Obrigada pela visita!

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sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

para ami 4

Olá ‘Ami’! Hoje mamãe entregou as chaves para a imobiliária e os novos inquilinos já estiveram aqui limpando o pedaço. Enquanto isso eu me distraía com minhas leituras. Acabei de reler o livro Mais que um amigo[i]. Lembra de quando tivemos de montar um teatro com a história de tal livro na época do colegial? Não lembro que série foi, mas me deu muita saudade daquela época e por um instante pensei que, se pudesse, teria retornado ao tempo em uns dez anos. Se olhando para o passado penso que poderia ter vivido muita coisa diferente, ou ao menos tentado fazer de outras maneiras, fico me questionando o que neste momento posso fazer para não ter essa mesma sensação deprimente no futuro, quando talvez eu estiver relendo todas as minhas escritas e vendo o momento de agora como algo já findado. A história do livro é um light romance para adolescentes e já andei rindo sozinha de lembrar-me da personagem que fiz: a Nina dançando (precisamente na parte do capítulo cinco). Parece que foi ontem que estive sobre um palco com os cabelos amarrados de maria-chiquinha pulando feito uma abobalhada no salão superior da escola Adventista. Não houve quem não riu de mim e eu mesma lembro que mais ria do que figurava a personagem. Acho que nunca vou me esquecer daquilo e de tantas outras maluquices vividas nos tempos em que estudávamos juntas. Quando me pego pensando no passado sinto como se ele não houvesse passado e eu ainda estivesse lá atrás. E se me é possível ter a licença de responder a pergunta que a autora faz na introdução do livro, digo em resumo a toda a história, que o amor pode ser um jogo sim, mas com inúmeras conseqüências que geralmente são as mais imprevisíveis. O livro demonstra claramente que podemos encontrar o amor bem ‘debaixo do nariz’, mas, na minha opinião, uma amizade que vira namoro nunca foi apenas amizade, mesmo que assim aparentasse ou fosse sentido por ambos. E você, o que acha?
Vamos passar para outro assunto: meu encontro e namoro com ‘Mateus’. Já eram mais de cinco horas da tarde quando fui com mamãe para a casa de vovó e de lá segui a caminhada até o parque. Já estava quase
na metade da trajetória quando meu querido príncipe apareceu para alegrar-me por completo. Não sabia que pudesse me sentir nas nuvens de alegre simplesmente por encontrar alguém. Confesso que, no nosso primeiro encontro, quando nos conhecemos, pensei que caso fossemos continuar correndo juntos, o fato de ter alguém correndo comigo fosse me atrapalhar e que eu fosse achar um incômodo tal situação de fazer atividade física com alguém do lado, mas tudo o que venho sentindo é uma enorme satisfação por tê-lo comigo. Na realidade nunca pensei que pudesse me sentir tão à vontade e contente na companhia de outra pessoa. Como não gostamos de conversar durante o exercício, continuamos o trajeto até o final. Correr com ele acaba me forçando a acompanhar um pique mais constante, mesmo que seja ele quem esteja tendo de correr mais devagar que o costume.
Quando chegamos na reta final, já depois da ultima
curva, ele deixou de correr para andar e de tal vez percebi que havíamos entrado e iniciado a corrida em portões diferente, pois para mim, ainda faltava um terço do percurso para chegar ao portão principal donde eu entrara. Antes de lhe dizer sobre isso, senti sua mão encontrando na minha e sorri como se fosse uma criança ganhando um mimo. Quando chegamos perto do quiosque ele encaminhou-se para a área dos alongamentos. Eu não devia escrever isso, pois sei que ele vai ler e provavelmente vou ficar cheia de vergonha se ele comentar algo, mas também acho que ele tem direito de saber tudo. Confesso que eu fingi que estava me alongando, pois em verdade, eu estava muito mais interessada de observá-lo disfarçadamente de soslaio a fazer abdominais e erguer o corpo na barra. Por momentos ainda não acredito que o ‘Mateus’ é real e chego a me perguntar se ele não poderia ser uma criação mental. Nunca imaginei que, do nada, fosse ter um namorado tão incrivelmente maravilhoso em todos os sentidos. Adoro quando ele levanta a camiseta para limpar o suor do rosto e deixa a vista seus músculos tão bem esculpidos. Ele não é muito e nem pouco musculoso: está na medida exata. Depois de me alongar um pouco não resisti e encostei-me na barra para apreciá-lo melhor, mesmo que isso naturalmente me forçasse a fingir que não estava admirada com seu corpo e sua força muscular. Quando ele veio ao meu encontro olhei-lhe nos olhos e prendi assim o seu olhar ao meu. Sendo levada por um impulso que fez minha mente não pensar em mais nada, estiquei os braços assim que ele aproximou-se e abracei-lhe estendendo meus dedos por sua nuca enquanto sentia os dedos dele na minha também. De fato parecia que minha mente havia parado de funcionar, pois ficamos a nos beijar longamente e não pensei em nada, ou seja, nem lembrei que estávamos em local público, o que, obviamente, era para me deixar completamente acanhada. Depois do beijo continuamos abraçados firmemente como se um fosse entrar dentro do corpo do outro. Permanecei de olhos fechados e podia sentir uma adrenalina maravilhosa pipocando dentro de todo o meu corpo. Não suportei e voltei a beijá-lo. Quando finalizamos mais uma porção de beijos, eu sorri meio alanhada e ele não deixou passar desapercebido:
___ O que foi? – ele me perguntou d
e imediato.
___ Acho que sua boca foi feita para a minha – disse rindo mais ai
nda enquanto ele deu uma gargalhada gostosa me apertando ainda mais em seus braços.
___ Vamos sentar um pouco?
___ Tem uma coisinha, eu entrei pelo outro portão – resolvi dizer para evitar ficar sem graça depois.

___ Não seja por isso, eu corro mais um pouco contigo e depois volto para pegar o carro. Ou melhor, eu vou sair para ir nu
ma padaria e encontro-te lá no outro portão, pode ser? É que mamãe pediu-me para comprar uma rosca com sequilhos de uma padaria que fica aqui perto. Quando ela inventa de comer quitandas de doce fica parecendo uma grávida com desejos.
___ Tudo bem, eu te encontro lá.
Demos mais um beijo selinho e nos separamos. Alguns minutos depois já estávamos nos encontrando novamente:
___ Que tal um pedaço de rosca, aceita?
___ Ah, ta bom – respondi como quem nada quer.
Sentamos dentro do carro e ele me passou o embrulho com uma enorme rosca de trança toda
açucarada. Por mais absurdo que me pareça, eu estava tão tranqüila com ‘Mateus’ que não tive acanhamento nenhum para colocar a mão dentro do saco de papel e tirar uma boa lasca de rosca. Fiquei sem saber se lhe servia tal pedaço e por fim deixei a gentileza de lado e lhe passei o pacote de volta. Se fosse para um servir ao outro, seria ele quem teria de ter pegado um pedaço para mim, até porque, a rosca era dele, ou melhor, da mãe dele. Entre uma conversa divertida devoramos metade da rosca. Houve uma fala que me surpreendeu muitíssimo: ele tem a mesma idade que eu e nasceu no dia nove de maio. É muita coincidência a inversão do dia com o mês, uma vez que eu sou do dia cinco de setembro! Ele também pareceu chocado com isso, mas nossa conversa estava tão boa que prosseguimos falando de outras mil coisas. Finalmente fiquei sabendo que ele trabalha desde os quatorze anos com o pai, que é empresário e, além disso, é advogado também. Ele formou-se no mesmo ano que eu, embora eu tenha terminado os estudos em junho e ele em dezembro. Daí ele foi trabalhar associado ao advogado do pai dele e logo depois um amigo quis juntar-se a eles no mesmo escritório. Eu adoraria ficar longas horas naquela agradável conversa, mas o fato de minha mãe estar me esperando na casa de vovó me deixava incomodada. Quando disse que precisava ir embora, ele outra vez me ofereceu carona e dessa vez resolvi aceitar. No trajeto ele disse que gostaria de me apresentar para a família dele.
___ Você não acha que é muito cedo? – perguntei eu pensando na reação de mamãe quando fosse apresentá-lo a ela.
___ Você
acha?
Senti como se ele houvesse me colocado contra a parede e fiquei bastante sem graça pela pergunta que fizera.
___ Por mais que eu tenha certeza dos meus sentimentos por ti, não sei se é momento de envolvermos nossa família nisso.
___ Eu nunca apresentei garota alguma para
meus pais, mas ultimamente essa idéia está me perturbando – revelou num desabafo. – Do que você tem medo? – perguntou ele como se desconfiasse da seriedade com que eu estava encarando nosso relacionamento.
___ Não será você quem está com medo? – respondi sendo direta.
___ Ah? – ele pareceu não entender.
___ Parece que está com medo de me perder – concluí numa explicativa.
‘Mateus’ calou-se pensativo e acabou desviando o assunto:

___ Onde sua avó mora?
Indiquei-lhe o endereço e num segundo fomos obrigados a nos despedir com mais um beijo. Nosso ultimo diálogo além de ficar incompleto fez o clima ficar diferente do anterior. Não sei se ‘Mateus’ ficou chateado com o que lhe disse, mas nossa afinidade me deu coragem de dizer o que estava em minha mente. Já na casa de vovó eu dei risadas com mamãe, pois ‘Mariposa’ queria de todo jeito que eu dormisse lá com ela. Não há de ver que ela está com medo da alma (que pa
ra ela deve ser penada) do meu tio, seu cunhado, aparecer-lhe? Era só o que faltava! Vovó depois de velha temer algo tão bobo. Por fim teve a mudança do pessoal para a casa de cima e o barulho de moveis sendo montados e arrastados por volta das nove horas da noite. Em suma meu dia foi esse e tudo está caminhando nos conformes. Fico por aqui. Um abraço e felicidades!”
[i] WINFREY, Elizabeth. Mais que um amigo. Trad.: João Alcino Andrade Martins. São Paulo: Editora Ática, 1995.


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