Obrigada pela visita!

Obrigada pela visita!

sábado, 10 de abril de 2010

Ídolos de barro...

“Olá ‘Pessoal do mundo todo’! Hoje foi um bom e cheio dia. Confesso que foi difícil sair da cama, pois com o frio que fazia a vontade era de lá ficar o dia todo, até pelo fato do meu sono ser bem melhor nessa época e não sei explicar o porquê. Uma vez vencendo a dificuldade de desvencilhar-me da cama, tomei meu café da manhã e fui com mamãe à feira. Ao retornar estive fazendo minha ginástica e logo deu hora de almoçar. Na seqüência eu fui à campanha do quilo no centro espírita conforme costume das tardes de sábados e já faltavam quinze minutos para as cinco horas da tarde quando me vi livre para dar continuidade aos demais afazeres do dia. Fui direto ao parque e dei meia volta de corrida saindo no portão principal que fica pros lados da casa de vovó e, conforme programado, passei na casa dela para aguar-lhe as plantas. A tia “Flarymel” está lá, mas ela fica de pirraça com a vovó e as duas se toleram mais no desentendimento do que na fraternidade familiar. É isso que dá minha avó ficar lisonjeando apenas a casula “Pituca”. Amanhã acaba os dias da tia “Florymel” olhá-la e daí vovó disse que vem logo cedo aqui para casa e até já pediu para meu tio, marido de “Pituca” (a qual está para Caldas Novas), trazê-la até aqui. No meio da pirraça de ambas, sobrou eu para fazer a boa caridade de cuidar das plantas da vovó.
Cheguei em casa já quase sete horas da noite e estava com a leve sensação do dever cumprido. Hoje eu parecia bem disposta para enfrentar e fazer tudo o que fiz. Não vou dizer que é mil maravilhas desempenhar o compromisso da campanha ou a generosidade de ir aguar as plantas para vovó, mas não posso negar que sinto uma felicidade mais recompensadora do que as felicidades dos momentos fugazes que por ventura às vezes tenho em prazeres menos nobres. Muitas coisas, fatos, acontecimentos e atitudes podem nos dar prazer e alegria, mas se a causa é voltada para o bem alheio existe um misto de mérito que nos gratifica muito mais. Eu não me sinto na vantagem, pois sei que não estou cumprindo mais do que minha mera obrigação. Não me sinto envaidecida, pois por mais que me aventure a fazer o bem, sempre tenho a sensação de que é pouco, muitíssimo pouco perante a vida tão cheia de bênçãos que eu tenho. Quanto mais consigo sentir felicidade nas pequenas e simples coisas da vida, mais abençoada e grata eu me sinto. E já escrevi mais de mil vezes que não há nada que eu preze mais do que essas benéficas sensações que me encantam a alma, me fazem flutuar num mar de graciosidade sem fim. O que faço sem dúvida é muito pouco perante a maravilha da vida que se descortina a cada dia dentro de mim, no interior do meu Eu.
Mudando de assunto, quero comentar sobre o livro que acabei de ler chamado Ídolos de barro[i]. Foi uma leitura que me fez viajar junto de seus personagens. Conta sobre uma jovem russa que nasceu nas primeiras horas do século XX e que, tornando-se uma mulher bela, talentosa, envolvente e decidida, utilizou-se dos poderes da sedução para conquistar a glória dos palcos de Paris durante a ‘Belle Époque dos Cabarés’. Numa de suas falas ela diz que a vida é uma grande prostituição, pois todos se vendem de alguma forma e por algum preço. Vendem sorrisos, atenções, cuidados, trabalhos, tempo e até o próprio corpo, a outros, mediante uma satisfação em dinheiro proporcional ao que realizaram. Nem sempre se satisfazem ou têm prazer no que fazem, mas gostam do dinheiro e julgam que de outra forma não o ganhariam. Interessante essa colocação, mesmo que ela não justifique a prostituição de vender o próprio corpo. Concordo com a opinião da personagem principal e acho que só não é prostituição o trabalho que realizamos com consciência do seu beneficio pessoal e principalmente coletivo. Só não é prostituição quando trabalhamos com devoção fazendo algo que amamos. Sempre fui de acreditar que o retorno financeiro é apenas a conseqüência, e não o foco principal, mas é claro que milhares de pessoas trabalham visando apenas à conseqüência e não o beneficio daquilo que realizam, seja como realização pessoal ou enquanto progresso coletivo. Mas longe de minhas intenções está o julgamento de quem quer que seja... E, perante o julgamento alheio, eu prefiro ser chamada de acomodada e preguiçosa a ter de fazer o que não gosto.
A historia fica trágica quando a personagem principal sofre um acidente com o homem que foi o grande amor de sua vida. Ele desencarna e ela fica desolada, mas do outro lado da vida ele tenta ajudá-la a suportar os fatos tristes da solidão imposta pelo destino. Enquanto isso ele aprende que nascemos sós e vivemos essencialmente sós. Temos inúmeras companhias, infinitos afetos a se somarem e multiplicarem ao nosso redor, mas não devemos nos deixar iludir, pois ninguém nos completa, ninguém é imprescindível a nossa existência, assim como não o somos para ninguém. Cada um de nós é um ser íntegro, único, individual e completo por si só. Mesmo o amor que damos e sentimos não leva nada de nós nem nos deixa algo, é apenas uma troca sentimental. Conosco ficam somente as marcas da experiência. Também deixa o ensinamento de que nenhum relacionamento afetivo sobrevive quando alguém se anula. É ilusão crer na doação absoluta ao próximo. Todos necessitam de tempo, espaço e liberdade para a individualidade num contexto coletivo, senão não há harmonia e equilíbrio. Um sempre se sentirá prejudicado e a falta de si mesmo o desnorteará e fará ruir a beleza do afeto, pois nele vão imiscuir-se sentimentos naturais de raiva, atribuirá culpas ao outro por encontrar-se intimamente descontente, tornar-se-á ansioso e mesmo revoltado, julgando ser sempre aquele que tem de ceder, que tem de doar, sentirá esgotarem-se e não renovarem-se as fontes do amor no seu intimo. É uma das razoes pelas quais é comum dizer que amor e ódio andam de mãos dadas e se alternam numa mesma pessoa, manifestando-se em uma mesma relação.
O livro também diz que existem muitos mortais melhores e outros piores, mas todos, praticamente sem exceção, têm mais desejos do que reais necessidades e, conseqüentemente, mais necessidades do que satisfação. Daí a minha busca de querer estar satisfeita apenas com o que supre minhas necessidades e sentir-me satisfeita sem ficar criando desejos ilusórios e necessidades falsas. Em verdade o ser humano é como um dia amanhecendo, em que a luz solar vai pouco a pouco despertando vida, mostrando as belezas, colorindo, animando, descobrindo o que a escuridão da noite manteve em segredo, fazendo com que tateássemos um pouco perdidos e com pouca liberdade de ação. Quando for sol de meio-dia na nossa existência, tudo será claro e bonito, enxergaremos o que com menos luminosidade não se via e teremos ampla liberdade de ação, sem barreiras naturais. Eis que de tal leitura isso é tudo. Muita luz a todos e até breve”.
[i] VARGAS, Ana Cristina. (José Antônio). Ídolos de barro: quando o amor precisa de muitas vidas. São Paulo: Boa Nova Editora, 2005.

Nenhum comentário:

Postar um comentário