Obrigada pela visita!

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quarta-feira, 30 de junho de 2010

Novidade... E agora?


Logo após o almoço, “Alra” recebeu uma ligação do Uai da Pampulha: era uma jovem perguntando se ela tinha interesse de comparecer ao local, na parte do RH, levando sua documentação necessária a fim de tomar posse do cargo de auxiliar administrativo relacionado ao processo seletivo do concurso público no qual prestara no início do ano. Espantosamente ela estava diante da oportunidade de um emprego embora houvesse ficado classificada no numero setenta para apenas vinte vagas (mais duas para deficientes). Foi então que “Alra” agitou-se para tirar as xerox necessárias e tomar as providencias que lhe cabiam ao momento. Com tudo em mãos, ela foi até o Uai. “Graúda” foi consigo e esperou-lhe do lado de fora numa outra parte do local. Lá “Alra” conversou com a jovem que lhe ligara, entregou-lhe a papelada e pegou o encaminhamento para abrir conta no banco Real e para fazer os devidos exames médicos. Tudo até então estava dando certo com facilidade. Na volta ambas passaram na feira e depois “Alra” foi fazer sua corrida no Parque do Sabiá. Em seguida ela tomou banho de jaborandi cujas folhas trouxera da chácara. Sem mais, assim seu dia foi encerrado.

Arroz integral com molho branco e beterraba cozida...

Sonho (respondido) com a Ami...


“Sonhei que eu esperava uma amiga, pois íamos sair juntas para dançar. Estudei na vida real com essa amiga durante vários anos e ela (era a 'Ami'), pelo que eu saiba, sempre foi crente e deve continuar sendo. Ela estava demorando e senti-me insegura pensando se ela teria desistido, se teria ido sozinha, se estava tentando me despistar por algum motivo ou o que acontecera. Eu estava na casa dela, mas no quarto de hospedes. Enquanto aguardava, eu joguei sobre mim mesma uma comida feita, como se fosse uma espécie de ritual. Não recordo direito, mas parece que tinha arroz, feijão e quiabo. Quando resolvi ir atrás dela, vi que sua mãe ia na mesma direção e preocupada pensei que a mesma não poderia ver aquela sujeira de comida que eu fizera no quarto. Voltei correndo para onde estava, deitei na cama e fiquei em silêncio para fingir que dormia. Ambas começaram a discutir muito alto. A mãe dela acusou-a de ter perdido o juízo depois de deixar a religião tradicional de berço e de família por outra que permitia a pessoa sair a qualquer hora da noite. A tal religião dela é daquelas que não permite a mulher usar calças (apenas saia), não usar roupa decotada, não usar esmalte, não pintar o cabelo (de preferência não cortá-lo também), não beber nada alcoólico, não fumar, não comer carne, não fazer absolutamente nada no sábado (a não ser rezar ou ler a bíblia), não ir a cinema, boates, etc. A discussão estava em torno do fato dela querer sair (parece que íamos fazer isso escondido da mãe dela) e também sobre sua troca de religião. Fiquei com muito medo da mãe dela vir tirar satisfações comigo ou dela própria ficar com raiva de mim por eu não ter ido lá defendê-la ou por eu ter influenciado-a de mudar seus padrões de comportamentos e de crenças. Fiquei acuada, atônita, sentindo uma ponta de culpa e ao mesmo tempo de raiva. De um lado estava a mãe cheia de limitações por pudores religiosos, do outro a filha querendo quebrar os vínculos que a prendiam em tais limitações sórdidas e, nesse meio, estava eu escondida me refugiando num meio-termo com medo de ambas virem descontar suas irritações sobre mim. Acordei assustada tentando entender o que tal sonho queria dizer sobre mim mesma. Existe algum conflito interior dentro de mim com relação ao sagrado e ao profano? Como lidar com isso se for o caso?”
***


Disse-lhe para iniciarmos a análise pelo insólito: “Enquanto aguardava, eu joguei sobre mim mesma uma comida feita, como se fosse uma espécie de ritual.” Alguém poderia pensar em núcleo potencial pré-psicótico. Claro que não pensei nessa possibilidade, pois não iria tão longe. O cenário mobiliza em “Alra” a insegurança, associada à máscara que funciona como refúgio na atitude de defesa como vítima, abandono, medo à rejeição e inferioridade. O que se segue é reativo e natural, podendo ser associado ao padrão com o qual sempre respondeu a essas ameaças em sua vida, ou seja, fazendo do pensamento ritualístico a tentativa de se defender dos fantasmas interiores e que ao longo do desenvolvimento a favoreceu e ajudou-a evitando que sucumbisse à sensação de pânico pelo abandono. Já vimos em leituras passadas a repetição do padrão, desta forma de responder às ameaças: o pensamento mágico. É nele que “Alra” se refugia e é desta forma que encontra suporte para não sucumbir à tempestade emocional que a invade. Possivelmente sua tendência na criação e produção de fantasias e ilusões tenha nascido neste padrão de defesa de sua estrutura psíquica e emocional. Mas com o tempo, este mecanismo que havia favorecido a sobrevivência, passou a representar uma armadilha impedindo-a de estabelecer-se com o meio, com as pessoas, com as relações sociais mais próximas, aprisionando-a no casulo de que busca escapar. Neste aspecto a sequência do sonho é preciosa, pois mostra a força do embate entre a vontade de voar e o medo de ser punida ao se libertar.
Fica evidente sua dificuldade em lidar com figura de autoridade. Há recuo, regressão, acionamento de defesas, repressão, inflição, punição e o baixo nível de auto estima. É possível que haja conflito. São duas tendências: como jovem, naturalmente é atraída para a vida mundana ou profana, mas enquanto adulta, o caminho interior chama para a religiosidade e para a renúncia. Disse-lhe que um bom modo de libertação surge após a saciação das pulsões internas, mesmo sabendo dos ricos que corremos de ficar aprisionado nas compulsões e paixões mobilizadas pelo prazer. Quando nos amordaçamos, a fantasia do não vivido pode se mostrar como o pior carrasco. Esse possível conflito aparece entre a atração pelo prazer e a moralidade religiosa repressora, em síntese, entre o prazer e o sacrifício. Observei sua fala: “... e, nesse meio, estava eu escondida me refugiando num meio-termo com medo de ambas virem descontar suas irritações sobre mim.” Qualquer semelhança não é mera coincidência. “Alra” realmente está escondidinha entre esses dois mundos. Disse-lhe que o mais importante e significativo não é o conflito, pois esse é o embate entre dois lados, duas possibilidades, duas manifestações, duas escolhas possíveis, dois universos de polaridades opostas, de repulsão e atração, ou seja, supernatural, impossível de inexistir ou ser desfeito! O importante e mais significante é a postura, a atitude, a resposta diante do fato, a conduta, a ação, o movimento. A atitude do frágil nasce no medo, que nasce na defesa, que está ligada ao instinto de sobrevivência. Defesas são fundamentais, pois sem elas sucumbimos. Defesas baseadas em neuroses é que são impeditivas e bloqueadoras na interação com o meio. Se o sujeito se apavora com uma formiga ele sucumbirá em cenários que lhe exijam mais.
Portanto, disse-lhe que é necessário crescer, encarar os desafios, seus próprios monstros, seus fantasmas e algozes. É preciso abandonar a pequena criança amedrontada que mora no medo, e crescer com dignidade, desenvolver o respeito pelos outros e por si mesma, fortalecer sua coragem e olhar de frente para os que a ameaçam. “Alra” recebe a recomendação de seu sonho para desenvolver atitudes e posturas referendadas no direito tanto quanto nos deveres, na igualdade, para assim não sucumbir aos medos que destroem e aniquilam a alma. Antes de ter que aprender a lidar com seus desejos, “Alra” teria que aprender a lidar com a força da repressão que auto-aprisionava-a. Mas junto a isso ela tinha um detalhe favorável: é mais fácil aumentar os limites do reprimido do que fazer recuar os limites do pervertido. Ela precisava ser como uma borboleta, arriscar seu voo, se lançar e mergulhar no espaço vazio para descobrir o prazer de voar, de viver e ser feliz.

COLABORAÇÃO ESPECIAL: M. EDUARDO
APOIO: A_LINGUAGEM_DOS_SONHOS

terça-feira, 29 de junho de 2010

A chave do reino interior...


“Olá 'Pessoal do mundo todo'! Hoje tive um dia cheio: acordei cedo para ir com mamãe na chácara (amanhã será o ultimo dia do homem que está trabalhando ir lá) e na volta fiz o de costume, desci no ponto da biblioteca, troquei meus livros e segui até o centro espírita Amor à Verdade (Badeco). Foi tudo bastante tranquilo. Ao chegar em casa encontrei uma mensagem da 'Yllaria' perguntando se estou a fim de ir ao Ináciu's amanha. Não gostei muito de lá, mas se não tenho carona para opção melhor, o jeito é não dispensar o convite meio-termo. Aproveitando a ocasião troquei minha frase do MSN e Orkut por “...Minh'alma viajante, coração independente; Por você corre perigo; Tô afim de seus segredos, de tirar o seu sossego; Ser bem mais que um amigo...”
De resto, terminei de ler um livro chamado A chave do reino interiori. O livro diz que o inconsciente se comunica pelos sonhos e pela imaginação. O inconsciente é a mente original da humanidade, a matriz primitiva a partir da qual a especie desenvolveu uma mente consciente e a fez evoluir durante milênios até atingir a extensão e o refinamento atual. É a fonte verdadeira de toda a consciência humana. A maioria das neuroses, o sentimento de fragmentação, o vazio, a falta de significado da vida moderna, resultam do isolamento do ego em relação ao inconsciente. Como seres conscientes, percebemos vagamente que perdemos parte de nós mesmos e sentimos falta de algo que um dia nos pertenceu (muitos procuram erroneamente esse algo oculto e olvidado na projeção da anima ou do animus nos relacionamentos). A individuação é nosso despertar para o ser total, permitindo que nossa personalidade consciente se desenvolva até absorver todos os elementos básicos inerentes em cada um de nós no nível pré-consciente. Os sonhos constantemente registram o processo de individuação e o movimento do ego em direção ao self. O self tem símbolos específicos como o círculo, a mandala, o quadrado, o diamante, o número quatro, etc. Individualizar-se é integrar-se com a própria totalidade de conteúdos autônomos e de sub-personalidades. É ser inteiro e dono de si mesmo.
Diz o livro que ninguém inventa nada na imaginação. O material que aparece na imaginação tem sua origem no inconsciente. A imaginação, corretamente entendida, é o canal através do qual esse material flui para a mente consciente. Ligado tanto aos sonhos, quanto a imaginação, os arquétipos psicológicos são definidos como modelos iniciais preexistentes que formam o esboço fundamental dos principais componentes dinâmicos da personalidade humana. São inatos em nós, parte de nossa herança como membros da raça humana. Em síntese são as muitas personalidades distintas que coexistem dentro de nós a nível inconsciente e, não obstante, fazem parte do inconsciente coletivo. São essas personalidades interiores que nos aparecem em sonhos como pessoas, as quais inclusive podemos nomear enquanto sub-personalidades nossas. Nenhum de nós tem só uma face, pois somos combinações ricas de uma variedade infinita de arquétipos. Todos temos um pouco de herói e de covarde, de pai/mãe e de criança/filho, de santo e bandido, etc. É preciso identificá-los e viver com suas energias distintas de forma construtiva, ou seja, individualizar-se. Todo sonho, por mais curto que seja, tem algo importante a nós dizer. Os sonhos nunca desperdiçam tempo e, mesmo os aparentemente mais tolos ou insignificantes, possuem mensagens importantes. A multiplicidade das figuras dos sonhos reflete a estrutura multidimensional e a pluralidade do eu interior. Cada uma dessas sub-personalidades possuem sua consciência própria, seus valores, desejos e pontos de vistas que nos leva a uma direção, vontade ou atitude diferente. A que sai vitoriosa sobre as demais pode ser chamada de autônoma. Daí dizer que somos manipulados e conduzidos por conteúdos autônomos inconscientes.
São aconselhadas quatro etapas para lidar com os sonhos: Na primeira devemos fazer associações com os símbolos, situações, objetos, conversas, odores, cenas, cores, locais, pessoas e sentimentos do sonho. É preciso definir quais são as sensações geradas, quais as ideias que surgem com relação a cada detalhe. Na segunda etapa é preciso relacionar o vivenciado no sonho, bem como os personagens, com a vida em si ou conosco mesmo. Um sonho pode tomar emprestado qualquer pessoa do cotidiano para evidenciar algo que está acontecendo dentro de quem sonha. Portanto, o sonho é relacionado ao sonhador e não as pessoas externas contidas no sonho.


Daí a importância de buscar a característica das pessoas do sonho em nós mesmos. Se a atitude do inconsciente parece exagerada, significa, em geral, que o inconsciente está compensando uma posição igualmente desequilibrada e exagerada do ego. Na terceira etapa é preciso analisar o ensinamento, a informação mais importante que o sonho está tentando transmitir. O sonho não gasta nosso tempo para nos dizer o que já sabemos e compreendemos; portanto, deve-se escolher a interpretação que desafia as ideias existentes, em vez daquela que simplesmente repete o que pensamos já saber. Há uma exceção para esta regre: algumas vezes os sonhos transmitem a mesma mensagem básica muitas e muitas vezes, mas nós não a compreendemos e não a colocamos em prática. Nesse caso, o sonho parece repetir algo já conhecido. Mas se assim for, é preciso perguntar porque o sonho precisa ficar repetindo essa mensagem. Se nos pegarmos anotando uma interpretação de sonho que nos faz inchar de vaidade e nos auto-congratular, então não estaremos fazendo uma interpretação adequada. Os sonhos não nos fornecem tais tipos de sinais e não nos induzem a inflar nosso ego. Os sonhos apontam para a tarefa inacabada da nossa vida, mostrando o que devemos encarar primeiro e o que devemos aprender em seguida. Na quarta e última etapa, devemos executar um ritual. O ritual é uma representação física da mudança de atitude interior que o sonho está solicitando; e é este nível de mudança que está sendo requisitado pelo sonho. Os melhores rituais são físicos, solitários e silenciosos: estes são os únicos que são registrados o mais profundamente no inconsciente. Pode-se sempre realizar um ato físico simples, mesmo que não se consiga pensar em alguma coisa relacionada diretamente com o sonho. Pode ser uma caminhada, escrever uma carta para uma parte conflituosa de si mesma, enfim, algo em honra ao seu sonho que possa ser assimilado no inconsciente.
Nos sonhos, os eventos acontecem completamente no nível inconsciente. Na imaginação ativa, os eventos se sucedem em um nível imaginativo que não provém nem do consciente e nem do inconsciente, mas de um ponto de confluência, um solo comum onde ambos se encontram em termos igualitários e juntos criam uma experiencia de vida que combina os elementos de ambos. Quando começamos a praticar regularmente a imaginação ativa, os sonhos diminuem em número, tornam-se mais diretos e concentrados e menos repetitivos. Quando levamos o problema para a imaginação ativa, os sonhos têm menos necessidade de se repetirem. A finalidade principal dessa técnica é proporcionar a comunicação entre o ego e as partes do inconsciente das quais geralmente nos desligamos. Qualquer característica dentro de nós pode ser personalizada e persuadida a se revestir de uma imagem, de modo que possamos interagir com ela. Se sentimos um desequilíbrio, podemos dirigir-nos a imaginação e pedir para que ele se personifique através de uma imagem. É preciso boa vontade em escutar aquela pessoa do nosso inconsciente. Ela não deve tentar nem dominar nem se sobrepor à voz interior, mas dispor-se a deixar-nos falar e aprender com ela. Se sentirmos que estamos falando conosco mesmo, excelente! Se sentirmos que estamos inventando, isto é bom, pois o que quer que invente, será uma das personalidades interiores falando. Quando começamos a ver nossa imaginação pelo que ela realmente é, percebemos que ela reflete o mundo interior do nosso inconsciente com a mesma fidelidade de um perfeito espelho.
É indicado as quatro etapas da imaginação ativa: Primeiramente convidamos o inconsciente. Isso pode ser feito expandindo os sonhos, ou seja, voltamos ao sonho, na imaginação, e travamos um diálogo com os nossos personagens, podendo escolher um especifico, com o qual sentimos necessidade de falar. Podemos efetivamente, continuar o sonho e interagir com ele, prolongando-o na imaginação ativa. Assim já estaremos adentrando na segunda etapa de dialogamos e vivenciamos a experiencia. Na prática, podemos dizer ou fazer tudo o que nos vier à mente e que for apropriado e ético. Podemos perguntar quem é a figura que surge na imaginação, o que ela quer ou deseja falar. É melhor fazer perguntas do que discursar ou começar a manifestar opiniões, poia a atitude básica que devemos mostrar é de disposição para escutar. A imaginação ativa é uma experiência completa que tem início, meio e fim. Como um sonho, geralmente ela começa com a apresentação de um problema; segue-se um período de interação com ele e com os diferentes pontos de vista sobre o assinto e, finalmente, chega-se à resolução do conflito ou do problema. Isso pode durar uma sessão ou pode exigir uma série de sessões que continuam por dias ou mesmo anos. No mínimo, a imaginação ativa é um processo de surpresas, um processo que se entrega ao inesperado. Não fazemos planos nem roteiros. Simplesmente começamos e então deixamos que venha o que vier. O que quer que aflore espontaneamente do inconsciente, sem manipulação, sem controle e sem regras é a matéria-prima da imaginação ativa. Simplesmente começamos e então deixamos que venha o que vier. Muitas vezes precisamos desfigurar a aparência de um personagem externo que assemelha-se a um interno e configurá-lo para não confundir o que está dentro de nós com alguém que está fora. Assim, a figura interior não terá a aparência de um humano externo. Em terceiro acrescentamos o elemento ético dos valores. O equilíbrio ético requer que não deixemos um arquétipo ou uma parte de nós mesmos assumir o controle em detrimento dos outros. Não podemos sacrificar valores essenciais para seguir um impulso ou um objetivo limitado. Em quarto, concretizamos a imaginação ativa pelo ritual físico.
Para finalizar, diz o livro que compreensão do inconsciente é o nível no qual tentamos ativamente trazer do inconsciente as partes desconhecidas de nós mesmos, para integrá-las em nossa atuação consciente. Neste nível tentamos familiarizar-nos com as nossas partes interiores ainda não conhecidas. De tal leitura é isso. Muita luz a todos e progressos constantes!”
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iJOHNSON, Robert A. A chave do reino interior: Sonhos, fantasias e imaginação ativa. Trad.: Dilma Gelli. São Paulo: Editora Mercuryo, 1989.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

E agora?


Ainda antes do almoço, “Alra” foi ao mercado com sua mãe para comprarem a canjica e as velas (Pai Marcos pedira para “Graúda” uma vela branca e outra azul, ambas também de sete dias). No final da tarde mãe e filha seguiram até o terreiro da Mãe “Cenyle”. “Alra” voltou de lá desanimada: verificaram seu orixá de cabeça a partir da data de seu nascimento, ou seja, Xangô. Ela já sabia que esse não era de fato seu orixá por uma confirmação de búzios misteriosa que 'Cristal' fizera junto do marido no dia oito de maio do ano anterior. Além disso, os banhos ficaram por sua conta (para serem feitos em casa) e ela tinha de levar apenas a canjica cozida e duas velas brancas de sete dias ao invés de uma. Como ela levara a canjica crua imaginando que seria marcado um dia especifico ainda durante tal semana, o imaginado não deu em nada e, conclusão, ela teria de esperar passar a época da lua minguante que já estava próxima. Na volta para casa “Alra” comentou com sua mãe que, por mais que gostasse dos princípios culturais da religiosidade africana, houvera saído do abaçá da Mãe “Chefe” exatamente para não querer lidar com toda essa trabalheira de banhos e despesas com oferendas. Além disso ainda lhe foi dito para fazer uma novena para Nossa Senhora Desatadora dos Nós e tomar um banho de descarrego. Sua vontade em tal momento era deixar a umbanda de lado mais uma vez e continuar indo unicamente ao centro espírita Amor à Verdade, o qual era o seu local religioso preferido por trabalhar com desobsessão sem cobrar nem precisar absolutamente nada além da boa vontade da presença da pessoa no local. Por que “Alra” não poderia ser médium num local como tal? Novamente sua lenga permanecia e só o destino, movido pelos sentimentos internos de “Alra”, poderia ditar os próximos fatos.

Aspectos importantes na análise dos sonhos...

Estive recapitulando alguns pontos que aprendi sobre os sonho e gostaria de saber se é isso mesmo: 1. Os sonhos são expressão do nosso inconsciente, o qual se relaciona conosco através de símbolos e imagens, mas muitas vezes dá o recado de forma clara. 2. O outro no sonho pode ser um espelho de uma parte minha. Eu sou eu e posso ser outros personagens. Sentimentos também são projetados no outro. Quando diferenciar se o outro ou se os sentimentos do outro são uma projeção de mim mesma? 3. Mesmo que de forma inconsciente, ou seja, aparentemente não intencional, muitos fatos (ou seriam todos?) são intencionais por algum motivo especifico. A psiquê produz o sonho com nossa participação direta ou indireta. Seria isso? 4. Somos confrontados (pesadelos) para desenvolver mecanismos de defesa melhores ou mais apropriados de enfrentamento da realidade ou de nós mesmos com relação ao que devemos aceitar, aperfeiçoar ou mudar. 5. Conforme superamos nossos conteúdos autônomos (ou seriam os arquétipos), os sonhos vão passando para novas etapas e fases de amadurecimento e individualização do sonhador conforme esse valoriza a linguagem onírica e se comunica com seu próprio inconsciente através dela. Caso contrario, os sonhos ficam se repetindo. 6. Alguns sonhos estão ligados ao inconsciente coletivo. Gostaria de saber mais a respeito disso. 7. Sonhos apresentam nossa sombra, aspectos de nós mesmos que não quereríamos possuir e que por vezes tentamos manter escondidos de nós mesmos. 8. Alguns sonhos são compensatórios enquanto satisfação de desejos ou expressões de pulsões reprimidas. 9. Muito do que sonhamos revela o que fazemos (comportamentos e tendências) ou pensamos (conceitos, preocupações e vontades) enquanto despertos. 10. Alguns sonhos podem estar relacionados com saída astral. O que mais devemos analisar em sonhos quando buscamos sua significação? Respondi-lhe por partes conforme suas dúvidas. Disse-lhe que os sonhos podem ser pessoais ou coletivos. Quando coletivos apresentam conteúdos relacionados ao mundo, mas em geral, os sonhos tendem a ser pessoais e envolvem o sujeito na construção de sua personalidade, na sua forma de se relacionar com o mundo, com as pessoas e consigo mesmo. Podem ser: 1. De simples atualização: Quando o organismo se reorganiza, se reequilibra e se reconfigura favorecendo a relação do individuo com o mundo. 2. Confronto: Quando conceitos construídos e formados por nós interferem de forma prejudicial na funcionalidade, no desenvolvimento e na interação com o mundo e 3. Compensação: Quando o organismo compensa estados ou funções descompensadas por respostas dadas pelo indivíduo. No sonho os sentimentos e emoções são sempre do sonhador, mesmo quando aparecem como provenientes do outro. Neste caso o outro não significa o outro, mas unicamente a representação desse outro no próprio sonhador. Geralmente a intenção dos fatos de um sonho está implícita. A psiquê constrói para e por nós. Somos a consciência e somos o nosso inconsciente. A consciência, em princípio, conhecemos, às vezes negamos, e outras vezes desconhecemos. O inconsciente, desconhecemos sempre, mesmo que possamos aos poucos tomar consciência de conteúdos e conseguir transformá-los com a ordenação da consciência. Por isso, quanto mais assumimos uma postura consciente e verdadeira, tanto menos nos enganamos, ou nos negamos.

Em princípio os sonhos eles envolvem conteúdos arquetípicos que dizem respeito às nossas origens e à história da humanidade. São referencias evolutivas do coletivo, do destino evolutivo, associados à nossa história familiar. A existência nos permite a singularidade da diferenciação do coletivo, mas não nos tira dele. Assim, pensando de forma mais ampla, o sonho é uma linha de conexão com esse universo, com essa dimensão cósmica. É a nossa conexão com o eixo do mundo, portanto, com o coletivo. Na especificidade e singularidade do pessoal, essa conexão se mostra através da memória arquetípica, sempre nos lembrando de que a singularidade não é mais do que uma manifestação única do coletivo, como uma configuração distinta que pode se ampliar de forma inimaginável e abarcar o universo tendo acesso irrestrito através dessa conexão. Por isso não há como dizer que um sonho pessoal não esteja ligado ao inconsciente coletivo, pois ele também é resultado deste coletivo. De forma didática podemos pensar, não esquecendo o essencial, que sonhos de inconsciente coletivo envolvem nosso eixo e nossa conexão com o universo, e que sonhos pessoais dizem respeito à nossa singularidade como indivíduos.
A sombra é arquétipo de um lado primitivo que precisamos reconhecer para transformar. Quando negamos esse lado sombra, em nós, ele se manifesta de forma decisiva. Independente de negarmos ou não ele se manifestará, pois faz parte da nossa natureza, da constituição da matéria, da natureza do universo. É uma natureza que contrapõe a luz e definitivamente polariza “um” outro lado que permite o equilíbrio do universo. Em nós esse arquétipo pode aflorar em sintonia com a intenção do sujeito, ou contrariando a idealização do sujeito que se nega a aceitar esse lado sombrio que precisa ser reconhecido para ser transformado. No nosso tempo a capacidade de idealização do humano cresceu de forma inimaginável, saindo do controle da realidade. As pessoas sem recursos se refugiam na idealização para contrapor a força das sombras, ou por simplismo buscam na idealização de si mesmo a construção de uma personalidade irreal. Essa é uma construção ilusória e inconsistente que é recurso de início de personalização da individualidade, mas que precisa ser descartada, pois é apenas virtual. Como as pessoas se agarram a essa imagem virtual e idealizada elas são como que dissolvidas e confrontadas na fragilidade dessa idealização quando mostram que não são o que elas idealizam. O arquétipo evidencia essa incoerência, essa divisão, essa dissociação entre o idealizado e o que somos na realidade. Mas é também refugio para os que se entregam às sombras, como um buraco negro que acumula o denso e realça a natureza dos opostos.
Os sonhos revelam aquilo que somos na essência, o que sentimos, nossas contradições, incoerências, tendências, inadequações, fragilidades, inconsistências, defesas, dificuldades, bloqueios, potenciais e tudo aquilo que pode funcionar como armadilha desconstruindo o sujeito e tornando-o alguma outra coisa que contraria a grandiosidade de sua existência. Sonhos podem ser premonitórios, conduzir ao passado ou ao futuro e favorecer a conexão com outras dimensões do presente. A relação com o Tempo e com o Espaço se fazem em bases que ultrapassam nossas referências nesta realidade. Significa dizer: é um tempo absoluto e um espaço multidimensional. O tempo pode ser alongado ou encurtado, o espaço pode ser ampliado ou comprimido e a distância pode ser alongada ou encurtada. Do mesmo modo, o corpo, sendo multidimensional assim com o mundo, pode despertar naturezas e características extraordinárias nos sonhos. Saber mais sobre o assunto é como querer desvendar os mistérios da divindade. Somente os próprios sonhos podem conceder isso se tivermos o atrevimento de analisá-los. Por fim disse-lhe que essa é uma busca de conhecimento que precisa paciência e, a título de curiosidade, estamos há 100 anos após as contribuições iniciais de Freud e após 60 anos da morte do magnífico pensador C. G. Jung. Só nos cabe seguir adiante enquanto epígonos.

Sonho (respondido) com alta magia de reencarnação...


Tenho certeza de que tive sonhos muito importantes essa noite, mas só recordo os dois anteriores ao momento do despertar. No primeiro eu lembro só da parte final: eu estava com uma turma e eu cheguei perto de um rapaz, abracei-o na cintura e disse que gostava muito dele como se ele fosse um irmão para mim. Como era amiga da namorada dele, sabia que ela não ia ficar com ciumes por conhecer minha índole moral. Não sei por que eu falei isso, mas sei que teve um motivo específico além do fato de realmente gostar dele: era como se eu não estivesse disposta a acatar seus concelhos ou algo assim. Era como se alguma coisa entre nós pudesse ameaçar nossa amizade (se acaso ele achasse ruim), algo que eu não desejava. É uma pena eu não lembrar sobre o que eu conversava anteriormente com ele e os demais do grupo. No que saímos caminhando, esse rapaz subiu no passeio (que era muito irregular) e eu o acompanhei. Estávamos indo para a rodoviária, pois eu ia viajar com minha mãe que houvera ficado hospedada num hotel. No meio do caminho, eu e ele encontramos umas pedras preciosas e cristais no meio de um monte de terra. Havia vários tipos de pedras com cores e tamanhos diferentes, mas todas de formato redondo a ovalar. A turma seguiu adiante. Ele catou algumas pedrinhas, mas eu queria catar tudo. Também havia umas sacolas com vários sabonetes, shampoos, condicionadores e demais coisas que eu também queria. Pedi-o para me ajudar a pegar as pedrinhas, mas ele não me ajudou como se eu estivesse exagerando em querer tudo (essa foi a minha impressão). Meu encanto era grande. Outra vez um sonho donde estou sendo agraciada com produtos de beleza.
No segundo sonho, muito intrigante e bom, eu estava num local de umbanda e preparavam um ritual de alta magia. Haviam algumas moças conhecidas e uma senhora que conheço como 'Mãe Iara'. Havia uma espécie de altar (do tamanho de uma cama) encostado numa quina da parede e lá haviam duas espadas uma atrás da outra e alguns outros materiais formando um quase simbolo, mas não lembro detalhadamente. Enquanto remexiam com aquilo (eu estava em cima de um banco observando da porta principal da cozinha), um homem perto de mim (não sei se incorporado ou não) observava um prato com uma espécie de melado e ali ele via o futuro de uma criança, dizendo que ela seria muito abençoada. Creio que ainda estivessem preparando-o para o reencarne. Eu sabia, não sei como, que seria um menino, e pensava que a mãe poderia até ser eu (muitos detalhes não eram revelados) e, se não fosse eu, se também teria toda aquela preparação quando fosse ter meu futuro filho. Aquele local (pequeno e escondido por sinal) me era conhecido, pois chegou um casal atrasado que foi fazer uma oferenda direto no quarto dos orixás: eu tanto sabia onde ficava, quanto como era lá. Entretanto, na vida real, desconheço esse lugar. Estranhei ninguém barrar a entrada dos dois, uma vez que não deveria ser feito nenhum tipo de entrega enquanto estivesse ocorrendo aquele trabalho principal com as entidades junto ao altar, a menos que fosse trato com algum exu, mas eu notei que não era, pois se fosse, eles teriam ido para o quarto específico dos mesmos. Eu vi que para lá eles não haviam ido, pois para lá chegarem teriam que ter passado pelo interior da cozinha através das duas portas laterais dos fundos. Como minha hierarquia era inferior, ignorei o fato apesar da curiosidade e do estranhamento.
Eu me sentia muito bem ali, mas sabia que talvez devesse estar atuando também, mesmo que fosse enquanto ajudante como as outras jovens. Nisso duas delas acabaram o serviço e sentaram-se perguntando o que mais poderiam ou tinham para fazer. Eu aproximei-me da 'Mãe Iara', que segurava umas fatias de pão de forma (e talvez mais alguma coisa que não recordo), e comentei que ficar só olhando era muito bom, mas só de pensar em trabalhar eu já me sentia cansada. Ela também ficava só observando, pois pela idade pouco conseguia fazer além de coordenar. Ela riu e perguntou para as jovens se elas estavam cansadas. A resposta foi não seguida do comentário de que ficar só olhando é que deveria ser cansativo. Eu não me importava de não estar participando, pois sabia o quanto aquilo era trabalhoso, minucioso e de quanta responsabilidade, energia e comprometimento tinha de se dispor. Ao sair do local, encantei-me com uma trepadeira enorme que estava cheia de um frutos parecidos com tomates verdes ainda de tamanho médio. Eu sabia que não era tomate e fiquei curiosa indagando-me que frutinha seria aquela. Toquei numa e notei que ela era levemente mole. Quando voltei a caminhar eu escutei, como se fosse por telepatia, a 'Mãe Iara' dizer: 'Eu não falei que ela era filha de Omolu? A principio ela pode parecer filha de qualquer outro orixá, mas o cansaço dela é típico de Omolu'. E eu, caminhando com a dúvida de não saber qual era meu real orixá, por ainda não ter passado pela feitura (espécie de batismo), fiquei a me questionar se seria mesmo filha de Omolu, pois tal opção não me agradava muito. Não sei por que, mas adoro sonhar com essas coisas misticas-religiosas. Eu me sinto muito familiarizada em sonhos do gênero, mesmo que esteja neles apenas como espectadora. O que isso pode representar?”


Respondi-lhe que seu primeiro sonho pareceu-me uma recorrência de sua forte ligação com os objetos que são foco de seu interesse. Apareceu no sonho a compulsão possessiva, ou seja, o comportamento de querer tomar posse daquilo que desperta o interesse. Junto a isso também verifiquei a dificuldade de escolher, ou seja, tudo deseja, tudo acolhe e tudo possui porque não consegue abrir mão do desnecessário, do excesso. Isso demonstra o impulso para suprir a carência, o vazio, o buraco impreenchível da falta. Sua rigidez moral também apresenta-se como mediadora de sua relação ética com o mundo, não impedindo os desejos, a atitude de sedução ou a cobiça inconsciente do namorado da amiga. Mesmo que a intenção moral prevaleça, a segunda intenção parece estar implícita no contexto, ainda que protegida na indicação de irmandade da relação homem e mulher. As relações sociais afetivas muitas vezes escondem desejos secretos moralmente inomináveis, mas que realizam intenções subliminares nem sempre aceitáveis.
As pedras preciosas simbolizam a transmutação do opaco para a transparência, das trevas para a luz, do incompleto para o completo. Quando enveredamos nesta jornada nos descobrimos pedra bruta e com o trabalho de lapidação podemos nos transformar na pedra preciosa. Mas esse trabalho de lapidar nos exige renúncia, desapego, compaixão, purificação, maturação e preparação. Não é pouco! Somos frágeis, delicados, despreparados, entre outros detalhes, e a preparação significa o fortalecimento da alma para poder vislumbrar a força da luz divina. Esse fortalecimento como a lapidação, aumenta a nossa resistência ao sofrimento, aos desafios, às provações, aos confrontos e quando amadurecemos ficamos preparados para “ver” o indivisível sem sucumbir à força do seu brilho. Indiquei “Alra” a trabalhar o desapego, aprender a solidão, fortalecer o espírito, consolidar a paciência, renunciar à insignificância, ao encantamento, ao apego, etc. De qualquer forma, ficou visível que mudanças estavam ocorrendo na sua relação com o masculino, pois começara a aflorar os caprichos, desejos, seduções, manipulações e intenções escondidas e mascaradas pelos bloqueios que existiam e que impediam o desenvolvimento dessa relação e a visibilidade desses conteúdos.
O segundo sonho é bem interessante! A mensagem pode ser o que anuncia. Vem do seu interior e afirma que ela é filha de Omolu, um orixá africano cultuado nas religiões afro brasileiras que simboliza o Senhor da Morte, uma vez que é o responsável pela passagem dos espíritos do plano material para o espiritual. Seus filhos são sérios, quietos, calados, alegres de vez em quando, ingênuos demais, porém espertos, observadores e um tanto teimoso. Seus filhos agem como pessoas muito idosas, são lentos e tem hábitos de pessoas muito velhas, podendo inclusive ter muitos problemas de saúde. Se considerarmos a representação: Na umbanda, a mulher de Omolu tem temperamento forte, não aceita nunca um companheiro que a domine e busca um homem à sua altura. Gosta de homens altos, fortes, inteligentes e com vigor sexual. Discreta, nunca será a primeira a atacar. Observa bem, antes de se aproximar de quem lhe interessa e, quando se apaixona, deixa transparecer todo o seu ciúme. É do tipo de mulher que procura combater quem quer seduzir seu parceiro. É possessiva. Se o parceiro compreender isso, terá ao seu lado uma grande mulher, uma parceira sexualmente ativa. Pudemos concluir que para ser filha de Omolu, “Alra” precisava romper com o papel de mulher submissa que habituara a ter. Neste caso a mensagem estaria fazendo uma referência à necessidade de mudança de postura na sua relação com o mundo e com os homens. Assim o sonho lhe indicava sobre a importância de tomar atitudes, fazer escolhas, buscar o homem que interessa, se aproximar e conquistar o sexo oposto como mulher forte e dominadora, abandonando o papel de submissa e pobre coitada.
O sonho também pode ser indicação de que o processo de aprimoramento exige que ela seja intercessora ou mediadora entre o mundo espiritual e material. A Mãe “Iara” pareceu-me arquetípica enquanto imagem da Mãe Divina, a qual acolhe, protege e encaminha. Se considerarmos sua fala como desafio, provocação, neste caso ela chamaria a atenção de “Alra” para o seu cansaço ou a forma malemolente de ser, ou o velho espírito que carrega e que arrasta. A religiosidade é fator de equilíbrio na vida de um a pessoa, ela pode favorecer e definir uma forma harmoniosa de conexão e relação com o mundo, com o divino; tanto quanto aprisionar, quando utilizada como instrumento de manipulação para oportunistas. Os próximos sonhos provavelmente lhe diriam mais sobre o assunto.

COLABORAÇÃO ESPECIAL: M. EDUARDO
APOIO: A_LINGUAGEM_DOS_SONHOS

sábado, 26 de junho de 2010

Bolo de fubá da vovozinha...

Um contém soja torrada e outro não...

Mensagens de hoje

Nem com milhões de moedas de ouro se pode recuperar um só instante da vida.Que maior perda, então, do que a do tempo desperdiçado?
(Chanakya Pandita)
SOLTE A PANELA
Certa vez, um urso faminto perambulava pela floresta em busca de alimento.
A época era de escassez, porém, seu faro aguçado sentiu o cheiro de comida e o conduziu a um acampamento de caçadores.
Ao chegar lá, o urso, percebendo que o acampamento estava vazio, foi até a fogueira, ardendo em brasas, e dela tirou um panelão de comida.
Quando a tina já estava fora da fogueira, o urso a abraçou com toda sua força e enfiou a cabeça dentro dela, devorando tudo.
Enquanto abraçava a panela, começou a perceber algo lhe atingindo.
Na verdade, era o calor da tina...
Ele estava sendo queimado nas patas, no peito e por onde mais a panela encostava.
O urso nunca havia experimentado aquela sensação e, então, interpretou as queimaduras pelo seu corpo como uma coisa que queria lhe tirar a comida...
Começou a urrar muito alto. e, quanto mais alto rugia, mais apertava a panela quente contra seu imenso corpo.
Quanto mais a tina quente lhe queimava, mais ele apertava contra o seu corpo e mais alto ainda rugia.
Quando os caçadores chegaram ao acampamento, encontraram o urso recostado a uma árvore próxima à fogueira, segurando a tina de comida.
O urso tinha tantas queimaduras que o fizeram grudar na panela e, seu imenso corpo, mesmo morto, ainda mantinha a expressão de estar rugindo.
Quando terminei de ouvir esta história de um mestre, percebi que, em nossa vida, por muitas vezes, abraçamos certas coisas que julgamos ser importantes.
Algumas delas nos fazem gemer de dor, nos queimam por fora e por dentro, e mesmo assim, ainda as julgamos importantes.
Temos medo de abandoná-las e esse medo nos coloca numa situação de sofrimento, de desespero. Apertamos essas coisas contra nossos corações e terminamos derrotados por algo que protegemos, acreditamos e defendemos.
Para que tudo dê certo em sua vida, é necessário reconhecer, em certos momentos, que nem sempre o que parece salvação vai lhe dar condições de prosseguir.
Tenha a coragem e a visão que o urso não teve, solte a panela...

frase de hoje


sexta-feira, 25 de junho de 2010

Nova revelação... no que crer?

Às seis horas da tarde, “Alra” e sua mãe foram caminhando a um centro espírita chamado Casa de Amparo Nosso Lar. Inicialmente “Alra” sentiu-se mal, bocejou muito e só melhorou quando a palestra terminou e iniciaram os cantos. Como gostava bastante de cantar, isso pareceu melhorar seu estado estranho. Ao ser atendida pela médium incorporada, esta falou coisas que deixou “Alra” encucada. Ela disse que “Alra” não precisava temer, pois se coisas ruins lhe haviam acontecido antes, agora ela já era adulta, sabia dizer não e se defender. Exatamente sobre o quê ela estaria dizendo? “Alra” não soube responder. Ela também falou que “Alra” tinha uma missão de resgatar os débitos do passado, que ela tinha uma força muito grande da qual não sabia se era um tipo de mediunidade, deixando em aberto um convite para que “Alra” fosse participar do grupo de estudos da casa nas quartas-feiras para poder esclarecer melhor as suas dúvidas. Sobre não estar empregada, ela disse que “Alra” era inteligente e tinha muito a contribuir, que precisava sair mais, pois só assim poderia se interessar por algo a ponto de querer um trabalho. Nisso ela marcou vinte seções de desobsessão e vinte de leito. Que dilema: em cada local que ia “Alra” escutava algo diferente. Só mesmo o tempo e a vida poderiam lhe trazer as respostas e os fatos precisos para desvendar tantos mistérios. E assim, seu dia esvaiu-se.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Vários Sonho Respondidos...


Logo pela manhã “Mariposa” foi levada para a casa de “Alra”, pois estava nos dias de “Graúda” cuidar dela. Uma vez tendo sido acordada antes do desejado, “Alra” aproveitou para relatar-me seus sonhos: “Sonhei que havia uma moça indígena que dormia um sono gostoso quando sua mãe foi acordá-la. A irmã dela também estava na cena e havia uma outra jovem que pareceu ser uma colega minha da época de faculdade. Nisso essa colega comentou do cabelo da jovem que dormia e a mãe dela ajeitou-lhe a volumosa cabeleira lisa, preta, bela e muito comprida, tanto que arrastava pela cama abaixo (devia ter uns três metros). Fiquei impressionada. Minha antiga colega tirou várias fotos e perguntei se ela ia colocar no orkut, pois assim eu poderia posteriormente conseguir cópias das fotos. Ela disse que sim e essa parte do sonho ficou nisso. Depois sonhei que havia um rapaz e falaram-me que ele estava interessado em mim. Aproximei-me dele, mas ele não demonstrou nada. Ele fazia umas bolachas de forno moldando-as numa pia de mármore, mas a massa estava grudando. Então falei que minha avó fazia daquela mesma bolacha, mas colocava na fôrma de maneira diferente. Expliquei que ela deixava a massa mais mole e colocava na fôrma com uma colher e nem fazia diferença depois de assada, pois a massa mais mole esparramava com o calor e a bolacha ficava fina e redonda como se houvesse sido achatada conforme ele estava fazendo. Ao deixá-lo na cozinha terminando de fazer as bolachas, saí para a área e comentei com uma amiga que ele não estava afim de mim como todos haviam suposto. Ela comentou que talvez ele estivesse tímido. Respondi: 'Só se ele nunca se relacionou com mulher alguma'. Ela opinou que eu devia me declarar, mas eu não estava tão interessada nele a ponto disso. Fiquei a lembrar de mim mesma antes de perder a virgindade: eu interessava, mas não demonstrava e ainda fugia por vergonha e medo da minha inexperiência. Acho que até hoje ainda sou um pouco assim e, por isso, creio que este é mais um daqueles sonhos projetivos, estou certa?”
***
“Sonhei que estava em casa com minha mãe e avó quando o fogo do fogão começou a ficar muito grande e não apagava. Havia uns pneus de bicicleta em baixo e fiquei com medo deles pegarem fogo. Pedi ajuda para minha mãe, mas ela e minha avó pareciam não estar nem aí. Tive de jogar água no fogo e com custo ele se apagou depois de uma explosão rápida que fez a chama azul ficar alaranjada e subir quase até o teto. Esse sonho parece um contraste daquele sonho passado donde o gás acabou. Será que isso significa energia em excesso? Se for, faz sentido, pois ultimamente ando bastante agitada. Fui para a sala e sentei no sofá ao lado do meu pai já idoso. Eu estava receosa dele querer relações sexuais comigo. Intrigante que, dentro do sonho, eu já houvera tido muitas relações com ele por vontade própria (e inclusive lembrava das mesmas como se elas houvessem sido sonhos anteriores), mas eu não queria mais tal envolvimento e intimidade incestuosa. Era como se eu me sentisse culpada por trair minha própria mãe e como se estivesse cometendo o maior pecado do mundo. Nisso ele se levantou e notei que o sofá e as almofadas estavam sujas de fezes mole. Ele foi se lavar reclamando do fato de não ter conseguido segurar as fezes outra vez (na vida real isso costuma acontecer com minha avó). Isso simboliza um permanente Complexo de Édipo (ou Complexo de Electa como chamam alguns para o caso feminino)?
Também me levantei e fui para um local que era uma escola de idiomas enorme (eu não estudava nela, mas já houvera estudado quando era num outro local menor). Lá tinha uma parte, depois da lanchonete, com exposição de artes culturais e embora não lembre direito, fui participar de uma atividade donde tive que tirar o chinelo. Quando fui calçá-lo outra vez, ele estava rebentado como se alguém o houvesse estragado. Quis ficar com outro chinelo, pois muitos daqueles pares pareciam abandonados e me via no direito de querer aquilo que me haviam estragado, mas alguém não me deixou fazer isso e tive que ficar descalça. Ao sair tomei uma espécie de trem que andava muito rápido, mas nisso ocorreu uma colisão de vários caminhões bem na linha dele, logo a frente. O motorista acenou com os faróis e a buzina tentando fazer os caminhões colididos saírem do local. Os dois primeiros que haviam chocado de frente, depois de algum tempo (eu já estava super agoniada querendo sair do trem que não parava) conseguiram sair do local, mas depois deles haviam muitas peças soltas e tudo parecia prestes a explodir. Então o motorista do trem conseguiu frear o enorme vagão e dar marcha ré. Impedida de seguir adiante, desci com mais alguém e após caminharmos um pouco, parei numa casa na intenção de pedir um chinelo velho. Por sorte, quando aproximei-me para tocar a campainha, lá estava um vendedor de chinelos e mostrou-me vários na intenção de fazer a caridade de doar-me um par. Uma jovem (talvez dona da casa) experimentou uma blusa (creio que na intenção de comprá-la) e, ao pedir minha opinião, fui franca dizendo que a blusa era muito bonita. Pensei comigo mesma o quanto seria bom se eu pudesse ganhar uma roupa também. Sentia-me quase uma mendiga.
Nisso apareceu um rapaz e numa atração muito forte (não lembro se conversamos primeiro ou se já eramos conhecidos) nós nos beijamos. Ele já estava indo embora quando chamei-o outra vez. Nessa parte eu estava sentada na calçada como se de fato fosse uma mendiga. Ele voltou para perto de mim e perguntei quando ia vê-lo novamente. Ele relatou-me uma série de afazeres e prometeu um reencontro não deixando nada preestabelecido. Senti-me nas mãos dele e tive pena de mim mesma por conta disso, como se eu tivesse sempre de esperar a boa vontade alheia de me querer ou de gostar de mim. Isso parece uma recorrência de minha natural e fortíssima vontade de encontrar um príncipe encantado que me tire da condição de pobre donzela borralheira. Será que algum dia me desvencilharei disso?
Não sei se nessa sequência exata, fiquei hospedada na casa de alguém donde eu tinha de ajudar a fazer uma especie de ritual ou macumba que era feita diariamente antes do sol nascer. Acho que era para um bebê crescer forte ou ficar saudável, mas não tenho certeza. Lembro que eu houvera pego os materiais (eram sempre os mesmos) e nisso tive que retornar para buscar um tomate bem maduro que eu houvera esquecido. Eu parecia bem envolvida naquilo como se tivesse prática para tal, mesmo sendo eu apenas uma ajudante. Sentia como se além da ajuda em si eu estivesse contribuindo com minha própria energia. Eu me sentia útil, consciente do que fazia e isso era muito bom. Logo depois eu estava com uma jovem que segurava uma criança com pouco mais de um ano, mas ela teve de fazer algo e deixou a mesma comigo. Era uma criança tão esperta que parecia um adulto. Nisso ele se transformou num gato que parecia gente e inclusive estava segurando uma xícara com café do qual bebia. Esse gato me cheirou e com sua pata segurando em minha mão, puxou-me para um canto isolado. Lá ele se transformou numa mulher e ela pareceu-se muito interessada em mim, mas não recordo direito o que conversamos. Eu me sentia muito a vontade e de certa forma até mesmo agraciada. A mulher voltou primeiro para o local anterior e demorei para retornar, pois queria prender o cabelo e o prendedor não fechava. Quando lá cheguei, a jovem que segurava o bebê perguntou se eu gostava de beijar e respondi que sim, dizendo que inclusive beijaria uma outra mulher por questão de curiosidade.
Saí com essas duas jovens e entramos num local dançante. Eu não lembro do que se passou por lá, mas ao sair perdemos o primeiro ônibus. Quando passou o segundo ela entrou, mas eu não consegui entrar nele também (não recordo por qual motivo, parece que eu perdera minha carteira). Logo em seguida a jovem que pegara o ônibus apareceu dizendo que descera no primeiro ponto e retornara, pois eu não sabia voltar sozinha para casa e, portanto, ela não poderia me deixar para trás. Isso fez-me crer que ela realmente era confiável. Nisso a outra mulher apareceu e querendo acertar as contas falou que minha despesa tinha ficado em quarenta e cinco reais. Achei muito caro, mas nisso outro ônibus veio e não tive como analisar os gastos direito. Sentei ao lado de um jovem que também havia estado no local. Comentei com ele que não gostava de dividir despesas, mas sim de pagar unicamente a minha própria despesa. Falei sobre uma viagem que fizera com uma amiga e a raiva que passara pelo fato dela impor a divisão de todas as despesas, mesmo àquelas donde ela gastava mais do que eu (isso é um fato real que me aconteceu). Perguntei para ele o valor da entrada no local dançante e ele respondeu que era quarenta reais. Então aceitei melhor o valor que me fora cobrado, pois embora continuasse achando caro, sabia que ninguém houvera me explorado ou me trapaceado.
Quando desci do ônibus com esse jovem, ele me levou para assistir um filme sobre seu futuro, o qual havia sido feito baseado em fatos reais ainda não acontecidos, mas revelados por um médium vidente de bastante prestigio. No filme esse jovem havia se tornado uma pessoa de grande importância em questão de trabalhos caritativos e possuía vários dons, dentre eles o de cura que era o mais utilizado. Fiquei impressionada e até mesmo com uma ponta de inveja. Eu adoraria que algo do gênero (uma revelação de um bom futuro, principalmente ligado a trabalhos de cunho religioso) me acontecesse também. Por fim eu estava perto de casa quando vi um avião caindo nas proximidades. Uma multidão de pessoas começaram a correr e fiquei sem saber se corria também ou se ia para casa (na direção contraria da multidão) avisar quem lá estava sobre a tragédia e o provável perigo de uma explosão alastradora. Nisso fui me sentindo em minha cama (como se eu houvesse voltado para casa instantaneamente apenas com o pensamento de para ela voltar) e acordei assustada pensando se algum avião teria acabado de cair por perto. Com certo custo dei-me conta de que estava apenas sonhando e voltei a dormir. Não tenho certeza se os sonhos foram nessa ordem, mas fui escrevendo conforme lembrei. Foi uma noite muito longa. Qual a significância desses sonhos?”
Inicialmente respondi-lhe que conteúdos autônomos quando existem podem ser dissolvidos, acrescidos, transformados ou metamorfoseados.
Sabe-se que algum acontecimento pode gerá-los e que nova configuração mental, comportamento ou escolhas os dissolvem. Quando isso acontece penso que eles são responsáveis por um uma mudança de nível da consciência, para mais, produzindo uma transformação de consciência, um estado mental mais blindado, mais consiste
nte, mais amadurecido.
Quando digo mais blindado penso num estado mental, configurado de uma forma que aumenta o limiar de resistência das funções mentais. O aumento dessa resistência faz com que o individuo fique menos suscetível ao impacto dos estímulos externos, o sujeito fica mais diferenciado do meio, portanto mais protegido de reações intempestivas, passionais, pulsionais, Mais protegido porque não responde reativamente a acontecimentos externos o que lhe favorece nas respostas ao meio e à obtenção de mais sucessos em suas intervenções, além naturalmente, de proteger-lhe evitando a perda do controle em decorrência de estímulos ou ações em que poderia sucumbir.
Um pequeno exemplo: Num embate emocional entre indivíduos passionais, eles podem ser tomados por impulsos reativos respondendo de forma destrutiva e até aniquiladora. Abandonam o embate formal, simbólico, nas palavras e partem para agressões físicas. A força física pode ser mobilizada em nível profundo de Ira, o que significará a perda do controle e a ação destrutiva do ódio descontrolado. Os crimes passionais se incluem neste estágio. O individuo se acha no direito de aniquilar o outro. Mata-se até em nome do “Amor”. Neste caso conteúdos autônomos podem assumir o controle do individuo levando-o a responder de forma parcial, caprichosa, passional, pulsional, impulsiva, sem medir as consequências da resposta.
Se o individuo for diferenciado, estará consciente de sua dignidade e não responderá com o amor próprio ameaçado. Evitará o comportamento descontrolado. Respeitará diferenças, escolhas e a
ceitará o “não”, sem precisar matar fisicamente o outro.
Como dizia, os conteúdos podem ser dissolvidos e integrados à consciência. Quando não são considerados, eles podem crescer e ocupar indevidamente espaços vazios, vagalhões, ausência, instabilidades, brechas deixadas pela falta de linearidade da consciência e invadi-la, ocupando indevidamente estas brechas.
Sabemos que a consciência não é linear. Ela não é Contínua. As pessoas tentam produzir uma continuidade, se aprisionando num espaço limitado e controlável que não passa de ilusão.
Tentam fazer isso através do pensamento ou do controle prévio dos acontecimentos ou do exterior. Pura ilusão! A consciência é descontínua, funciona como ONDAS. E nos Vácuos, o inconsciente pode prevalecer.
Eu acredito que quando passamos a considerar o mundo interior e a reordená-lo, produzimos uma nova configuração, pois estabelecemos uma nova forma de funcionar interferindo na ordenação disciplinada através da consciência. Desta forma estabelecemos novas dinâmicas de funcionamento psíquico, inclusive o nível vibracional de nossas ondas mentais. Estes novos níveis podem alterar polaridades energéticas, e até o campo eletromagnético do cérebro, gerando como consequência a dissolução de conteúdos autônomos que se organizavam como estados subliminares de consciência e fragmentos de egos, com o poder de interferir, comandar e ocupar a consciência.

Sobre o sonho em si, disse-lhe que os cabelos representam uma manifestação energética. A grande cabeleira simboliza forças superiores: enquanto cortar cabelo é renúncia, vê-los grandes ou crescê-los significa acúmulo de poder. Nessa modernidade, a representação avança para a vaidade, como símbolo de beleza e saúde, sexualidade, poder atrativo feminino e acessório de sedução. O cabelo envolve sua vaidade e seu foco de atenção voltado para a sedução. Pareceu-me que esse potencial de sedução está ligado ao elevado nível de carência e ainda de baixa-estima, tanto que a concentração de atenção só aparece quando há a indicação de alguém que se interessa por ela.
Ficou claro que a seletividade dos filtros de escolha de “Alra”, os estímulos que definem o foco de seu interesse, é o interesse alheio sobre ela mesma. Neste aspecto “Alra” se torna presa fácil daqueles que percebem sua fragilidade. Ela só escolhe quando é escolhida. Naturalmente este detalhe pode ser uma forma de se proteger, de se comprometer menos com sua escolha ou de ter que enfrentar a rejeição. Quando escolhida ela evitar a rejeição, pois se o outro a escolhe ela pode se fazer de fácil ou de difícil, sem precisar expor sua insegurança ou seu desencanto e inferioridade. Disse-lhe que é preciso superar esse orgulho, esse falso amor próprio que a blinda numa redoma, como uma princesa à espera de um príncipe que descubra sua beleza. Ela precisa romper com esses paradigmas, enfrentar a rejeição, superar essa idealização de perfeição e cair na vida. Desta forma, ou seja, se arriscando, encontrará muitos que não a desejarão, mas também terá outros que a experimentarão e, assim, ela se permitirá a chance de alguém se apaixonar pelo seu sabor. No passado, as escolhas podiam ser feitas à distância, mas hoje se fazem no encontro próximo. O amor, nas relações modernas, se faz assim: precisamos nos permitir a chance de experimentá-lo para saboreá-lo. Sair da idealização da romântica aprisionada na torre de marfim. Neste aspecto, para descobrir o sagrado é preciso viver o profano. Dar a cara à tapa e perceber na prática que ser rejeitada pelo outro nada mais é do que o direito do outro de escolher aquele que mais se aproxima de sua fantasia ou do seu sonho de prazer. “Alra” precisa romper com o padrão de ser um mito de si mesma.



Respondi que seu pensamento era mágico, sua auto-estima mostrava-se em equilíbrio, sua parte adulta estava a cuidar da infantil que cresce e promove a metamorfose em gato. Pareceu-me que o sonho envolve a sua relação com o coletivo e os desafios que, como todos, tem que enfrentar. Aparece a curiosidade de beijar mulher, possivelmente pela identificação e pela dificuldade de relacionar-se com a figura masculina. À medida que os homens não realizam as expectativas e não satisfaz a necessidade de construção de um relacionamento consistente, “Alra” como que é empurrada para o relacionamento com o feminino que favorece a facilidade a partir da identidade de natureza. Mesmo que a autoestima favoreça esse envolvimento, e a curiosidade possa ser satisfeita, o medo e os bloqueios a impedem. No inicio do sonho ficou claro a proeminência do pensamento mágico pela descrição “espécie de ritual ou macumba que era feita diariamente antes do sol nascer. Acho que era para um bebê crescer forte ou ficar saudável”, ou é possível que a indicação desse caminho ritualístico seja sinal de desenvolvimento e crescimento para se libertar da conturbação que se segue e que pode espelhar a vida de “Alra”. O gato, já foi visto, parece ser um espelho pessoal, pela mansidão, oportunismo, e por ser felino. Mas também indica movimentos de metamorfose de sua energética. Podem também sinalizar para o caminho de circular no cenário humano de forma mais sutil, já que a rigidez favorece o encontro de resistência e confrontos. “Alra” continua suscetível à sedução e é seduzível, o que indica riscos. Indiquei-lhe a ficar no caminho do meio, nem tão defensiva e nem tão seduzível, mas silenciosa como um felino.
Alertei-a sobre a necessidade de ficar atenta para suas relações de troca e com o dinheiro. Ela sempre aparece tendo dificuldade em gastar, ou pagar. Nesta vida poucos são os miseráveis que prosperam sem aprender a compartilhar e a trocar, pois estas são formas de comungar afeto, e mesmo que essa sociedade materialista e egocentrada conduzam as pessoas à possessividade material e ao acúmulo, o exercício da comunhão abre as portas para que penetremos no fluxo do rio da prosperidade, enquanto que os miseráveis, ainda que acumulem bens materiais, se tornam pobres e espiritualmente refratários. “Alra” preciso articular bem os seus propósitos para superar as carências e romper com os obstáculos que impedem sua prosperidade. O sonho também indica conflito entre dois caminho a serem seguidos: espiritualidade e anseio material. O avião simboliza cair na real e essa, dentre as demais, é uma das mensagens do sonho.
COLABORAÇÃO ESPECIAL: M. EDUARDO
APOIO: A_LINGUAGEM_DOS_SONHOS