Obrigada pela visita!

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quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

para ami 3

Olá ‘Ami’! Confesso-te que estou imensamente irritada. Acordei de péssimo humor hoje e fiquei muito pior com a insistência de mamãe querendo que eu a ajude a conferir seus extratos bancários. É horrível fazer um serviço desses para outra pessoa, principalmente porque ela própria não tem organização de manter uma data inicial e final para fazer as análises. Daí os resultados nunca batem e fico muito irritada, pois ela complica ao invés de facilitar algo que poderia ser super simples. Não há quem confere extratos picados, faltando intervalos de dias entre eles donde existem mil débitos e créditos. Já falei para ela fazer uma planilha mensal e conferir uma vez por mês, mas não, ela quer conferir a cada pagamento, retirada ou depósito que faz e daí junta os rendimentos e os débitos de manutenção da conta, enfim, eu não tenho mais paciência. Além do mais, eu não gasto um mísero tostão e tenho de ficar conferindo tudo o que ela gasta ou deixa de gastar: puxa vida, isso é um carma violento demais para mim e estou com os nervos à flor da pele. Desde setembro que estou pelejando com isso por saber que devo muita obrigação para ela (já que é minha mãe), mas não estou suportando-a com suas contas bancarias tão cheias de movimentos. Donde já se viu, ela quer que eu tenha o trabalho de conferir tudo do jeito totalmente inadequado dela de conferir. Misericórdia, é cruel essa situação! Estou dando meu basta, ela que peça isso para minha irmã. Da ultima vez que fui fazer as planilhas para ela gastei um dia inteiro e agora os valores do extrato já saíram todos diferentes. Sinto muito, mas não consigo entender nada de extrato bancário, é muito número para minha cabecinha e prefiro a matemática bem longe de mim.
Mas chega de falar no que não interessa, certo? Ontem fui caminhar logo cedo e consequentemente eu não encontrei com o "Mateus". Além do cansaço da mudança ainda tenho que agüentar a inconveniência de mamãe me acordando logo ao raiar do dia. Ela acorda e parece ter um comando interno igual ao de um robô para ir me acordar na mesma hora, seja cinco ou seis horas da manhã. Acontece que ela dorme todos os dias depois do almoço até quatro horas da tarde e como eu não faço isso, sempre chego ao final do dia mais exausta que um trapo velho. Daí eu fico mal-humorada e pronta para explodir por qualquer mínimo detalhe que faça venha de me afetar, até porque tudo passa a me afetar sem motivo justo. E sinceramente eu própria não me suporto quando estou assim.
O que tenho de interessante para falar de ontem é que alguns homens de uma transportadora vieram e desceram algumas coisas pendentes (microondas, máquina de lavar roupa, geladeira, maquina de costura e o freezer que mamãe vendeu para o inquilino do fundo). Mas a mudança ainda não acabou e mamãe continua dormindo lá em cima. O rapaz da imobiliária já veio aqui hoje dizer que vai mandar um pintor e não sei como vai ficar essa baderna. Na parte da tarde de ontem tivemos a visita de “Cinaty” querendo saber se estávamos firmes com a decisão de alugar a chácara. Nisso surgiu outra irritação porque a mamãe quer e não quer alugar ao mesmo tempo e isso me mata de raiva. Fico para morrer por não ‘ter boca’ e autoridade suficiente para resolver a minha própria vida. É eu apelada de um lado e mamãe de outro. Nossas idéias não combinam e estamos embaladas de discussão. Tenho vontade de chorar até morrer sufocada no próprio desespero. Eu não tenho nada, não faço nada e não sou nada porque não consigo gastar dinheiro e não dou conta de abrir a boca para falar com ninguém. Vejo todo o mundo tendo tudo, fazendo tudo e sendo tudo e fico revoltada a ponto de trucidar as pessoas com um simples olhar. Sinto-me como se houvesse estacionado nos cinco anos de idade e tivesse a obrigação de dar conta de ser o que deveria ser na minha idade real. Tem momentos que fico tão irritada e triste que fico trêmula como se fosse sofrer um troço. Minha garganta embola como se meu estomago entalasse nela. Sinto-me completamente fora de mim de tão mal. E a conseqüência de tudo isso não poderia ser pior: não consigo me concentrar em nada e sou atacada de dor nas costas.
Ontem, depois de irmos à vovó, fui com mamãe ao centro de umbanda. Na ida passamos num supermercado para mamãe comprar duas velas brancas de sete dias que haviam lhe pedido. Já estávamos na esquina de baixo quando minha chinela arrebentou e tive de andar mais dois quarteirões para baixo arrastando o pé para comprar outra no mercadinho da esquina mais próxima. Finalmente chegamos ao destino final do terreiro. Quanta alegria de ter encontrado aquele lugar assim perto de casa! Inicialmente conversei com vovó Luíza. Ela disse-me que não devo de maneira alguma esquecer-me de rezar quando acordo
e quando vou dormir. Mamãe conversou novamente com a vovó Maria de Angola (cujo nome esquecera de perguntar outrora). Ela novamente passou um banho de hortelã com água de mina para mamãe e pediu-lhe uma vela cor de rosa para firmar em São Cosme e Damião para "Wenda Hiler".
Enquanto isso eu aproveitei para falar com o Pai Tomás de Angola. Suas palavras foram acertadas ao dizer que eu tenho fé, mas às vezes também tenho dúvida, pois as desilusões do mundo são grandes. Realmente isso é tudo o que tenho sentido nos últimos dias: por mais bênçãos que eu receba de Papai do Céu, não consigo ficar totalmente bem perante um mundo tão cheio de conflitos, tristezas e falta de amor. Por melhor que seja a minha vida em si, é como Pai Tomás falou, basta olhar para o mundo que logo bate uma angustia desesperadora. E o que posso fazer se não consigo me adaptar ao mundo que mereci ter? O que fazer se minhas imperfeições são compatíveis a esse planeta de provas e expiações cego pela violência, pelo orgulho ferido e pela ignorância humana? Se não consigo nem diminuir meus defeitos, como aprender a lidar, aceitar e conviver com a enorme cota de deformidades morais de todo o mundo? Acontece que às vezes sinto-me responsável não apenas por mim, mas pela humanidade. Sei que é uma completa estupidez de minha parte sentir isso, mas simplesmente sou invadida por essa sensação que muito me perturba. Quão grande é o meu sofrimento: queria ‘curar’ o mundo e não consigo fazer ‘milagre’ nem comigo mesma. Eu queria ser tudo, mas não passo de um nada com N maiúsculo. Mal consigo rezar pela humanidade, pois sempre começo a chorar e meu pânico parece apenas alvoroçar-se dentro de mim.
Aproveitando a oportunidade perguntei-lhe sobre minhas dores no corpo, principalmente nas costas. Ele me disse que isso é problema espiritual e me receitou um banho de louro, alecrim e hortelã com água de mina para pedir proteção a Nossa Senhora das Candeias. Por fim ele disse que eu tenho uma aura muito bonita. Eu agradeci, mas quem se julgando um nada (como eu) vai achar que tem aura bonita? Pobre de mim com minha aura. Para terminar ele disse que não devo me deixar abalar e quando sentir isso acontecendo por qualquer sentimento negativo, devo botar o joelho no chão, pois não há nada que não passe com uma oração regada de fé. Parece que, por mais que eu reze, ainda têm sido poucas as minhas preces e a minha fé. Crer duvidando realmente é complicado, mas por vezes é minha realidade. Preciso esforçar-me mais na tentativa de mudar esse detalhe tão crucial na minha conduta diária. Como se não bastasse, ainda tem outra coisa que me conturba. Eu não sou acostumada a meios sociais e sempre preferi o isolamento. Hoje novamente a família que alugou lá em cima veio ver a casa e trouxe até uns parentes e amigos. No meio de tanta confusão ficar tendo de me apresentar para os outros me irrita profundamente, principalmente quando as perguntas são sobre aspectos profissionais. Odeio isso! Para finalizar a escrita de hoje tenho a dizer uma ultima informação: o “Xeréu” sumiu há alguns dias. Provavelmente deve ter voado para longe e finalmente está tendo sua vida independente. Espero que ele esteja bem em algum lugar. Ele será sempre uma lembrança saudosa em minha vida. Bem, agora me deixei encerrar isso, pois vou continuar colocando ordem na mudança e lutando pela paciência que deu uma fugida de mim. Um grande abraço e tudo de bom! Até depois”.

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