Resposta de Sonho com mamãe grávida e tabajaras...

Disse para “Alra” que seu sonho revelava atitudes de submissão, as quais favoreciam a omissão. Omissos se fazem de submissos e submissos em geral são omissos, pois entregam a responsabilidade de ações, iniciativas e intervenções ao outro. Desta forma ficam à parte da tomada de decisões importantes e são levados por aqueles que se responsabilizam, se comprometem e não se omitem por, naturalmente ou forçadamente, não temerem a reação de suas ações e por não carecerem de demasiado senso de proteção perante suas tomadas de posições. Os fortes enfrentam os desafios e carregam os fracos que se acovardam tornando apenas uma sombra encolhida, submissa e dependente. Neste aspecto o sonho a confronta com suas atitudes de dominada e submissa, já que realçam sua impotência e a condução de sua vida em momentos conduzidos pelo “outro”, no caso, a irmã. Assim, a mãe é abandonada por “Alra” através da postura de abandono da irmã.
Muitas vezes, em comportamentos manipulativos, deixamos que o outro faça o que gostaríamos de fazer. Assim não colocamos a cara na frente, ficamos protegidos e deixamos o outro se expor e carregar a pecha daquilo que evitamos. Assim é mais fácil condenar e julgar o outro ficando escondido “atrás do muro”. Nisso está a falta de iniciativa que “Alra” carrega como sendo um de seus males. A realidade nos exige que saíamos detrás das máscaras, das defesas neuróticas, e que nos exponhamos aos impactos e acontecimentos da vida, já que não dá para ficar escondido dentro de casa, a suposta “toca” de “Alra”. A realidade exige posicionamento e maturação de todos. O sonho anuncia ansiedade, angústia, tensão e fuga. Além do mais, demonstra o grande risco de que “Alra” possa estar agindo da forma como condena nos outros, ou seja, abandonando-os. Está implícito que o maior abandono é o que comete com os seus propósitos, com a condução da sua vida, mas este abandono é projetado no outro em forma de carência pessoal, de julgamento e criticidade.
A segunda parte mostra a vinculação de sua dependência afetiva. Crescer significa abandonar a pele velha para deixar a nova nos revestir. Morrer o velho para permitir o nascimento do novo. E mesmo que conceitualmente “Alra” já saiba que é irracional se sentir ameaçada pelo nascimento de uma criança, a atitude infantil é competitiva, resultante de quem se recusa a se assumir como adulto, se escondendo na necessidade de se manter criança, mesmo que como filha mal amada. É desta forma que “Alra” busca manter a dependência de sua mãe, mantendo a culpa e a responsabilidade dela nos seus cuidados. Percebi que para “Alra” era difícil acreditar que ela ainda fosse assim, mas disse-lhe abertamente que o sonho lhe mostrava mantendo-se criança, dependente, submissa, carente, frágil, encontrando a justificativa para aprisionar a mãe como objeto de seu domínio. O momento em que “Alra” se “desliga” de sua irmã é o prazo que tem de recuar para resgatar os óculos. Este resgate é a busca do seu ponto de vista, da sua forma de olhar o mundo, do instrumento que lhe permite olhar a realidade com os seus próprios olhos, ou seja, abandonando a cegueira. Assim ela toma atitude e sai da proteção familiar. Internamente isso já estava acontecendo com “Alra” (ao menos em tentativa inconsciente).
O preço de se lançar no mundo é romper a simbiose, esquecer a mãe e a necessidade de manter-se vinculada a “barra de saia” materna. No inicio é assim, o individuo se lança no mundo e se descobre perdido, sem rumo. Paradoxalmente, neste momento, começa a jornada de retorno à casa. O bom filho a casa torna. Precisamos encontrar o caminho de volta. Isso representa o resgate do pessoal, da referência própria. É assim que voltamos não mais como uma criança dependente, mas como um adulto que encontrou parte do seu destino, da sua individualidade e pessoalidade. Talvez o aviso do caboclo seja referência do homem malvado que incita “Alra” a se jogar no escuro sem manter-se presa ao medo, ao passado, as neuroses, etc. O aviso tem a ver com o risco que precisa correr para se lançar na sua jornada pessoal. O caboclo neste caso, entre outras significações possíveis, tem a ver com conteúdos de inconsciente que estão tentando focar sua atenção no seu compromisso de realizar as mudanças que se fazem necessárias, na sua vida, para que possa realizar plenamente sua maturação. Essa foi a mensagem de tal sonho.

COLABORAÇÃO ESPECIAL: M. EDUARDO
APOIO: A_LINGUAGEM_DOS_SONHOS