Ao final do dia, depois de fazer sua corrida e antes de ir para a casa de sua avó, "Ágape" ainda escreveu a seguinte mensagem para si mesma em forma de quase oração: “Tudo o que manifesto com convicção tende a acontecer. Sei que para mim já está preparada uma melhoria geral e confio nisso. Declaro a mim mesma que tudo o que for para meu bem já me está reservado e acontecerá na hora certa. Eu tenho capacidade para esperar essa hora e nisso ponho fé. Sou positiva e sei que tudo acontece de acordo com o que acredito. Minhas convicções possuem imenso valor. A vida se apressa em realizar o que crio com meus pensamentos e faço deles uma manifestação positiva para mim mesma. Nenhuma pessoa tem um futuro melhor que o meu. Papai do Céu, o tempo, o amor e a vida teceram para mim uma felicidade que está a caminho, a ninguém sendo permitido ocupá-la em meu lugar. Aceito isso como verdadeiro, acredito existir um grande tesouro a minha espera e faço por merecê-lo da maneira como consigo. Oriento meus pensamentos para equilibrá-los. Amo e calo as criticas, lamentações e ofensas. Estou atraindo a felicidade a cada ação, a cada minuto. Sigo meu próprio modelo. Solto a alegria, o sorriso, o bom pensamento e jamais desanimo da boa intenção. Sou feliz pois minha felicidade é estar com Papai do Céu e sentir a completude e perfeição Dele em mim mesma. Obrigada Papai do Céu!”
Ao terminar de escrever tal mensagem, eis uma boa surpresa: "Mateus" acabara de lhe enviar mais um vaso de crisântemos coloridos com a seguinte carta: “Amada de meu viver, você sabe o quanto, assim como você, eu sinto pela nossa distancia física. Você me disse que acha nosso envolvimento complicado, pois às vezes sente que temos as mesmas idéias, mas vidas muito diferentes. Não veja isso como um empecilho, mas como um benefício se soubermos lidar bem com essa verdade. Certa vez li um livro chamado A felicidade, desesperadamente[i]. O livro é a transcrição de uma conferência-debate apresentada por André Comte-Sponville em 1999. Segundo o autor, a felicidade interessa a todo mundo, pois cada homem a procura, principalmente os filósofos, que desde o surgimento da filosofia a tinham como objeto de reflexão. Contudo, os filósofos da segunda metade do século XX deixaram de considerá-la um problema filosófico. André Comte-Sponville resgata a felicidade determinando-na como meta da filosofia e a ‘verdade’ como a norma da filosofia. Isso porque apesar de buscar a felicidade, o verdadeiro filósofo opta por uma tristeza real a uma felicidade ilusória. O autor diz que a sabedoria é necessária por dois motivos: porque somos infelizes e porque somos mortais. Quando temos tudo para ser feliz e não somos, é porque nos falta sabedoria. E sabedoria é saber viver, aprender a viver. Sponville cita o desejo, conceituado por Platão como ‘aquilo que nos falta’. E ser feliz é ter aquilo que desejamos. Mas no momento que temos o que desejamos, o desejo acaba, pois aquilo já não nos falta mais. Então procuramos por outros objetos de desejo. Na medida que o desejo é satisfeito, a felicidade se esvai. Segundo George Bernard Shaw, ‘há duas catástrofes na existência: a primeira é quando nossos desejos não são satisfeitos; a segunda é quando são’. O autor chama de ‘armadilhas da esperança’, porque quando esperamos a felicidade e ela não é satisfeita, sofremos e nos frustramos. Quando é satisfeita, nos entediamos e nos frustramos também. Para escapar deste ciclo o Sponville sugere três estratégias: se divertir para esquecer, alimentar novas esperanças (fuga pra frente) e depositar esperanças em outra vida (salto religioso). Eu sempre percebi você fazendo isso sem nem saber que essas eram estratégias apresentadas por um grande filosofo. Isso me causou admiração de ti, creia!
Outros filósofos achavam as estratégias insuficientes, mas Sponville soube dar sua explicação: Platão, Pascal, Schopenhauer e Sartre, ao falarem dessa ‘felicidade esperada’, se esqueceram ou subestimaram o prazer e a alegria. Prazer e alegria existem quando desejamos o que fazemos, o que somos e o que não nos falta. Sponville define isso como felicidade em ato. Além disso, para ele, Platão, Pascal, Schopenhauer e Sartre esqueceram também de separar o desejo da esperança. Existem três tipos de esperança: a platônica, relativa à falta, onde esperar é desejar sem gozar; a que se refere à ignorância a partir do desejo, onde esperar é desejar sem saber, afinal, nunca esperamos o que sabemos; e aquela que é um desejo cuja satisfação não depende de nós, onde esperar é desejar sem poder. Para desejar gozando, temos o prazer. Para desejar sabendo, temos o conhecimento. Para desejar podendo, temos a ação. Em síntese: A gente espera o que não depende de nós, espera o que não sabemos se vai ou não se realizar, espera o imponderável. A esperança é um desejo que não depende de nós, enquanto a vontade é um desejo que depende de nós. Não há esperança sem temor, nem temor sem esperança. O contrário de esperar é saber, poder e gozar. Só esperamos o que não é; só gostamos do que é. O autor propõe uma felicidade desesperadamente, simplesmente uma felicidade sem esperar. O autor sugere que as pessoas não amputem suas esperanças, mas que aprendam a pensar, querer mais e amar melhor o que estão na realidade do aqui e agora de suas vidas. Aprender a pensar é compreender por si mesma que o desejo vive de sua insatisfação. O desejo jamais é satisfeito porque tem origem e sustentação da falta essencial que habita o ser humano, daquilo que jamais será preenchido e, por isso mesmo o faz sofrer, mas também o impulsiona para buscar realização – ou satisfação parcial – no mundo objetivo ou na sua própria subjetividade (sonhos, artes, projetos utópicos, fé no absoluto, etc). Para André Comte-Sponville, a felicidade é um drible entre duas palavras: esperança, que é desejar o que não depende de nós, e vontade, ou seja, desejar apenas aquilo que depende de nós. Uma nos conduz ao reino dos impossíveis e das frustrações, a outra nos leva para o presente e suas inesgotáveis possibilidades de alegria. Segundo ele, a infelicidade se instala quando nossas alegrias dependem totalmente de circunstâncias externas.
Às vezes é preciso driblar os desejos para ser feliz e você sabe disso melhor do que eu. Quando se diz ‘Procurai em primeiro lugar o reino dos céus e o resto vos será dado por acréscimo’ se subentende que a felicidade é justamente o que nos é dado por acréscimo, razão pela qual se a procurarmos em primeiro lugar, nunca chegaremos a encontrá-la. Não é necessário abandonar seus sonhos e suas esperanças, mas é muito pouco saudável viver somente em função delas, sacrificar suas possibilidades de prazer imediato em prol de castelos no ar. Diz o dito popular que ‘a esperança é a ultima que morre’ e eu complemento a frase ‘quando escolhemos estar infeliz’. Enfim, tenha desejos já realizados, tenha sonhos já vividos, tenha esperanças já recebidas, tenha fé já constatada, tenha amor já conquistado e tenha felicidade já infinita. Quando certa vez você me disse que já vivera tudo o que desejava eu não entendi de imediato e fiquei muito tempo matutando comigo mesmo até entender sua grande sabedoria. Você sabe viver porque deseja a vida e não vive o desejo. Você deseja o que já conhece, viveu, tem e é. Se as suas concepções entrarem em conflito faça a mais forte vencer. Sei que no final a vencedora vai ser aquela que lhe diz: ‘desejo o que possuo, faço e sou. Por isso tenho, faço e sou tudo o que desejo. O resto Deus me complementa com os desejos Dele. Unindo meus desejos aos Dele sou realizada, plena e muito feliz. Não me preocupo com nada, porque Deus já se preocupa por mim e vive em mim de forma inseparável e indefectível’. Realmente quem está com Deus tem tudo mesmo no meio do nada. Sinta isso e sentira a beleza da vida a renovar e reorganizar seus pensamentos. As dúvidas são benéficas pois testam nossa convicção e nos faz reafirmar ou mudar nossa crença. Essa tormenta de momento que passou por ti vai seguir seu curso e te deixar em paz, porque sei que você é mais forte e sábia que essas provocações e perturbações mentais que nomeia como dúvidas. Um gigante beijo e abraço. De seu amado eterno e sempre presente em seu coração”.
[i] COMTE-SPONVILLE, A. A felicidade, desesperadamente. São Paulo: M. Fontes, 2001.
Atualização
Há 4 anos
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