“___ Através dos sonhos nos autoconhecemos a um nível inconsciente?”
Respondi-lhe que o inconsciente são as águas primordiais, o oceano da vida, de onde se origina a nossa vida. É como a reserva e a conexão com a essência do universo, portanto inacessível, mas como bem o disse Jung: anseia por luz. E este é o propósito: considerá-lo, não perdê-lo de foco, para iluminar aquilo que for possível ou passível de iluminação. Os sonhos, como produto do inconsciente, nos permite conectar e conhecer uma tendência de sua dinâmica, ou uma mensagem que ele queira nos comunicar. Quando abrimos as portas para compreender esta linguagem, abrimos a possibilidade de integrarmos à consciência, e portanto, à nossa vida, conteúdos e energia resguardos, representados e vivos neste universo desconhecido.
“___ Seria como ter acesso ao ponto primordial de todas as nossas crenças, conceitos, bloqueios, temores, etc., tanto de forma individual quanto coletiva?”
Muito mais do que conceitos, crenças ou medos. O sonho é esse acesso, permite nos conectar a essa raiz primordial de nossa gênese. São conteúdos carregados de simbolismo, referências, dados, princípios e conceitos que indicam a gênese e que buscam a integração, ou seja, um canal de comunicação e relação com o universo como o conhecemos. Não nascemos do nada, mas a partir de uma matriz genética, que além das informações que permitiram a constituição e formação do ser, ainda o rechearam com dados, configurações de funcionamento e informações que servem como referência para que ele tenha um mínimo de possibilidades de se gerir como indivíduo autônomo e como extensão da natureza para avançar no projeto básico da evolução dessa matéria. Além dos conteúdos herdados, novos se formam e se constituem tornando fatores determinantes no processo de desenvolvimento, regularização, ordenação e atualização deste novo ser que também será transformado em matriz, na dinâmica de preservação e perpetuação da espécie.
“___ A dinâmica interna de mudança decorre dessa liberação de emoções do inconsciente levadas à atenção da mente consciente, a qual nos faz mudar a própria personalidade para manter a estabilidade mental e emocional?”
Existe uma tendência natural de preservação. Quando o sujeito acredita ser determinante e deixa de considerar sua fonte interior, ele se coloca em contraposição a sua força. Ao cometer este equívoco, ele se torna alvo do imponderável, de uma força ou de múltiplos núcleos de forças que, a partir de seu interior, podem invadir a consciência e até aniquilá-la, sendo o caso de distúrbios mentais, comportamentos destrutivos e autodestrutivos. Não buscar essa mudança reguladora desencadeia aos poucos um manifesto patológico em sinal de desordenação, desregulação e caos interno. A consciência pode iluminar este universo desconhecido, transformar, metamorfosear e incorporar conteúdos originários desta dimensão interna, tanto como configurações mentais de consciência podem favorecer conexões e configurações apropriadas para que transformações de consciência possam ocorrer. Esse processo acontece de forma contínua num ciclo permanente de trocas e interações entre o inconsciente que é ligado ao universo pelo interior e a consciência que é ligada à nossa realidade no universo pelo exterior. Hoje sabemos que a partir da matriz genética somos ordenados por conteúdos arquetípicos que precisam ser considerados por nós, já que eles indicam referências de princípios que foram incorporados na constituição da sociabilidade humana. Tais princípios envolvem parâmetros como justiça, base de troca, valores, relação com o divino, ética, hierarquia, etc. São configurações que preservam a natureza da espécie humana, sua relação com o mundo e com o universo.
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