· Quando assumimos a vida em sua plenitude conseguimos alcançar a liberdade almejada e percebemos que já possuímos todos os sonhos e vitórias dentro de nós. Passamos a amar o que somos e temos em vez de acentuar desejos em torno daquilo que ansiamos ser ou ter. É assim que descobrimos como ter pretensão sem as angustias geradas pela expectativa.
· O perdão deve se dar através da compreensão, momento em que somos como que lavados de nossas memórias, fazendo intervir o que está além de nós. Deus perdoa o homem através do próprio homem: à medida que perdoamos compreendendo o ato alheio é que abrimos a possibilidade da energia divina do perdão chegar-se até nós também. Perdoar impõe a nós o reconhecimento de que também somos suscetíveis de cometer inúmeros erros e magoar outras pessoas ao longo da vida. A grandeza de conceber o perdão consiste exatamente em reconhecermos nossas faltas. Essa é uma grande nobreza humana que gera a capacidade de não nos deixarmos confinar nas conseqüências nefastas de nossos atos.
· Ao sermos habitados pela consciência e pelo amor, o sofrimento acaba sendo contido em alguma coisa infinitamente mais ampla. Do sofrimento suportado passamos a sentir o sofrimento aceito e transformado pelo poder do amor. Geralmente precisamos chegar ao âmago de nossa carência para encontrar a plenitude de Deus. É através de nossas falhas e fendas que Deus vem à nossa procura.
· Não é suficiente amar. O amor sem a inteligência torna-nos infeliz porque damos ao outro o que temos de melhor, mas o nosso melhor nem sempre é o melhor para o outro. Ao darmos o que gostaríamos de receber, fazemos uma concepção muito egocêntrica sobre a felicidade do outro. Além disso, não podemos amar o outro se não nos amarmos primeiro, pois só amamos no outro aquilo que amamos em nós mesmos. Aceitar amar no outro o que não amamos em nós representa aceitar nossas falhas e fraquezas, retirando a couraça da dissimulação e expondo toda a nossa vulnerabilidade sem medo de que o outro possa tirar proveito disso para confirmar seu poder e sua opressão.
· Cada momento tem as suas emoções e devemos vivê-las individualmente. A vida é feita para morrer, a flor para murchar e o amor para passar. Um dia nunca é igual ao anterior e estamos nos renovando a cada segundo. É assim que Deus, ao mesmo tempo, nos constrói, destrói e reconstrói (no livro o autor usa a palavra ‘desconstrói’).
A verdadeira felicidade está em transformarmos cada momento e tudo o que nos acontece em ocasião de crescimento e evolução.
Assim podemos ser felizes a partir de tudo, inclusive das infelicidades. Freqüentemente a busca da felicidade é justamente o que nos impede de sermos felizes, porque procuramos a felicidade sob uma forma precisa demais e delimitamos nossos sentimentos que ficam condicionados a isso e àquilo.
· O ser humano é feito de inconstância, relatividade e ambigüidade: ora amamos, ora odiamos, hoje sorrimos, amanhã choramos, etc. Devemos aceitar isso sem nos perturbar a mente com preocupações.
A questão é entender que os extremos não são partes opostas, mas sim partes complementares. Verificamos que, efetivamente, não há dia sem noite, não há verdade sem mentira, etc.
Não é possível possuirmos a verdade, não é possível apropriarmo-nos do amor, podemos simplesmente estar junto e aceitar que o âmago do ser é indefinido, assim como todo o universo em si é algo inacessível de percebermos em sua totalidade. Por momento isso é tudo. Tenha um bom dia e muitas felicidades! Até breve!”
[i] LELOUP, Jean-Yves. Amar... apesar de tudo. Encontro com Marie de Solemne. Trad.: Guilherme João de Freitas Teixeira. Campinas, SP: Versus, 2002.