“Olá ‘Ami’! Tudo bem contigo? Hoje todos os meus planos se desfizeram: acontece que fui acompanhar minha mãe numa consulta que ela ia para a minha avó e nisso tivemos de ficar praticamente cinco horas aguardando no UAI. Inacreditável essa realidade! Pior é que a médica passou um remédio cujo miligrama estava errado e depois de quase uma hora na fila da farmácia, tivemos de retornar e esperar mais meia hora para falar com a médica novamente e não há de ver que ela consertou os números e nos tivemos de aguardar mais um tempão na fila da farmácia para descobrir que não havia remédio com aquela quantidade de miligramas na farmácia de lá? Foi tantas idas e vindas da farmácia para a sala da médica que passamos o dia dentro do UAI por conta de uma simples consulta para renovar a receita dos remédios de pressão arterial da vovó e fazer a tentativa frustrada de pegá-los gratuitamente na farmácia. Embora eu houvesse mantido-me entretida na leitura, confesso que saí muito irritada de lá e jurei para mim mesma que só retorno lá em casa de estar morrendo alguém. Já estava esfomeada, com sede e cansada quando cheguei de volta em casa. Para relaxar tomei banho e pegando meu hidratante natural que eu mesma faço com babosa, fui nua para frente do espelho fazer um ritual que aprendi ainda ontem na televisão. Foi uma mulher bastante mística que disse sobre modelarmos o corpo com o poder da mente e as energias das mãos. Confesso que parece um pouco estranho fazer isso à primeira vez, ao menos foi para mim. Por fim eu imaginei que meu corpo como uma grande massa de argila e fui massageando de um lado e de outro imaginando o que posso e quero melhorar nele: mandar um pouco das gorduras restantes da barriga, quadril e cintura para os músculos do braço, eis que isso é tudo. De resto estou satisfeita. É claro que isso é apenas um complemento as minhas atividades físicas. Falando nisso, hoje o tempo me deixou ir caminhar, mas como fui cedo acabei não encontrando com "Mateus" e desde sábado não nos falamos mais. Espero que ele esteja bem. Sei que para ele é corrido o tempo durante a semana por causa do trabalho.
Quanto ao livro cuja leitura terminei de ler lá no UAI, é um clássico antigo chamado Mar morto[i]. A historia em si tem um estilo de lenda por expor as tragédias de Guma e Lívia. O romance trata da vida e costumes das pessoas e principalmente pescadores do recôncavo baiano, na cidade de Salvador, Bahia. Mostra também as tradições religiosas do candomblé, descrevendo as crenças nos orixás enquanto deuses africanos. Jorge Amado mostra neste romance o trabalho dos homens do mar e a preocupação de suas esposas, mães e filhos com respeito à sua volta para casa. Os diálogos dos personagens são escritos com o linguajar típico da região. O livro detalha o respeito que todos sentem com relação à ‘deusa do mar’ e às festas típicas em homenagem a ela. Iemanjá é conhecida por muitos nomes. Os canoeiros a chamam de Dona Janaína, os pretos de Inaê, Princesa de Aiocá e as mulheres que esperam por seus homens a chamam de dona Maria. Iemanjá adora as noites de lua cheia e o canto dos negros e as preces das mulheres do mar. É ela que causa as tempestades e escolhe os homens que levará para as profundezas do mar. Os marinheiros têm sua crença de que os raios da lua são os cabelos da mãe-d´água que surgem na superfície das águas fazendo-a ficar prateada. Os negros tocam, dançam e dão presentes para ela. Além disso o livro conta sobre o fato de Iemanjá ser mãe e esposa, pois diz que as águas do mar surgiram quando seu filho Orungã a possuiu. Ela o teve com o deus da terra firme chamado Aganju. Essa história eu ainda não escutara. Orungã cresceu sendo o deus dos ares, de tudo o que fica entre o céu e a terra. Mesmo rodando o mundo e os ares ele nunca conseguiu deixar de sentir veneração, paixão e admiração pela mãe. Ela era a mais bonita de todos e os desejos dele eram todos para ela. E um dia, não resistiu e a violentou. Iemanjá fugiu e nisso seus seios romperam-se surgindo as águas, e também a Bahia de Todos os Santos. E do seu ventre, fecundado pelo próprio filho, nasceram os orixás mais temidos, aqueles que mandam nos raios, nas tempestades e trovões. É por isso que os marinheiros crêem que ela ama os homens do mar como mãe enquanto eles vivem e sofrem, mas no dia em que morrem, são levados por ela para serem seus maridos. O livro conta mais um monte de coisas entremeio ao romance principal. Até que é um livro legal. Bem, quem quiser saber mais eu indico que o leiam. Por hoje minha escrita vai findar-se aqui. Um abraço e até qualquer outra hora”.
[i] AMADO, Jorge. Mar morto: romance. 43ª Ed. Rio de Janeiro: Record, 1977.
Atualização
Há 4 anos
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