"Ágape" acordou sem lembrar de nenhum sonho. Por causa do excesso de trabalho na chácara seu sono fora um pouco mais pesado. Ela teve a leve sensação que sonhara com sua avó e também com criança, mas nada definido que pudesse ser relatado. Sua irmã continuava indecisa com relação ao trabalho e novamente estava cogitando na idéia de mudar com a filha para Campinas. "Graúda" também achava que seria muito cansativo ir para Campinas e voltar para São Paulo todos os dias. Para ela não retornar diariamente, "Wenda Hilar" seria privada da companhia materna, o que não seria nada bom e acabava sendo uma alternativa quase incogitável para “Soberana” e o esposo. A situação continuava duvidosa e muita coisa podia acontecer de modo repentino. Na parte da manhã "Ágape" lavou algumas roupas e estudou um pouco. Na parte da tarde ela decidiu que não ia ao centro de umbanda levar as duas velas brancas que lhe haviam sido pedido. Ela adiara até chegar a tal desfecho. Primeiramente ela não acreditava na eficácia de velas (ou quaisquer materiais, fora os banhos de ervas e flores) e achava que se fosse tão necessário e útil os centros Kardecistas também a utilizariam. Em segundo, gastar dinheiro sempre foi uma opção incogitável para ela, independente dos benefícios que possam sem recolhidos posteriormente.
Ao ir ao parque Siqueroli fazer sua corrida e caminhada, topou com uma viatura policial exatamente na pista inicial. Não foi possível verificar se o condutor do veículo era o mesmo do outro dia, pois quem desceu para retirar o cone foi o policial companheiro do banco da esquerda. "Ágape" não sentiu nenhum calafrio e passou por este naturalmente depois de esperar o veículo passar e o policial colocar novamente o cone no local da passagem. Visivelmente ele pareceu querer sorrir para "Ágape", mas permaneceu com uma fisionomia entre simpática e atenciosa de quem talvez não pudesse sorrir abertamente. Ela também tentou forçar um sorriso, mas sua timidez impediu o mesmo de ser esboçado. Sem dúvida "Ágape" admirava os policiais tanto pela profissão quanto pela imponência moral que impunham já de cara com a roupa fardada. Além disso ela até então não topara com nenhum policial que fosse feio e, atrás da boa e necessária profissão, estava o desejável sexo oposto. Numa tentativa de explicar a possível atração por tal profissão e os profissionais nela envolvidos, quando estes são competentes e moralmente corretos, "Ágape" soltou a seguinte frase: “Num mundo de tanta violência a milícia acaba sendo tão importante quanto a medicina. Eu adoro profissões que prezam a integridade e a segurança, seja física ou emocional. Aliás, quem não quer estar despreocupado com relação à saúde e sentir o bem-estar de saber que está protegido?” É claro que a palavra segurança fez um brilho diferente passar pelos olhos de "Ágape" como se ocultasse sentimento muito além do real. Nitidamente ali se encontrava o fundo sentimental da fantasia donde o homem, muito antes de sua profissão, faz o papel de herói salvador de qualquer situação desagradável. Ela sabia desse pormenor e, antes que lhe fizesse qualquer comentário, seu sorriso maroto deixou comprovado o fato de sua mente estar repleta de devaneios. Para findar a tarde, "Ágape" resolveu ir com sua mãe a casa de “Pituca” e de lá seguir com ambas até a casa de “Mariposa”. Sem mais o dia ficou nisso.
Atualização
Há 4 anos
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