pode causar a morte do outro. Em tempos modernos, o ser humano parece ser o seu maior vilão e já nem é mais preciso novelas e filmes, basta assistir ao próximo capítulo de nossa própria vida.
Acredito que Flora irá obter vitória até o final da novela e, logo em seguida, nos últimos capítulos, irá tropeçar em uma besteira pequena. Talvez ela até mora no final.
O divertido é que o frame da abertura da novela "A Favorita" mostra o lado preto – o que sempre representou algo negativo - (de Flora) dando o tiro no personagem Marcelo e essa é a revelação que já estava no ar desde o primeiro capítulo da trama, na vinheta de abertura. Eu nem precisei assistir a novela (passo dias sem ligar a TV) para saber que o obvio logo viria ao ar para surpreender a todos – menos eu.
Torço pela Donatela, mas sem saber explicar como ou porque, sinto muita pena de Flora e não me importaria se ela não tivesse um final trágico apesar de todos os seus crimes. Na minha visão, acho que a Flora é uma mulher muito carente e revoltada com a vida que ideologicamente quer conseguir tudo por bem ou por mal sem colocar limites em suas próprias ações. A falta de limites é seu único malefício em minha opinião.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

carta 15

Essas sao bem antigas!


carta14






Olá Ami, olha só que bonitinho! Tem mais um monte, mas esses sao as que mais gosto.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

carta13

“Olá ‘Ami’!

Sinto em dizer que as coisas não andam bem comigo. Tenho passado maus momentos de irritação e tristeza. Chorei um bocado ontem e mais um pouco hoje. Para ser franca, ultimamente já não conseguido rezar sem chorar. Algumas vezes eu até interrompo a reza para não me desmoronar em lágrimas. Meu coração e minha mente estão bastante tumultuados num misto de sentimentos que eu nem sei explicar. Já não sei se quero o que desejava até o final do mês passado. Desde que comecei a dormir com minha avó a vaga suposição de mudar-me para Mateus Leme parece declinar gigantescamente. De toda forma prefiro nem falar disso por enquanto.
Ontem, pela segunda vez (a primeira foi há seis dias atrás) me ligaram da loja donde consertaram minha maquina fotográfica. Eu e
stava enrolando de ir buscá-la, pois cada vez sinto mais fisicamente o meu baque emocional em qualquer gasto de dinheiro e como era de se esperar, o preço cobrado não foi barato. Uma vez pressionada a fazer pessoalmente a busca do equipamento, tive de aceitar minhas dificuldades e massacrá-las dentro de mim mesma. Exatamente assim eu saí e fui andando até o centro da cidade na loja de assistência técnica. Imaginei que o homem fosse testá-la antes de me entregar, mas como ele não o fez eu simplesmente paguei e trouxe para casa a
máquina. Ele marcou garantia de três meses e justamente por conta disso pensei que o conserto houvesse ficado bom. Depois de praticamente um mês no conserto finalmente trouxe a máquina para casa e não tardei para experimentá-la. Conclusão: o conserto ficou pela metade. O bloco automático do zoom continua travando e não entra totalmente para dentro da câmera quando esta é desligada. Além do mais, como sempre acontece com qualquer aparelho eletrônico quando precisa ir ao conserto, sinto que minha maquina não vai voltar a ser perfeita como antes. Ah vida! Se já não estava muito bem do meu humor, senti um baque ainda maior ao comprovar que teria de fazer o processo de levar a máquina ao conserto tudo outra vez. Cada vez que vou lá são quase duas horas de caminhada e agora não sei quando vou poder voltar lá para deixar a máquina novamente. Que cansaço sinto da vida, do mundo, de tudo!
Minha avó também não está tão bem. Ontem ela levou um baita tombo logo depois que eu saí de lá. Disse que foi pegar esterco para colocar nas plantas e tropeçou não sabe aonde. Por conta da historia da maquina fotográfica eu tive de ir mais tarde para a casa de minha avó. Geralmente eu vou com minha mãe entre cinco e seis horas da tarde, mas ontem o tempo pareceu evapora
r. Minha mãe foi antes para pingar os colírios na vovó e já eram quase sete horas quando finalmente consegui sair de casa. Daí aconteceu o que eu já estava praticamente imaginando: desencontrei-me de mamãe. Por incrível que pareça passamos pelo mesmo caminho e não nos vimos. Como temos apenas uma chave do portão da casa de minha avó e esta estava com mamãe, tive de voltar em casa para pegá-la. Eu poderia ter tocado a campainha para minha avó ir abrir o portão, mas pelo fato dela não estar boa das pernas e nem das vistas eu descartei essa hipótese. Ainda bem que são apenas onze quarteirões de distancia. Minha mãe aprontou um falatório como se fosse o fim do mundo eu andar na rua depois do anoitecer. Ela morre de medo e evita ao máximo, mas eu adoro sair e sentir um céu estrelado sobre minha cabeça. Sabia que minha avó cheia de curiosidade ia querer saber por que eu fora mais tarde. Como eu já estava irritada por demais achei melhor descontrair e pensei na resposta mais estapafúrdia que poderia existir. Conforme supus foi eu chegar e ela aprontou um belo interrogatório querendo saber que ocupação me fizera chegar lá mais tarde. Astutamente eu respondi que estava namorando e caí na gargalhada. É claro que ela não acreditou e percebeu logo que eu estava fazendo farra da situação. O assunto prolongou-se comicamente e nós começamos a falar um monte de besteiras sobre os tarados.
Sinceramente, essa situação de ter que ir dormir com vovó não poderia ter me sucedido em melhor hora. Por momentos penso que vou explodir e tudo o que me acalma é pensar na tranqüilidade que me espera durante as ultimas horas do dia na casa de m
inha avó. Quando estou lá esqueço da minha própria vida, dos meus problemas, as minhas dificuldades, os m
eus defeitos. Falamos futilidades, compreendemos uma a outra concordando em vários aspectos por termos o mesmo ponto de vista, damos risadas de coisas bobas e a toas, enfim, consigo me sentir mais leve. A verdade é que, a cada dia que passa, sinto-me como um burro de carga com o mundo nas costas sem saber exatamente para onde vou. Carrego o peso de um lado para o outro, vou para frente, para trás, empaco de vez em quanto e no final passo de burro de carga para uma barata tonta igual àquelas que recebem uma chinelada e continuam vivas zanzando pelos cantos aqui e acolá. Sentido da história: acho que posso me definir como uma barata tonta de carga. Bem, não vou me demorar muito nessa escrita. Os pedreiros estão fazendo muito barulho lá em baixo (estão rançando as portas velhas para assentar as novas) e isso atrapalha minha concentração. Cada marretada faz um estrondo imenso e dá uma balançada geral em tudo. Parece até um terremoto. Não é exagero não, está tudo tremendo aqui. Um horror! É isso que dá fazer a parte térrea e as paredes externas todas com tijolos deitados (estilo construção de duas décadas atrás). Isso sem falar na poeira que me faz espirrar de cinco em cinco minutos. Outra hora eu trato de escrever mais. Realmente está impossível ficar aqui agora. Até breve!”