O Louco é um coringa, é o número zero e justamente por isso, é livre para estar em qualquer posição que desejar. É alguém com total liberdade, seja pela ingenuidade de não saber sobre si mesmo ou pela sabedoria de caminhar em busca de auto-conhecimento. É certo que é um ponto de partida, uma abertura ou início, que envolve um novo mundo. E o Louco caminha em direção ao novo motivado pela ousadia, pela ingenuidade, pela paixão e pelo desprendimento. Mas esta paixão que o domina é intensa e irrefletida, impregnando-o de hábitos excêntricos, de alienação de pensamentos e atitudes e muita imprudência. Seu entusiasmo em busca de libertar-se do antigo é evidente. Assim como o misto de curiosidade e incertezas em relação ao que vem pela frente. Ele segue seu caminho movido pela intuição, pelo coração, e não pelo racional. Na verdade, é um arcano muito pouco racional, caminhando a esmo pela vida, em direção a alguma coisa que nem mesmo ele sabe o que é. Ele renasce para o mundo, com graça, leveza e inconstância. Com pureza e inocência, é capaz de transcender a dualidade que existe dentro de si, unindo a sabedoria à inocência. Desta forma, consegue renunciar aos estímulos e eventos exteriores, contemplando a vida com o olho interior. Assim, é intuitivo, sendo também a ponto entre consciente e inconsciente. Caminhando sozinho, descobre seus verdadeiros recursos interiores e, mesmo não sabendo o que busca, busca sem limites, movido para uma direção que não sabe qual, através de sua força interior e instintiva. O Louco representa o estado anterior à qualquer manifestação, jogando-se no mundo do desconhecido em busca de algo sólido e concreto. É este nosso louco interior que nos empurra para a vida, nos levando ao auto-conhecimento. Quando encontramos este louco interior, estamos em contato com o vazio natural e com o silêncio interior. É o momento mais livre da vida. Um tolo, um Louco, um bobo, um idiota é, para muitos, uma representação de inferioridade chocante ou selvagem, mas O Louco humilha o sábio e arrasa o prudente segundo o seu mundo de despojamento. Ele é um auto-retrato irônico de si mesmo, porque ele convive com a verdade abissal das coisas. Jovem sem metas, amante descuidado do todo ou pessoa que não vai a lugar nenhum, O Louco, num divino alerta de seu elegante “seja feita a sua vontade” nos ensina a purificar um fator em nós, guiando com prazer nossas oposições dualistas comprometidas apenas com a gestão da inautenticidade social e política em que todos vivem. Espetáculo de surpresas para as nossas costas bem reservadas, contraste e desobediência só aos olhos do mundo, numa conduta de mortificação de toda a preocupação consigo e com o mundo, O Louco resulta em escândalo geral da vontade própria
Atualização
Há 4 anos
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