Logo pela manhã “Alra” fez do seu hidratante caseiro uma porção mágica. Ela misturou treze ingredientes: sumo de babosa (poupa batida no liquidificador), mel, perfume, cravo da índia, alecrim, erva-doce (funcho), óleo de amêndoa, alfazema, pimenta do reino, hortelã, açafrão, canela e louro. Junto a isso ela colocou um papel dobrado em três vezes com a seguinte escrita: “Estou me preparando para encontrar um homem que me amará, me será fiel, me fará muito feliz e realizada enquanto mulher”. Depois disso ela esteve me relatando suas lembranças oníricas:
“Hoje a noite foi longa. Embora eu não me sinta vitoriosa com relação as mudanças que pretendo realizar na minha personalidade, posso dizer que meus sonhos já não são os mesmos. Novamente vou relatar por lembranças. Na primeira eu estava num local que parecia uma escola, participando de uma reunião. Estava chovendo e no momento de ir embora calcei minha meia e tênis que estavam ensopados. Não tinha como eu ir embora descalça e o jeito era encarar de ficar com o pé frio. Como a chuva não cessava, fui conversar com a professora de educação física para passar o tempo até acabar a aula de uma colega que poderia me dar carona. Falei com a professora sobre as mudanças tidas, pois antes os alunos tinham aula de natação ou esporte com bola e, em tal momento, estavam tendo apenas aula de artes. Eu não considerava que artes fosse educação física e comentei que gostava da época da natação. Não lembro dos detalhes da conversa, mas depois de algum tempo fui procurar pela suposta colega. No que saí por um corredor, verifiquei que haviam salas de aulas e quartos. Notei que ali era um internato e não apenas uma escola. Nisso foram aparecendo vários adolescentes e me senti perdida no local enquanto lembrava de que, quando jovem, tivera vontade de estudar num colégio interno.
Na segunda eu caminhava por uma feira de pássaros e tinha um passarinho amarado a uma coleira (como se fosse um cachorro). Nisso passei por uma checagem de pontos de alguém disse que eu houvera sido desclassificada e não participaria da festa. Não aceitei aquilo e disse que eu pagara pela festa e ninguém me falara sobre regras de classificação. Falei várias vezes sobre a exigência dos direitos que eu tinha já com a certeza de ganhar a causa e participar da festa. Algumas pessoas do estabelecimento concordavam comigo, mas não lembro o restante.
Na terceira meu pai me trouce duas rolinhas que havia conseguido pegar. Segurei-as cada uma em uma mão, mas elas queriam escapar e meu pai junto a outras pessoas que estavam perto, minha mãe e não sei quem mais, começaram a dizer que eu não sabia segurar direito e a darem palpite. Achei chato todos quererem impor um jeito ideal e correto de segurar as rolinhas, pois, estando com as duas mãos ocupadas, ficava difícil seguir os palpites. Enquanto eu pelejava para segurar da maneira como eles queriam, vi as rolinhas transformarem-se em dois grandes ratos. Continuei segurando-os com cuidado e encantada com os mesmos, ou seja, no sonho os dois ratos me pareceram tão interessantes quando as rolinhas.
Na quarta eu fazia parte de uma comissão organizadora de formatura da escola e depois de nos reunirmos para planejar várias coisas, fomos para a sala de aula. Lá foi sorteado alguns potes de sorvete e acho que isso já fazia parte de uma rifa para arrecadação de dinheiro. Haviam três potes de sorvete de chocolate e três de creme. Os de chocolate foram distribuídos primeiro e o engraçado é que um dos rapazes que ganhou comeu um pouco e depois me deu o restante. Alguém comentou que não entendia porque ele havia dado o restante justamente para mim. Eu também fiquei surpresa e feliz. Quando fui comer percebi que o sorvete em verdade era ou parecia um arroz doce de chocolate. Era gostoso, mas um tanto enjoativo e deixei com que as colegas mais próximas saboreassem do mesmo também, até que me senti satisfeita e deixei para elas. Foi um sonho muito agradável onde eu me senti prestigiada e exerci a generosidade da partilha. Embora fosse um sorteio, havia um clima de desprendimento, amizade e confraternização muito agradável. Por fim lembro de alguém sugerir que os dinheiros arrecadados deveriam ser empregados na Petrobras até que chegasse a formatura em si.
Na quinta eu estava em uma festa que acontecia numa casa que era minha, embora não fosse essa atual donde moro. Num determinado momento dividiram-se várias turmas para atividades separadas. Embora nenhuma delas me agradasse, fiquei com um casal que estavam jogando peteca. Por várias vezes a peteca vinha em minha direção e eu a devolvia não estando a fim de jogar. Pensei de ir dormir já que, enquanto residente no local, poderia ter essa vantagem. De todo modo fiquei por ali mais um pouco a observar o bate e rebate da peteca. Pouco depois eles cansaram de jogar e comecei a conversar com o jovem. Não lembro do assunto, mas eu sentia uma sensação muito boa de domínio e fascinação sobre ele. Por fim começamos a conversar muito próximo e a ultima frase que lembro de dizer num sussurro próximo do ouvido dele foi: 'você tem algum mistério'. Eu estava maravilhada com a minha sensação de poder e, principalmente, por constatar que conseguira tão facilmente fazê-lo me admirar e se interessar profundamente por mim. Interessante que não era ele quem me transmitia essa sensação, mas era eu quem tinha certeza disso por mim mesma. Foi um sonho impressionante".
Na segunda eu caminhava por uma feira de pássaros e tinha um passarinho amarado a uma coleira (como se fosse um cachorro). Nisso passei por uma checagem de pontos de alguém disse que eu houvera sido desclassificada e não participaria da festa. Não aceitei aquilo e disse que eu pagara pela festa e ninguém me falara sobre regras de classificação. Falei várias vezes sobre a exigência dos direitos que eu tinha já com a certeza de ganhar a causa e participar da festa. Algumas pessoas do estabelecimento concordavam comigo, mas não lembro o restante.
Na terceira meu pai me trouce duas rolinhas que havia conseguido pegar. Segurei-as cada uma em uma mão, mas elas queriam escapar e meu pai junto a outras pessoas que estavam perto, minha mãe e não sei quem mais, começaram a dizer que eu não sabia segurar direito e a darem palpite. Achei chato todos quererem impor um jeito ideal e correto de segurar as rolinhas, pois, estando com as duas mãos ocupadas, ficava difícil seguir os palpites. Enquanto eu pelejava para segurar da maneira como eles queriam, vi as rolinhas transformarem-se em dois grandes ratos. Continuei segurando-os com cuidado e encantada com os mesmos, ou seja, no sonho os dois ratos me pareceram tão interessantes quando as rolinhas.
Na quarta eu fazia parte de uma comissão organizadora de formatura da escola e depois de nos reunirmos para planejar várias coisas, fomos para a sala de aula. Lá foi sorteado alguns potes de sorvete e acho que isso já fazia parte de uma rifa para arrecadação de dinheiro. Haviam três potes de sorvete de chocolate e três de creme. Os de chocolate foram distribuídos primeiro e o engraçado é que um dos rapazes que ganhou comeu um pouco e depois me deu o restante. Alguém comentou que não entendia porque ele havia dado o restante justamente para mim. Eu também fiquei surpresa e feliz. Quando fui comer percebi que o sorvete em verdade era ou parecia um arroz doce de chocolate. Era gostoso, mas um tanto enjoativo e deixei com que as colegas mais próximas saboreassem do mesmo também, até que me senti satisfeita e deixei para elas. Foi um sonho muito agradável onde eu me senti prestigiada e exerci a generosidade da partilha. Embora fosse um sorteio, havia um clima de desprendimento, amizade e confraternização muito agradável. Por fim lembro de alguém sugerir que os dinheiros arrecadados deveriam ser empregados na Petrobras até que chegasse a formatura em si.
Na quinta eu estava em uma festa que acontecia numa casa que era minha, embora não fosse essa atual donde moro. Num determinado momento dividiram-se várias turmas para atividades separadas. Embora nenhuma delas me agradasse, fiquei com um casal que estavam jogando peteca. Por várias vezes a peteca vinha em minha direção e eu a devolvia não estando a fim de jogar. Pensei de ir dormir já que, enquanto residente no local, poderia ter essa vantagem. De todo modo fiquei por ali mais um pouco a observar o bate e rebate da peteca. Pouco depois eles cansaram de jogar e comecei a conversar com o jovem. Não lembro do assunto, mas eu sentia uma sensação muito boa de domínio e fascinação sobre ele. Por fim começamos a conversar muito próximo e a ultima frase que lembro de dizer num sussurro próximo do ouvido dele foi: 'você tem algum mistério'. Eu estava maravilhada com a minha sensação de poder e, principalmente, por constatar que conseguira tão facilmente fazê-lo me admirar e se interessar profundamente por mim. Interessante que não era ele quem me transmitia essa sensação, mas era eu quem tinha certeza disso por mim mesma. Foi um sonho impressionante".
Inicialmente quis uma explicação: porque “Alra” julgava que seus sonhos já não eram os mesmos? Sua resposta foi: “Creio que talvez nem sejam meus sonhos que estejam diferentes, mas eu mesma com relação a eles. Os sonhos, tanto compensatórios quanto conflitivos tem me parecido mais focados, de forma que eles mexem comigo no ponto exato das minhas vontades ainda não realizadas ou das necessidades de mudança. Sinto a dinâmica dos mesmos e já consigo entendê-los e valorizá-los de uma outra maneira”. Em seguida analisei seus sonhos:
Na primeira lembrança, o sonho remete possivelmente a esse tempo em que aflora sua vontade ou intenção de estudar em um internato. Se ela estivesse em um processo psicoterapêutico esse poderia ser um alvo da investigação. Pode ter sido um momento marcante que define a sua relação com o coletivo: estaria por trás disso a escolha de se enclausurar, ou seria a fantasia de viver coletivamente com outros iguais que sofresse a mesma pressão, o mesmo isolamento, o mesmo cenário? Considerando esse detalhe é possível que essa vontade compensasse, já naquele momento, a pressão que sofria, e o internato pudesse ser a busca de relações de igualdade.
Na segunda, passarinho na coleira é significativo de um elemento fora de sua natureza, de desconhecimento de identidade, de espírito aprisionado e não identificado, de passarinho que não canta, mas que late. Como sonho de confronto, ele a expõe ao desafio de ter que defender seus direitos e há mudanças nessa dinâmica, na sua forma de responder, pois deixa de ser a agressiva brigona, ou o espírito aprisionado na corda guia, para ser o sujeito que se utiliza das armas da lógica para fazer valer seus direitos. A dinâmica indica mudança.
Na terceira ocorre a metamorfose da rolinha Franciscana em Rato. Possivelmente foi mais apropriado, adequado, em seu comportamento defensivo, ser fugidia como um rato do que ser prisioneira como um pássaro. De qualquer forma, esquecendo a transformação, preferi focar o rato nas mãos: pode ser indício de ter em mãos, sob o seu controle, esse animal símbolo do submundo, da sarjeta, das sombras, pestilento, e o mais importante na situação: defensivo, desconfiado, esperto e oportunista. O espírito jovem e ingênuo da rolinha se transforma no rato, amargo e sombrio. O rato que agora “Alra” passa a ter sob o seu controle, em suas mãos, para dar a esses conteúdos o destino que escolher. Por enquanto há o encanto da vitória e da descoberta.
Na quarta pareceu-me que, com o crescimento e com a transformação, ocorreram a descoberta e a libertação do aprisionamento na fantasia. A criança encantada com doce, quando satisfaz o desejo, se liberta porque percebe a saturação do paladar. O desejo enquanto fantasia aprisiona, mas vivido pode ser libertador. Assim, quando vivemos na época certa a satisfação de nossos desejos, nos libertamos para poder buscar novas realizações, ficando mais fácil partilhar e permitir que os outros possam também experimentar para se libertar satisfazendo seus desejos. Quando esses desejos ficam camuflados eles se agigantam e podem se tornar desvios desastrosos na vida de um individuo.
Na quinta, bem como em todos os cenários construídos nas lembranças anteriores, houve seu envolvimento e sua relação com o coletivo. El tal lembrança ela aparece fazendo prevalecer sua vontade e escolha. Lembrei-lhe de sonhos anteriores onde a recorrência era de ser conduzida, mas neste apareceu de forma clara ela fazendo uma escolha. Podemos nos permitir ser conduzidos, mas a vida cobra de nós essa postura autônoma donde precisamos nos conduzir, fazer nossas escolhas e nos comprometer com nossos propósitos. E na sequência há o aumento do seu poder pessoal, da sua sedução, da iniciativa, da sua manifestação sem medo da crítica ou do julgamento, permitindo aflorar o seu poder de mulher feiticeira, aquela que deixa vir a tona a sua cigana, a mulher forte que vive em si, que canta, dança, encanta, que é livre para ir e vir, para realizar suas escolhas, definir destinos lendo as pessoas e, principalmente, que é responsável e comprometida com aquilo que provoca no mundo. Como “Alra” já notara, existem sonhos que possuem significados míticos, que ultrapassam a nossa noção de tempo, e outros que são como que corriqueiros. Aconselhei-a de não se enganar, pois viver apenas de caviar poderia ser enjoativo e cansativo. Muitas vezes o caviar vem numa hóstia como alimento eucarístico, verdadeira graça, como o pão do dia a ser degustado. É preciso calma e paciência, pois às vezes o rico e grandioso fica escondido, na aparência do banal. E mesmo que sejam apenas sonhos de atualização, rotineiros, são significativos para que possamos acompanhar a dinâmica da inconsciência e seus processos. COLABORAÇÃO ESPECIAL: M. EDUARDO
APOIO: A_LINGUAGEM_DOS_SONHOS
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