“As pessoas que não tem senão superficiais conhecimentos da Doutrina Espírita são, naturalmente, levadas a fazer muitos questionamentos e, não raras vezes, desejam provas que lhes possam convencer. Allan Kardec no livro O Que é o Espiritismo[i] faz uma abrangente exposição das bases doutrinárias do Espiritismo, oferecendo brilhante resumo do Livro dos Médiuns e Livro dos Espíritos e ainda respostas às objeções mais freqüentes decorrentes de idéias falsas, feitas sobre o que não se conhece. Qualquer pessoa que tenha real interesse na doutrina pode concluir se vale à pena buscar um estudo mais aprofundado através desse livro que resume o espiritismo. Kardec optou por essa forma restrita diante das insistentes indagações daqueles que por falta de tempo ou vontade não buscavam as fontes na codificação. Ele define a doutrina que codificou da seguinte forma: ‘O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, da origem e da destinação dos Espíritos, e das suas relações com o mundo corporal’.
Kardec era um cientista francês que estudou o magnetismo, por exemplo, por mais de trinta e cinco anos; quando os fenômenos das mesas girantes chegaram a seu conhecimento ele, como pesquisador nato, desejou conhecer as causas que levavam objetos materiais a responder de forma inteligente seus inquiridores. Observou que sendo respostas inteligentes não poderiam prover de objetos materiais e passou a estudar esses fenômenos de maneira séria e metódica por mais de um ano até que se convencesse que realmente se tratava de manifestações de Espíritos que já viveram na Terra. Desde então compreendeu que seria instrumento de uma nova revelação que faria a humanidade conhecer o outro lado da vida física, ou seja, a vida espiritual. Empreendeu, então, maior esforço nessas pesquisas, trabalhando com mais de cem médiuns de diversas partes do mundo, formulou questões importantes e selecionou as que tinham o mesmo teor e lógica. Assim nasceu o Livro dos Espíritos, primeira obra da codificação da Doutrina Espírita, contendo suas bases e princípios fundamentais. Malgrado todo o respeito que a sociedade da época tinha por seus estudos e opiniões, Kardec enfrentou muitos dissabores e rivalidades, como todos os que na História da Humanidade trouxeram revelações que feriam o amor próprio da sociedade dominante. Os poderosos da época não pouparam esforços na tentativa de ridicularizá-lo, culminando no que ficou conhecido como ‘Auto-de-Fé de Barcelona’ quando trezentos exemplares de seus livros, que seriam vendidos na Espanha, foram confiscados pelo bispo de Barcelona, Antônio Palau Termens e queimados em praça pública. Fato esse que despertou maior interesse das pessoas da época que passaram a estudar com mais atenção os fenômenos expostos por ele e aderiram em grande número à nova filosofia que a Doutrina trazia.
Ao referir-se a esse episódio Kardec escreveu: ‘Podem queimar os livros, mas não queimaram as idéias’. Foi assim que o Espiritismo se expandiu pela Europa e Estados Unidos da América. Allan Kardec jamais se inibiu com as oposições que lhes fizeram. Sempre enalteceu o respeito que por todas as opiniões fossem elas individuais ou coletivas. Deixou muito claro que a Doutrina Espírita não tem por objetivo mudar convicções e muito menos atacar qualquer opinião. O Espiritismo se dirige aos que buscam respostas a questionamentos íntimos e não aos que já têm convicções firmadas. Seu objetivo é esclarecer aqueles cujo raciocínio repele a doutrina materialista do ‘nada’ ou os conceitos até então convencionados sobre a vida futura. Através dos experimentos de Kardec os Espíritos Superiores puderam trazer a publico e de forma racional o que se intitulava como ‘mistérios’. Assim, a morte foi descortinada e a vida espiritual foi detalhada de forma que a pudessem compreender, dando maior valor à vida, maior interesse na própria evolução e maior consolo nas atribuições da passagem terrena. Eis então a conseqüência dessa Doutrina e, ninguém em sã consciência poderá dizer que é pouco.
Conforme Kardec colocou em seus escritos com a lógica que norteou todos os seus estudos, a Doutrina Espírita não agride convicções alheias, muito pelo contrário, não tem por finalidade fazer prosélitos ou convencer quem quer que seja. Está disponível a todos que por ela se interessarem e porventura aceitarem. Aliás, faz parte da sua filosofia o elemento de pacificação contrário a qualquer tipo de violência, mesmo a intelectual. Não se encontram em seus princípios qualquer proibição ou obrigação, apenas adverte quanto a Lei de Causa e Efeito, seguindo as palavras de Paulo, o grande apóstolo: ‘Tudo nos é lícito, mas nem tudo nos convém’. O que se pede é a reciprocidade, a fim de que seus adeptos tenham a mesma liberdade de expressar as suas opiniões e agir de conformidade á sua crença...”
[i] KARDEC, Allan. O que é o espiritismo? Noções elementares do mundo invisível, pelas manifestações dos espíritos. 32ª Ed. Rio de Janeiro: FEB, 1944.
Atualização
Há 4 anos
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