Obrigada pela visita!

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terça-feira, 18 de maio de 2010

Sonho (respondido) de sensações ruins...

Tive muitos sonhos negativos essa noite e creio que, exatamente por isso, não consigo lembrar direito. Vou chamá-los de sensações, pois não lembro o começo e nem o desfecho, apenas um entremeio vago. Primeira sensação: eu estava dentro de um carro que, ao ser retirado da garagem, foi batido por outro carro e empresado contra um caminhão. Fiquei num espaço muito apertado na direita traseira e, agoniada, queria sair rápido dali, mas alguém me disse que não era para sair, pois o pior já acontecera e o perigo já passara. Eu estava muito assustada e essa pessoa dizia que sair correndo desesperada e sem rumo seria em vão, mas todos os meus impulsos eram para agir em fuga e seria o que faria se não sentisse autoridade e confiança (cujo meu medo quase se fazia maior) por parte da pessoa que me falava. De todo modo, apesar da hesitação, não sei se fiquei ou não. Segunda sensação: eu estava numa escola enorme, numa parte que parecia um museu cheio de tapetes, cortinas e moveis de madeira escura repletos de relíquias (bonequinhos de cerâmica) que num pequeno esbarrar poderiam se quebrar aos montes. Eu estava com pressa e quase deixei quebrar alguns. Eu não deveria estar transitando por ali. Entretanto, por mais que eu conhecesse toda a escola, fiquei perdida, pois estava escuro e eu não conseguia encontrar a saída que dava acesso à outra parte do local. Fui ficando muito aflita, pois eu estava atrasada e acabaria perdendo a prova. Seria um bom sonho, por causa do local interessante, se não fosse minha agonia para conseguir sair dele e chegar na sala de aula.
Terceira sensação: um casal de noivos recém-casados saíram da festa e foram para um quarto. O noivo queria dormir ali, mas ela achou que não seria bom, pois no dia seguinte todos estaria lá para acordá-los e tirar a privacidade deles querendo saber como havia sido a noite de núpcias. O vestido de noiva dela era muito bonito: todo branco, forro de cetim sobreposto com um segundo vestido de renda bordada e uma calda comprida leve. Eu assistia aquela cena como se eu fosse a noiva e ao mesmo tempo como se eu fosse apenas uma observadora. Quarta sensação: eu estava ao lado de um homem casado que um dia havia gostado de mim. Senti-me melancólica não pelo fato dele ter casado, mas sim por ter deixado de gostar de mim igual anteriormente. Senti que eu poderia ter gostado dele se ele houvesse sido mais insistente. De toda forma, eu não me arrependia de não tê-lo querido no passado e nem pensava em ter nada com ele além de amizade em respeito a seu atual casamento. Quinta sensação: eu estava num local donde acontecia um processo de exorcismo. Eu segurava uma janela pequena de madeira (ela era de frestas e por trás havia uma cortina preta), pois espíritos malignos queriam entrar e me atacar. Nisso uma ratazana furou a janela e mordeu meu dedo. Ao ver o sangue eu fiquei com raiva e enfiei um pegador de roupa na goela do bicho soltando-o pela janela do prédio. As demais sensações são tão vagas que nem vou tentar descrevê-las.
Já próximo ao despertar, tive um sonhos que conservei melhor em mente. Minha mãe me chamou para ir com ela num banheiro público. Não sei em que tipo de local estávamos. Ao chegar no banheiro feminino haviam dois homens transitando lá dentro. Minha mãe sem ao menos fechar a porta, fez as necessidades dela enquanto eu, de longe, olhava a cena estando estarrecida pela tranquilidade de minha mãe e indignada pela presença (que parecia natural) dos homens. Nisso o local transformou-se noutro que não sei ao certo o que era. Visualizei uma grande quantidade de homens e mulheres, sendo que um deles se aproximou de mim. Era meu marido (incrível a recorrência de ser casada! Já estou perdendo a conta dos maridos oníricos que venho tendo ultimamente). Saímos conversando do local. Logo em seguida eu parei num campinho de futebol para jogar bola com alguns rapazes (eu jogando bola é hilário, pois nunca tive vontade de praticar tal esporte). Entretanto, eu estava terminando de comer um sorvete com sucrilhos e sentei-me para acabar de raspar o copo, pois estava complicado chutar a bola e comer ao mesmo tempo. Nisso eu já estava era no sofá de uma casa. Eu terminei de comer, joguei o copo descartável fora, peguei a chave, tranquei a porta e saí. Não lembro mais nada. Desculpe a sinceridade, mas me parecem sonhos tão tolos que só estou relatando-os por saber que talvez você possa me clarear o entendimento perante os mesmos. É possível?


Respondi-lhe por sensações: na primeira a colisão demonstra um nível elevado de tensão. O conflito (batida) indica estar submetida a uma pressão elevada (seja por exigência externa ou severidade das cobranças pessoais). Sonhos de batida espelham esses conflitos e tensões manifestando as angústias ou depressões mascaradas. No sonho aparece o conflito, a conturbação e a resposta de fuga. A necessidade de fuga é a resposta que “Alra” desenvolveu para lidar com o nível de conturbação que se induz. Ela se conturba, se atormenta e foge para as fantasias. Neste momento a psique indica que é necessário interromper este ciclo, parar de se encher de tormentos que justifiquem comportamentos de escape e fuga da realidade. Outro aspecto é que o cenário atual exige mais do que “Alra” vem sendo capaz de suportar, o que aumenta a sua demanda para escapes. Há referência à sua condição de dependente, pois a cena donde o carro foi retirado da garagem indica sujeito indeterminado que anuncia a condição de dependência, o que por sua vez, representa uma situação que exerce um aumento de pressão e aumenta a complexidade da vida de “Alra”.
A psique possui mecanismos que nos protegem de estados de desordem. Temos um limiar de resistência que nos protege dos impactos da realidade sobre nós. À medida que esses impactos aumentam sua pressão, nosso limiar de resistência aumenta para resistir e proteger o sistema dentro de um determinado nível de segurança para manutenção do equilíbrio. O sistema sofre dois tipos de pressão: 1. Interno - originário da consciência, de núcleos compulsivos que acionamos ou mobilizamos e de núcleos autônomos que invadem a câmara do pensamento; 2. Externo - originários nos fatos e exigências da realidade e de fontes diversas. O mecanismo de adaptação bio-psicofísico, detecta a necessidade de aumento do limiar de resistência, mas não detecta a origem, interna ou externa, da pressão. Isso se dá pois, para a psiquê, essa diferença não existe de forma fenomenológica, além do que, não há a possibilidade de diferenciação entre o que é interno ou externo ao organismo. Outra possibilidade é que a consciência seja considerada um produto externo, um conteúdo em princípio Invasor e não uma aquisição superior. Assim, não há detecção da origem da pressão: a psique que possui o comando geral do organismo aumenta o limiar de resistência e altera as configurações de detecção de descompensações biofísicas, produzindo consequentemente, num ciclo vicioso, aumento dos níveis de tensão interna. Neste aspecto as mudanças também alteram os ciclos biofísicos, aumentam o desconforto físico quando alteram ciclos hormonais e ampliam sensações que promovem desconforto corporal. É como se a psique fosse ficando encantoada.
O resultado disso é o aumento das angustias, da ansiedade, de alterações dos ciclos biológicos e do desconforto psíquico que podem aparecer nos sonhos como uma forma da psique tentar compensar o equilíbrio espelhando a vivência do sonhador. Funciona como uma forma dela se regularizar anunciando o desconforto de quem sonha. Por isso, a forma como conduzimos a nossa consciência é determinante para que esta não seja geradora de aumento dos desequilíbrios internos. Mesmo que o cenário externo seja de tranquilidade, a consciência conturbada pode sinalizar para a psiquê um cenário de ameaça, e a psique reage em estado de alarme, aumentando seu limiar de resistência frente ao impacto da pressão que sofre da consciência conturbada.
Sobre a segunda sensação disse-lhe que sonhos bons não devem ser considerados apenas os agradáveis, em locais ordenados ou que nos dê prazer. Quem dera a vida fosse de orgasmos e êxtases. Neste conceito pode existir um vício e uma suscetibilidade que faz “Alra” focar apenas o agradável. A vida exige cuidado, cautela, atenção, foco e rumo para que em momentos de necessidade saibamos como sair das situações que nos exigem atitudes positivas. O sonho mostra que a angústia permanece, a tensão fica presente, a ansiedade parece instalada e o desconforto a confronta. As cobranças se fazem mais permanentes em forma de testes, confrontos, agonia e aflição. Há desassossego, ausência de sincronia entre o que “Alra” vive e a forma de lidar com as exigências da realidade. Há severidade, tensão, cobranças e atraso inquietante, ou seja, a ansiedade determina o mal estar.
Terceira sensação: O desejo manifesto de “Alra” é casar. O sonho compensa seu desejo. Fica a dúvida entre casar para realizar e satisfazer sua autoestima de ser o foco das atenções, ou casar para realizar o encontro com a sua alma gêmea. Perguntei-lhe: qual o desejo? Inflar a autoestima ou realizar a integração de homem e mulher, masculino e feminino? Se o desejo fosse saciar o ego, o movimento estava sendo feito para realizar o sonho da princesa e o que contaria seria o cenário, deixando o homem ser apenas um objeto coadjuvante do filme que foi construído no imaginário. Se a busca fosse a integração não importaria os outros, pois eles não teriam acesso à privacidade do casal e não haveria como ocorrer uma invasão no caminho de integração. Neste aspecto o medo, ou o desejo oculto, de ser invadida, pode estar associado à indiferenciação de “Alra” com o coletivo e a construção de defesas se fazem necessárias, já que o intento individual é tido como foco para satisfazer a imagem voltada para o coletivo.
Quarta sensação: Quando o futuro é vacilante, o passado é resgatado como referência e surge para que possamos reavaliar os princípios que determinam as escolhas. Arrepende-se quem faz escolhas mal feitas por não pesar devidamente o que deveria ser pesado. No sonho uma característica salta: “Senti que eu poderia ter gostado dele se ele houvesse sido mais insistente”. Aqui a vida de “Alra” e o seu próprio futuro parecem entregues ao poder do outro de fazer, decidir e escolher. Sua decisão é definida pela escolha que o outro faz e, com isso, ela repete o velho padrão de quem sonha e deseja que o outro modifique e transforme a sua vida. Disse-lhe para fazer essa transformação a fim de, no futuro, não se arrepender por omissão ou falta de posicionamento.
Quinta sensação: Quando provocada “Alra” consegue uma reação tendo a iniciativa de responder no mesmo tom. Isto ultrapassa a simples reatividade, pois do âmago surge o que ela é. Por detrás da máscara, aparece a pessoa que responde, que não se permite ser aniquilada, atacada, que não se importa com a imagem de perfeita e de boazinha. A energia, a iniciativa, a capacidade de mobilizar uma ação positiva, um ataque, existe, mas por enquanto está por detrás da janela. Disse-lhe que é preciso conhecer sem medos este lado forte, ativo, determinado e seguro para que possa tirar melhor proveito dele e para que ele deixe de ser um resultado apenas dessa capacidade reativa e pulsional. Significativo é que os espíritos malignos são conteúdos do arquétipo Sombra, conteúdos de inconsciente ainda não integrados e que, segundo Jung, são aquilo que uma pessoa tem o desejo de ser. Essa sombra é o lado negativo da pessoa, a soma das qualidades desagradáveis que o individuo quer esconder, o lado inferior e primitivo da natureza do homem. Para Jung, todos têm esse lado sombra e, quanto menos ele está incorporado na vida consciente do indivíduo, mais negro e denso esse lado é. Quando manifestamos essa sombra podemos reordená-la e, ao contrário, quanto mais a reprimimos ou a isolamos, mais forte ela se torna para romper a repressão e aflorar à consciência. É como um vulcão em erupção. Somo constituídos dessas duas naturezas, luz e sombras, e precisamos iluminar nosso lado sombrio para integrarmos os opostos. Essa repressão exercida sobre o lado sombra aparece na personalidade de “Alra” na severidade de perfeccionismo, na busca incessante de ser e ter uma vida perfeita. É assim que “Alra” acaba pulverizada pela força que armazena, concentra e reprime como se houvesse selado um vulcão com concreto armado.
O ultimo sonho retoma o tema anterior da privacidade. Enquanto no anterior aparece a busca de privacidade, neste ela inexiste e mobiliza em “Alra” uma energia reativa de desconforto frente à exposição, independente do desejo mascarado em medo, ou da necessidade de se expor, o que poderia sinalizar um conflito moral entre um desejo de se expor e a repressão que a leva ao recuo. Também aparece uma severidade que a leva à regras de distanciamento entre masculino e feminino. Naturalmente as regras sociais fazem essa separação, mas “Alra” realça aquilo que parece natural entre mulheres e coloca a figura masculina como invasiva. É interessante que o tema apareça na satisfação das necessidades básica do ser humano, exatamente as que experimentam regras mais rígidas. Entretanto, quando são manifestas em ambiente público, isso inevitavelmente será exposto ao coletivo. No sonho “Alra” toma para si o estarrecimento materno enquanto 'incorpora' a própria mãe no momento de exposição. A troca dos papeis demonstra que ela não se expõe para não estarrecer a mãe. O desejo de casamento, a vontade maior de encontrar um parceiro, a necessidade de namorar e a carência de troca de carícias fica evidente no sonho. Se esses desejos e necessidades não fossem real em sua vida, a sinalização de casamento no sonho seria apenas a dinâmica interna de conteúdos que já se configuram mais integrados.

COLABORAÇÃO ESPECIAL: M. EDUARDO
APOIO: A_LINGUAGEM_DOS_SONHOS

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