Por volta das cinco horas da tarde, “Alra” e sua mãe foram até a casa de “Belalú” e de lá foram juntas tomar o ônibus para ir ao terreiro de “Neci”. Embora o tempo estivesse frio, “Alra” surpreendeu-se por sentir as mãos e os pés (que geralmente são gelados) suarem muito como se estivessem febril. Uma vez no local, esperaram até sete horas quando foi iniciada a incorporação seguida dos atendimentos. “Alra” conversou com um baiano cheio de axé, cujo nome ela esqueceu de perguntar. Depois de benzê-la aconselhando que ficasse sempre de cabeça erguida, ele perguntou como ela estava e sua resposta foi: “Tirando o lado espiritual das dívidas eu estou bem”. Ele riu dizendo: “E quem não tem dividas?” Depois de comentar sobre o fato de ser médium não atuante, “Alra” escutou ele explicar-lhe que a mediunidade é um compromisso estabelecido antes do reencarne e, quando não trabalhado, existe cobrança e um peso sobre a vida da pessoa. O que não é pago vai apenas acumulando e ficando pior. Ele também confirmou que a mediunidade dela era de incorporação e apenas caridade de campanha de quilo, por mais que ajudasse, não sanaria suas necessidades kármicas pré-estabelecidas. “Alra” perguntou se teria de trabalhar em qualquer lugar ou se ainda encontraria um terreiro especifico. Ele disse que ela deveria trabalhar em qualquer local donde se sentisse bem e que fosse decente, pois a escolha era dela e não das entidades ou guias. Ele recomendou que “Alra” continuasse rezando para conseguir encontrar e escolher um local. Ela comentou que já trabalhara num terreiro donde, apesar de não ter chegado à incorporação, tinha de fazer um monte de oferendas suas e preparar a de muitas pessoas, dizendo não gostar de fazer a caridade na base de trocas materiais. Ele explicou que espirito desencarnado não precisa de nada disso, mas quando eles pedem e a pessoa se dispõe a dar-lhes algo, eles querem e cobram, ou seja, a responsabilidade é de quem aceita dar o que eles pedem.
Ademais, quem recebe a energia manipulada através das coisas materiais como pinga, charuto, vela, frutas, etc. somos nós encarnados, e não as entidades. Embora ele não tenha dito, “Alra” sabia que isso variava muito dependendo do terreiro, do médium e da entidade. Não sendo interesseira, provavelmente “Alra” não teria entidades do gênero (questão de afinidade). Entretanto, enquanto aproveitadora, seria bem possível e entendível que suas entidades também gostassem de receber um agrado.
“Alra” perguntou-lhe dos obsessores e a resposta foi aquilo que ela já sabia: obsessor se atrai a cada esquina donde se passa, principalmente quem é médium, pois é praticamente um ímã energético. Além de firmar a cabeça nos protetores ele recomendou-lhe um patuá bem simples: carregar um dente de alho descascado consigo em um local donde ninguém fosse encostar. Quando o mesmo amarelasse ela deveria joga-lo na água corrente e colocar outro no lugar. Isso afastaria tudo o que fosse ruim de si, tanto do mundo físico quando do espiritual. Para “Graúda”, que foi atendida com outro baiano, foi lhe dito também sobre ser médium e ter de trabalhar. Independente de sua mãe, “Alra” queria sim desenvolver a sua mediunidade e fazer muita caridade junto de suas boas companhias espirituais. Cheia de fé, alegria e axé, “Alra” voltou para casa concebendo alguns planos. O tempo ajudar-lhe-ia a estabelecer alguns propósitos e tudo daria certo na medida do possível. Sem mais, assim seu dia ficou.
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