Depois de exercitar-se no Parque do Sabiá e tomar um banho de três rosas vermelhas com água de
batata doce, "Ágape" foi para o terreiro de umbanda na vigília de quinta pa
ra sexta-feira santa. Exatamente às sete horas conforme marcado, "Ágape" chegou ao local.
Pouco depois “Belalú” também chegou. Esta estava nos planos decisivos de participar da corrente de médiuns.
"Ágape" não fora convidada para trabalhar em tal terreiro e isso a deixava aliviada. Por mais que amasse a umbanda, para desenvolver a mediunidade e ser efetiva na lida de caridade, o melhor mesmo era contar com a
simplicidade de
um bom centro
“kardecista”. "Ágape" sentia muita falta de executar algo do gênero, mas confiava no fato de sua vida estar nas mãos do Pai do Céu.
Ela se sentia
imensamente grata por tudo o que vivenciara e aprende
ra na prática de uma corrente de trabalho mediúnico umbandista, mas não tinha ímpetos de retornar ou reiniciar noutro local. A abertur
a dos trabalhos da noite se deu com muita prece junto aos pretos-velhos.
No atendimento "Ágape" benzeu-se com Vov
ó Luiza e com delonga de alguns rituais extras, como soltar fogos e queimar pólvora, desceram em terra os Exus já por volta da madrugada
. A Pomba-Gira Rainha das Sete Encruzilhadas e
stava virada para a esquerda e manteve-se mais em reunião com os Exus resolvendo casos particulares. Ao passar por "Ágape" ela apenas deu a entender que havia dois machos próximos, mas em sua seriedade e rapidez não tardou a cumprimentar os demais com o mínimo de prosa e se retirar para ir correr sua gira.
Um dos exus foi leva
do para uma encruzilhada. O terreiro permaneceu com sua equ
ipe de médiuns (que um por um deitavam na esteira para firmar o ponto do orixá) e uns poucos participantes que, predispostos a passar a noite, já começavam a cochilar nos cantos.
Depois disso foi servido
um jantar com arroz, salada de tomate com alface, fra
ngo e macarronada. "Ágape" merendou da macarronada e aprovou o tempero. Ao término, por volta das três horas da
madrugada, foi dada uma pausa de descanso e todos acabaram caindo no sono até quase cinco horas da manhã. Para "Ágape" foi um cochilo, já que a posição entre senta
da e escorada não ajudava absolutamente de forma alguma a conciliar o sono.
Finalmente o dia
começou a raiar e depois de tomar café, os tr
abalho
s retornaram descendo os caboclos, depois incorporando os baianos, boiadeiros, cangaceiros, erês e daí a diante tendo novamente os pretos-velhos e os exus.
Ao descobrir que o trabalho não findaria tão cedo (pois emendaria o
dia com a noite e desta prosseguia para o sábado de aleluia) "Ágape" esperou até ser liberado o resto do bolo dos erês e depois de m
atar sua vontade gulosa, pediu licença e benção das entidades que lá estavam a fim de retornar para casa. Já eram nove horas da manhã do dia 10 quando ela chegou ao seu lar. De certa forma e apesar do sono, fora maravilhosa à noite, mas até certo ponto nada de muito especial ou diferente acontecera. Entre os interval
os de incorporação, os médiuns tinham de tomar banho de santo e isso fazia o atendimento delongar-se ainda mais, entretanto,
para quem tinha a noite toda para esperar, tempo era o que estava sobrando. Em resumo da vigília, "Ágape" disse-me a seguinte sentença: “O melhor de tudo é que, enquanto estou no meio das entidades, ouvindo o
som
que tanto adoro dos atabaques e cantando os pontos específicos, esqueço do mundo real e da vida n
a Terra. Posso dizer que me sinto quase uma desencarnada também. Que consolo saber que uma vida humana aqui não dura mais do que (no máximo) uns cento e poucos anos”. E foi nesse ponto que a nossa conversa findou-se sem mais novidades.
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