"Eu não lembro ao certo que local eu estava, mas havia várias pessoas. Comentei da gravidez que deu errado e um rapaz ao escutar interessou-se pelo assunto e curioso perguntou se eu tentara ter um filho que sofrera aborto espontâneo. Respondi que não e minha irmã me olhou com ar de reprovação. Ainda assim eu completei a fala dizendo que o caso era comigo mesma, que não era para eu ter nascido. Entretanto não estava disposta a falar mais nada na presença de minha irmã e só completei dizendo que era uma longa história. Ele perguntou se algum dia eu poderia lhe contar e disse que sim, talvez num momento mais propício. O ar de reprovação da minha irmã sentenciava que eu não devia contar minúcias da minha vida a um desconhecido. Embora não concordasse por não ver malefício algum em contar sobre meu nascimento, preferi fazê-lo quando sentisse livre da presença dela. Talvez minha irmã não concordasse com a idéia que eu refletia sobre meu próprio nascimento, mas não senti que seu olhar repreensivo tenha sido por isso. Na vida real eu nunca pensei que não era para eu ter nascido, mas no sonho eu falei isso com tanta certeza que acordei impressionada. Uma pessoa até pode causar a própria morte antes da hora planejada de morrer, mas acredito fielmente que ninguém nasce se não tem de nascer e isso me fez perguntar a mim mesma: teria eu atentado contra minha própria vida ainda na fase uterina? Minha vontade de não existir nessa vida era suficiente para eu pensar que não tinha de nascer? Havia melancolia como se eu houvesse nascido por minha própria imprudência ou insuficiência e agora estivesse pagando um preço condizente com algo que não era para ser. Minha vida soou como sinônimo de castigo. Tal sonho me soa como um absurdo, mas se sonhei com isso deve haver alguma mensagem válida. Qual seria?”
Pareceu-me que "Alra" carrega há anos a idéia de flagelo e culpa. Aconselhei-a para romper com esses preceitos incorporados sabe-se lá de quem. Ela está viva e, se não era para ter nascido, nasceu! Já que nasceu, devia cumprir seu destino de vida (viver) e não seu destino de morta (morrer). Existem questões que não nos coube pelo absurdo e insólito que se mostrou. Se "Alra" vive é graça de direito divino e se não abre espaço para realizar sua demanda pessoal, entra em uma bomba energética que pode provocar doenças orgânicas de todos os matizes possíveis como distúrbios e transtornos. É difícil, mas todos enquanto seres humanos carregamos um corpo animal que anseia realizar instintos básicos e administrá-lo definirá sua transcendência. Há quem acredite em flagelo libertador, no chicote, no sofrimento, na punição, no castigo, o qual pode ser consciente externo ou inconsciente interno. A escolha é de cada um. Viver não é uma festa. Exige-nos, permanentemente, no limite, mesmo em cenários de orgasmos, abandono e lassidão. E não nos resta, em consciência, outra atitude senão atravessar esse melancólico vale de sofrimentos. Dependendo da forma como o atravessamos temos a chance de aplacar as dores e encontrar caminhos sublimes e suaves, até mesmo alongar esses momentos como se nos blindássemos por méritos e conquistas nos confrontos e no dever cumprido. O recado do sonho era: Não faça a vida mais difícil com tanta severidade, punição e perfeccionismo. Sinta-se simplesmente humana e mulher.
COLABORAÇÃO ESPECIAL: M. EDUARDO
APOIO: A_LINGUAGEM_DOS_SONHOS
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