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domingo, 23 de maio de 2010

Renascimento praticado...


“Olá! Há um bom tempo que eu não fazia o exercício de respiração, pois sempre que faço me aflora sentimentos pesados e ruins que demoram para me fazer voltar ao normal. Como eu estava me sentindo estranha, resolvi que deveria fazer o mesmo, pois sentia estar existindo algum sentimento desequilibrado dentro de mim. Respirei um pouco e fui invadida pelo choro. Senti tristeza, melancolia, um abatimento fatal sem explicação justificável. Quando comecei a melhorar pensei em parar julgando que já estivesse boa. Entretanto, queria ir mais a fundo para ver se descobria ou sentia algo mais. Pois não demorou muito e comecei a sentir raiva, ódio profundo e desse sentimento eu entendi a causa: ser preterida. Aflorou-me na mente todas as vezes que fui preterida, o quanto eu detestava minha mãe por achar que ela gostava mais de minha irmã. Em verdade, toda a família apontava as qualidades de minha irmã para humilhar meus defeitos. Minha irmã era a despachada, a rápida, a comunicativa, aquela que se expressa bem, a esperta para tudo, a companheira ideal para ir às compras com mamãe, a decidida, a super inteligente, a super esforçada, aquela que sabe se virar e não depende de ninguém para nada, pois até mesmo quando depende da 'gorjeta' materna, sabe fazer por merecer. Como não me sentir a gata borralheira? E falando em gata, até mesmo o gato que tínhamos, chamado Xanim, preferia a minha irmã. Eu passava madrugadas inteiras tirando ele da cama da minha irmã e colocando na minha, mas ele mil vezes durante a noite voltava para a cama dela sem dormir comigo. Ela tinha um gato, mas eu não. Ela dizia que eu mexia muito na cama e que o gato não gostava disso. Que raiva do gato! Até para dormir minha irmã era melhor do que eu, pois pegava mais rápido no sono e dormia sem se mexer. Eu sempre ficava acordada remoendo minha preterição.
Hoje em dia, incrivelmente, é como se eu houvesse tido duas mãe, uma naquela época de criança e outra depois de uns anos após a morte do meu pai. Quando analiso isso, vejo o quanto Deus escreve certo por linhas tortas. Acho que nunca teria me aproximado de mamãe se a vida não nos colocasse na condição de duas solitárias enclausuradas dentro dessa casa. A saída de minha irmã de casa ao se casar, o que aconteceu quatro anos antes de papai morrer, foi providencial para amenizar a minha situação com mamãe. Mesmo assim, ainda demorou bastante para eu vir a gostar de fato dela. Se eu for ser bem real e sincera, creio que só de uns dois a três anos para cá é que passei a considerar minha mãe como uma verdadeira mãe e sentir amor por ela. Até então eu achava-a histérica e chata. Ela fumava e eu a repudiava por isso. Quando criança, eu sempre jurava a mim mesma que, se um dia ela e papai se separassem, eu ficaria com ele nem que tivesse de ameaçar tirar minha própria vida. Não lembro das brigas, mas sei que elas existiam sim. Em todas elas eu me sentia mal, pois eu era a cópia de personalidade do meu pai e nunca via razão na figura materna. Além do mais, meu pai era o protetor amigo, o único, mas o único mesmo a se importar comigo. Se essa não era a verdade, o que importa é que era a maneira como eu sentia tudo. Natural que eu tenha ficado mais viúva do que minha mãe com a morte de papai. Eu não tinha intimidade com ele por causa da timidez, entretanto, uma vez que não tinha intimidade com ninguém, ao menos sentia que ele tratava minha irmã da mesma forma que eu. Além disso, existia o trunfo dela não ser filha dele, o que para mim significava uma vantagem. Eu não sentia as pessoas gostarem de mim, mas sim terem pena. A única pessoa que eu sentia gostar de mim além da figura paterna era a minha tia Anita, a qual eu considerava minha verdadeira mãe. Ela faleceu no mesmo dia e mês que meu pai, porém quatro anos depois. Intrigante coincidência.
Vou confessar que andei tendo certa resistência de fazer o exercício de respiração por me chocar com esses sentimentos ainda represados. É preciso coragem. Eu revivi o desprezo que o mundo sentiu por mim enquanto respirava. Desprezo e preterição na escola, nas amizades, nos relacionamentos, no campo profissional, enfim, em praticamente tudo. Revivi o quanto fui carente, solitária, abandonada e usada. Ainda estou um pouco em choque, abalada com o redemoinho emocional. Espero que isso não demore muito a passar. Vou te dando notícias... Um grande abraço e até qualquer outra hora”.
(E-mail enviado para uma amiga)

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