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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

para agape 4

“Querida amada de meu coração! Tudo bem contigo? Fico feliz por tudo ter decorrido tranqüilo na sua viagem. Estive lendo suas escritas para a ‘Ami’ e fiquei a pensar também sobre a ‘Mary’. Me desculpe a intromissão no assunto, mas acho que sua irmã e cunhado julgam a ‘Mary’ de forma simplista porque não são eles que estão na pele dela a vivenciar o contexto de vida que ela tem. Pelo que você descreveu falta muita compreensão da parte deles para analisar e entender a postura dela. Você já andou escrevendo que sua irmã não lhe convida para os passeios porque você é muito calada, ou seja, quieta no seu canto, e isso se assemelha de longe ao que ocorre com relação à ‘Mary’. Para você é mais fácil se colocar na posição de ‘Mary’ e visualizar com maior clareza que, se ela fosse falsa e fingida, talvez conseguisse se dar melhor com o pai e sua irmã. Mas como você mesma escreveu, ser falsa é negativo, pois superficialmente tudo fica bem, mas no intimo a realidade é totalmente oposta. A vida tem dessas coisas e realmente sabemos que aqui a convivência é de resgates. A família que aqui temos está baseada em desafetos do passado e geralmente passa longe de ser nossa família espiritual. A família pelos laços espirituais se fortalece pela purificação e se perpetuam no mundo dos espíritos através das várias migrações da alma, enquanto a família pelos laços corporais é frágil como a matéria, se extingue com o tempo e muitas vezes se dissolve moralmente até mesmo na existência atual. Os laços do sangue não criam forçosamente os liames entre os espíritos, pois para tal é preciso afinidade, algo que vai muito além da simples convivência e tolerância familiar. Somos ligados uns aos outros pela nossa emanação magnética e daí o maior ou menor grau de simpatia nos relacionamentos. E ainda tem mais: creio que o amor é o maior ingrediente dessa simpatia entre os espíritos. Alma gêmea ou família espiritual não é para mim uma porção de espíritos criados predestinados para uma determinada união a fim de completar uns aos outros, mas sim espíritos que souberam se cativar através do respeito, da compreensão, da tolerância e do perdão. São espíritos que conseguem se entender com mais facilidade, tendo mais paciência e carinho um para com o outro. Existem relacionamentos que não são perfeitos, mas são duráveis porque assim nos esforçamos para fazê-los ser, e também existem relacionamentos dos quais não temos a mínima vontade de fazer existir ou perdurar. Os laços de amor dependem da nossa predisposição para existirem, mas devemos lembrar que amar os nossos desafetos, ou seja, aqueles com quem não temos a mínima afinidade, é um mandamento divino que ensina a não termos ódio, nem rancor ou desejo de vingança. É esforçar para perdoar o mal que nos fazem e não criar obstáculo à reconciliação. É torcer para que sejam felizes e estender-lhes ajuda em caso de necessidade. Essas são as lições que Jesus nos deixou e que foram escritas no evangelho. E falando no evangelho*, hoje o abri ao acaso e saiu na parte que fala sobre a piedade. Eu lhe vejo propicia a tal sentimento. Quando você o sente com profundidade, é amor que está sentindo, é abnegação pelos mais infelizes, é uma virtude por excelência, aquela mesma que Jesus praticou em toda a sua vida ensinando na sua doutrina tão santa e sublime. É uma emoção celeste que doma o próprio egoísmo e orgulho, sendo assim precursora da caridade. Conserve essa luz dentro de ti e continue tendo piedade antes de julgar os atos alheios. Eu lhe admiro muito por tal! Um grande beijo e até logo!”
* KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. 64ª edição. São Paulo: IDE Editora, 1987.


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