Agape e Mateus 9

Hoje encontrei com "Ágape" na entrada do portão de baixo do parque. Não sei porque, mas eu a senti um pouco arisca comigo. Ela disse que anda confusa sentimentalmente nos últimos dias e isso não me convenceu. Depois ela completou dizendo que a lembrança dos relacionamentos anteriores lhe trazem uma carga negativa um tanto difícil de fazê-la sentir-se empolgada e firme noutro envolvimento. Eu também sinto isso, mas meus sentimentos por ela são maiores do que quaisquer medos ou lembranças que me aflorem com relação ao passado. Ela me contou sobre a conversa que teve na ultima segunda-feira com a Gira do centro de umbanda. Esta lhe disse que homem de olho nela não falta, mas que "Ágape" foge deles como diabo da cruz. Eu já houvera constatado isso: mesmo ela correndo acompanhada comigo, os rapazes (principalmente os do quartel que sempre estão por lá correndo também) a encaram como se pudessem comê-la com os olhos. Eu não importava exatamente por achá-la séria em sua concentração, o que a fazia inclusive desviar o olhar deles, mas hoje ela confidenciou algo que me deixou com ciúmes: ela tem muita vontade de corresponder aos olhares masculinos e analisar os homens de cima a baixo também, mas acontece que sua timidez não lhe permite fazer isso. Do jeito como ela é sedutora quando se sente à vontade, sorte minha o fato dela ter ser tímida e não jogar sobre os homens o seu olhar fatal. Ela foi tão enfática em sua fala que ainda completou revelando que se irrita tanto consigo própria por conta de tal timidez que sua vontade é esmurrar sua cabeça contra a parede. Ouvi-la dizer isso me fez constatar que ela está comigo apenas porque eu tive a coragem de aproximar-me e puxar conversa, conseqüentemente, ela pode se envolver com qualquer um que também fizer o mesmo. Às vezes eu sinto como se isso fosse um jogo: ela se faz de livre emocionalmente exatamente para que eu sinta medo de perdê-la e daí eu tenho de ficar dando uma de conquistador eterno. Tudo isso me deixa ainda mais temeroso. Eu só quero que ela seja feliz, comigo ou com qualquer outro homem.

Ontem o tempo de chuva não nos deixou ir correr e isso me fez chegar ao parque hoje cheio de saudades. "Ágape" não correspondeu meus sentimentos tanto quanto eu gostaria. Sinceramente não sei o que está acontecendo com minha amada "Ágape". Já no final da corrida eu contei-lhe sobre o convite que recebo todos os anos na época do carnaval para acampar com alguns amigos. Deixei claro minha vontade de levá-la comigo e ela me encarou analisando-me de uma forma que fiquei arrepiado: eu me senti como se houvesse armado um plano qualquer para envolvê-la numa teia de mentira. Ela suspirou profundamente e disse que não podia me dar nenhuma resposta por enquanto: isso me soou como um não. Acabei me sentindo abatido depois da tarde de hoje. Acho que "Ágape" não está tão apaixonada por mim quanto estou por ela e o pior de tudo é que ela não está se abrindo comigo quanto antes para falar de seus sentimentos. Nossa conversa foi pouca, ela apenas me contou que foram montar o armário da cozinha que sua mãe comprara e depois se fechou na sua ostra. Quando nos despedimos e eu acabei revelando que a achara estranha na tarde de hoje, ela assustou-me ao responder que talvez eu não fosse o homem da vida dela. Perguntei-lhe porque e transparecendo um ar tristonho ela disse suas ultimas palavras de nosso encontro:
____ Eu quero algo mais real para minha vida, eu quero casar, ter filhos e família. Quando estou contigo tenho a sensação de estar vivendo um sonho e isso acaba gerando em mim uma sensação de desânimo. Eu quero viver e não apenas sonhar. Você entrou dentro do meu sonho, mas ainda não faz parte da minha vida real. Talvez você não entenda o que estou querendo dizer, mas isso é tudo o que sei lhe explicar. Estou pagando um preço para estar contigo: a alienação da realidade de quem sou, ou seja, da minha vida concreta em si. Em resumo: eu tenho conflitos internos para comigo mesma que me impedem de ter uma vida normal e um relacionamento de verdade, mas não quero falar sobre isso.
Fiquei abobalhado sem nada entender... mas esperançoso da continuidade de nosso romance. Será que minhas esperanças estão erradas?...”