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sexta-feira, 10 de abril de 2009

A vigília na Umbanda

Depois de exercitar-se no Parque do Sabiá e tomar um banho de três rosas vermelhas com água de batata doce, "Ágape" foi para o terreiro de umbanda na vigília de quinta para sexta-feira santa. Exatamente às sete horas conforme marcado, "Ágape" chegou ao local. Pouco depois “Belalú” também chegou. Esta estava nos planos decisivos de participar da corrente de médiuns. "Ágape" não fora convidada para trabalhar em tal terreiro e isso a deixava aliviada. Por mais que amasse a umbanda, para desenvolver a mediunidade e ser efetiva na lida de caridade, o melhor mesmo era contar com a simplicidade de um bom centro “kardecista”. "Ágape" sentia muita falta de executar algo do gênero, mas confiava no fato de sua vida estar nas mãos do Pai do Céu. Ela se sentia imensamente grata por tudo o que vivenciara e aprendera na prática de uma corrente de trabalho mediúnico umbandista, mas não tinha ímpetos de retornar ou reiniciar noutro local. A abertura dos trabalhos da noite se deu com muita prece junto aos pretos-velhos. No atendimento "Ágape" benzeu-se com Vovó Luiza e com delonga de alguns rituais extras, como soltar fogos e queimar pólvora, desceram em terra os Exus já por volta da madrugada. A Pomba-Gira Rainha das Sete Encruzilhadas estava virada para a esquerda e manteve-se mais em reunião com os Exus resolvendo casos particulares. Ao passar por "Ágape" ela apenas deu a entender que havia dois machos próximos, mas em sua seriedade e rapidez não tardou a cumprimentar os demais com o mínimo de prosa e se retirar para ir correr sua gira. Um dos exus foi levado para uma encruzilhada. O terreiro permaneceu com sua equipe de médiuns (que um por um deitavam na esteira para firmar o ponto do orixá) e uns poucos participantes que, predispostos a passar a noite, já começavam a cochilar nos cantos. Depois disso foi servido um jantar com arroz, salada de tomate com alface, frango e macarronada. "Ágape" merendou da macarronada e aprovou o tempero. Ao término, por volta das três horas da madrugada, foi dada uma pausa de descanso e todos acabaram caindo no sono até quase cinco horas da manhã. Para "Ágape" foi um cochilo, já que a posição entre sentada e escorada não ajudava absolutamente de forma alguma a conciliar o sono.
Finalmente o dia começou a raiar e depois de tomar café, os trabalhos retornaram descendo os caboclos, depois incorporando os baianos, boiadeiros, cangaceiros, erês e daí a diante tendo novamente os pretos-velhos e os exus. Ao descobrir que o trabalho não findaria tão cedo (pois emendaria o dia com a noite e desta prosseguia para o sábado de aleluia) "Ágape" esperou até ser liberado o resto do bolo dos erês e depois de matar sua vontade gulosa, pediu licença e benção das entidades que lá estavam a fim de retornar para casa. Já eram nove horas da manhã do dia 10 quando ela chegou ao seu lar. De certa forma e apesar do sono, fora maravilhosa à noite, mas até certo ponto nada de muito especial ou diferente acontecera. Entre os intervalos de incorporação, os médiuns tinham de tomar banho de santo e isso fazia o atendimento delongar-se ainda mais, entretanto, para quem tinha a noite toda para esperar, tempo era o que estava sobrando. Em resumo da vigília, "Ágape" disse-me a seguinte sentença: “O melhor de tudo é que, enquanto estou no meio das entidades, ouvindo o som que tanto adoro dos atabaques e cantando os pontos específicos, esqueço do mundo real e da vida na Terra. Posso dizer que me sinto quase uma desencarnada também. Que consolo saber que uma vida humana aqui não dura mais do que (no máximo) uns cento e poucos anos”. E foi nesse ponto que a nossa conversa findou-se sem mais novidades.

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