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domingo, 13 de junho de 2010

Sonho (respondido) com podridão...

Durante à noite, depois de um custo para conciliar o sono com seu nariz entupido, “Alra” teve a seguinte sequencia de sonhos: “Sonhei que estava num recanto ao lado (ou aos fundos) do que parecia ser uma oficina de conserto de algo (não tenho certeza disso). Eu fechei o portão de ferro enferrujado e tentei encontrar alguma manga das que estavam caídas no chão, mas elas já estavam em processo de apodrecimento. Eram mangas da casca amarelada. Nisso, ainda agachada procurando uma manga boa, vi que havia alguém me olhando por baixo do portão. Peguei uma das mangas meia podre (não havia nenhuma boa) e joguei na direção como se dissesse 'quer manga, tome isso'. Como notei que a pessoa não saiu de trás do portão, ou seja, não parou de espiar-me nem com a manga podre que lhe joguei, fui na direção do portão e abri-o constatando que ali estava apenas uma cabeça e, embora pareça absurdo, ela parecia viva, mesmo que também em estado de apodrecimento. Fiquei um tanto com medo, mas pensei comigo que apenas uma cabeça não me faria mal algum e com um misto de revolta chutei-a varias vezes torcendo para que a alma dela nunca me encontrasse. Desprezei aquela cabeça com raiva. Depois eu já estava num local donde houvera tido um acidente e, embora não tenha visto, tive a impressão de que alguém, talvez uma criança, morrera atropelada. Havia uma mulher chorando muito e uma multidão de curiosos. Embora tranquila por não ter ligação direta com a cena, fiquei chocada pela dor que o momento e o fato expunham. Por fim, pouco antes de acordar, sonhei que ia escrever algo no computador quando abri uma propaganda de dança do ventre ou de artigos para tal. Varias moças apresentaram dançando em imagens rápidas e dentre as belas roupas e adereços, fiquei atraída por uma de veludo estampado em tom verde musgo com pedrarias grandes. Para mim todas as roupas eram lindíssimas e foquei na verde porque ela combinava com a decoração do local e havia um tapete cuja estampa tinha daquela mesma tonalidade de cor. Essas são as pequenas lembranças que tive dessa noite”.


Para responder-la lembrei de uma passagem de Gênesis 3:19 que diz: “No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás”. Os sonhos, por vezes, nos permitem traduzi-los numa mensagem além de sua possível significação, a qual se referencia em critérios ultrapassados do formal. Tal sonho, por exemplo, demonstra que a dinâmica de expansão do universo nos coloca num sistema inexorável e impermanente. Essa dinâmica é divinamente anunciada pela religião e contextualizado cientificamente por Lavoisier que enunciou o princípio de conservação da matéria: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. No sonho “Alra” está defronte à matéria orgânica em transformação, não apenas uma fruta ou uma cabeça, mas o que ela própria é, ou seja, matéria e espírito em transformação permanente. O desprezo e a raiva é oriunda da negação deste destino trágico da matéria a que todos nós seres humanos estamos submetidos. Somos finitos, nascemos, vivemos e seremos, quando não pulverizados, transformados. Se não nos transformamos naquilo que desejamos ou sonhamos, se não nos aprimorarmos, dia chegará em que a transformação definitiva finalizará aquilo que ansiamos conservar. Independente de aprimorarmos o que somos ou não enquanto vivos, a morte será definitiva para todos. Entretanto, ao nos aprimorarmos temos mais chances de realizarmos uma jornada de vida mais harmoniosa, ou mais realizada, consistente e construída em bases e princípios universais. Se não nos aprimoramos, escolhemos a negação da impermanência, contrariamos os princípios de expansão do universo, sintonizamos o principio da retração, ficamos prisioneiros da negação, do retrocesso, da energia densa e bruta. Portanto, aconselhei-a de eliminar os excessos como o controle presunçoso; a arrogância; a petulância do egocentrismo; a raiva do desespero; os medos; as ansiedades; o domínio; enfim, todo o excesso que pudesse estar sobre seus ombros.
“Alra” precisava purificar seu coração, sua mente, seus pensamentos e sentimentos. Ela carecia praticar aos outros aquilo que gostaria de receber do mundo. O sonho revelava a sua forma de responder à essa dinâmica, profanando o sagrado por estar morto e acabado, ou sacralizando o profano com o simplismo dos descompromissados. Quando se defronta com a cabeça, a desconsidera como representação de uma vida, de uma história, mas ao ver a mulher sofrida, se condói, pois consegue enxergar a dor da perda. Então é capaz, a partir do lamento, de abstrair e compreender o sofrimento, mas deixa de perceber o sofrimento quando há silêncio na dor. Ou seja, sua visão só se completa quando associada ao lamento sonoro. Em leitura anterior percebera sinal de que “Alra” fosse mobilizada pela visão. O inconsciente, através de tal sonho, mostra que a audição é seu foco seletivo, pois o estimulo sonoro mobiliza sua compaixão e seus pensamentos de forma imperativa. É necessário que ela passe a pontuar seu pensamento para despertar outros sentidos e emoções. Não podemos esquecer que os sons são imagens ou evocam imagens, tanto quanto imagens evocam sons. Sem dúvida era uma boa hora dela rever seus conceitos idealizados e passar a aplicá-los no seu dia a dia.

COLABORAÇÃO ESPECIAL: M. EDUARDO
APOIO: A_LINGUAGEM_DOS_SONHOS

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