“Olá ‘Ami’! Tudo bem contigo? Eu vou levando a vida conforme dá. Hoje madruguei para ir à chácara com mamãe. Ir lá é bastante cansativo, principalmente com o sono que fiquei sentindo durante o dia todo. Aqui em casa as coisas continuam muito reviradas por conta da mudança que ainda está pela metade. De toda forma, eu não tenho do que reclamar, pois adoro estar no mato, ver as vacas, sentir cheiro de esterco curtido e aproveitar as mangas. Até espionagem de cobra teve hoje, acredita? Eu estava no maior pique cortando um mandiocal (já com cerca de cinco metros para cima do chão) enquanto mamãe podava o caramanchão de jasmim quando, do nada, mamãe viu um filhote de cobra com cerca de quarenta centímetros de comprimento. Ela era acinzentada escuro e tinha o chocalho pintado de vermelho. Quando mamãe atiçou-a, ela rastejou mais do que rápido e entrou num buraco que desde muito tempo tem por lá. Aliás, buraco de cobra é o que não falta naquele sítio. De toda forma, eu e mamãe continuamos nosso serviço. Ver uma cobra naturalmente dá medo, mas sinceramente me julgo muito amiga da natureza e sou confiante na proteção espiritual que me guarda. Sendo assim, continuei meu trabalho sem ficar impressionada com o possível ninho de cobras. Também acredito que elas dão proteção ao local conforme ‘Cinaty’ falara outrora. Ah, falando nela, mamãe deixou marcado de irmos ao tratamento espiritual que iniciará na primeira sexta-feira do próximo mês. Não a vimos hoje, mas mamãe conversou com uma das mulheres que moram na chácara de lá. Na volta tomamos o ônibus das quatro e meia e cheguei em casa mais morta do que viva de tanto cansaço e sono. Além do mais, estava chovendo e tivemos de enfrentar o aguaceiro do ponto de ônibus até em casa. Conclusão foi que não tive como ir ao Parque do Sabiá... mas lembrei-me muito do "Mateus" e espero que ele também leia essas escritas.
Durante o trajeto estive relendo um livro que me foi indicado cerca de oito anos atrás por uma psicóloga que freqüentava em tal época. Fazendo uma segunda leitura relembrei os detalhes misteriosos da historia. É um livro romântico cheio de suspense que eu adoro. Chama-se Um amor de outro mundo[i] e conta a historia da jovem Camila que vai passar as férias na fazenda de seus tios. Lá ela encontra seu primo Érico e sua prima adotiva Analu. Tentando dar vida a nova Camila que desejava ser após fazer terapia, mudar o visual e enfrentar sua insegurança, a jovem embarca para o mundo de aventuras de um local aparentemente assombrado. A historia de total suspense e que faz a leitura ser intrigante revela no final que Analu se fazia passar pelo fantasma de Ana Carolina, uma garota morta há anos, filha de uma baronesa que morara no casarão vazio. O trauma de ser novamente abandonada, como fora um dia por seus pais verdadeiros, faz a jovem agir por medo e desespero, criando e adotando para si a personalidade de uma morta. Foi à maneira não muito apropriada que ela encontrou de se defender, mostrar-se forte e tentar ser independente. O livro serve para uma boa análise psicológica sobre pessoas que, talvez como eu, misturam a realidade com a fantasia. Embora seja um livro de historia simples e pequena, serve de alerta ao perigo que uma pessoa aparentemente normal pode apresentar, pois, nos últimos capítulos, Analu tenta matar Camila utilizando-se do espírito de Ana Carolina, pois a culpa recairia sobre um fantasma. E ela não estava agindo por maldade, mas por receio de perder seu amado Érico para Camila, já que ambos, embora fossem primos, estavam apaixonados. Apropriar-se do fantasma de Ana Carolina foi à única forma que Analu encontrou de despertar os sentimentos do ‘irmão’ para si, mesmo que para ele fosse inaceitável sentir-se apaixonado por uma morta. É uma leitura muito gostosa e da qual pode-se refletir sobre vários aspectos e constatar que, muitas das vezes, o que está por trás do mal e da iniqüidade humana é um desejo imbatível e estrondeante de amar e sentir-se amado. Não é a toa que a falta de amor é o maior castigo na vida humana e, conseqüentemente, a maior justificativa (geralmente inconsciente) para tantas atrocidades. É por isso que creio no verso que diz: ‘O mal não existe; o que existe é a ausência do amor’. Com amor não precisaríamos de mais nada, muitíssimo menos de violência, guerra, fome, destruições, suicídios, assassinatos e mortes coletivas. Um dia ainda tenho esperanças de ver a Terra transformada num reino como o de meu Irmão Maior: donde o amor é o rei. Que Papai do Céu ilumine nosso planeta e nossa humanidade para adiantarmos o progresso a fim de chegarmos mais rápido a uma alegria infinitamente duradoura e real. Por hoje isso é tudo. Até outra hora...”
[i] JOSÉ, Ganymédes. Um amor de outro mundo. 13 Ed. São Paulo: Atual, 1994.
Atualização
Há 4 anos
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