Conforme costume, "Ágape" acompanhou sua mãe até a casa de “Mariposa” e de lá tomou rumo para o parque donde encontrou-se com "Mateus" descendo do carro logo na entrada do portão principal. Ambos correram juntos e tomando uma água de coco ao final do exercício, após mais um beijo carinhoso, resolveram sentar-se para conversar um pouco:
___ Vou usar o termo popular para acertar nosso namoro: acho que precisamos discutir a relação.
___ Como assim? Sobre o que?
___ Sua viagem. Diga-me como ficaremos nessa situação – pediu "Ágape" que já vinha matutando a muito sobre o assunto.
___ Ficaremos como sempre, ou seja, desimpedidos um do outro e compromissados com nossa consciência e moral – respondeu "Mateus".
___ Você tem ciência de que muita coisa pode acontecer tanto contigo quanto comigo nesse intervalo de tempo?
___ Claro. Você não é minha e nem eu sou teu, somos do amor que nos une. Não devemos fidelidade um ao outro, mas sim ao nosso próprio coração, entende o que quero dizer?
___ Sim e concordo. Fico feliz por pensardes assim. Perante o meu passado tenho a dizer que não me arrependo de ter vivido o papel de amante, mas posso garantir que nunca fiquei tranqüila no relacionamento sabendo que este envolvia uma traição. Quando traímos alguém, em primeiro lugar estamos traindo nossa própria moral humana. O pior marido pode estar diante da melhor esposa ou vice-versa que nada justifica a maldade e o erro de uma traição. Acho a infidelidade cruel, tanto quanto um punhal friamente arremetido pelas costas. Além do mais, tudo o que a gente planta é para colher depois e vale refletir que existem muitas formas de receber a conseqüência de uma traição. Eu não quero plantar algo que possa me trazer sofrimento no futuro, até porque, acho que já andei plantando um pouco disso – disse "Ágape" pensativa olhando distante.
___ Muitas vezes nós transgredimos as leis morais por julgar que nossa intenção é positiva. Eu também entendo isso que você acabou de me dizer. Uma verdade não basta ser entendida pela nossa mente, precisa também ser sentida por nosso coração. É por isso que cometemos tantos desvios morais mesmo sabendo que não precisaríamos deles para viver.
___ É verdade. No geral nós temos consciência do que é certo e errado, mas não importamos muito com isso porque pensamos apenas no momento presente, no que vamos angariar com nossas atitudes. Muitas vezes cometemos tolices por achar que não vamos prejudicar ninguém, e daí nós não percebemos que o prejuízo final será inteiramente nosso mesmo. É preciso muita força interior para fazer valer a moral de nosso ser divino, e devemos buscar isso exatamente porque não temos uma visão do todo que nos cerca. Tudo é muito misterioso enquanto nós sentimos como seres humanos terrenos, mas tudo pode ser muito definido se nós virmos como seres espirituais divinos. Ainda somos muito cegos para enxergar os malefícios de nossos desvarios e pior que isso, ainda somos desapercebidos para sentir os benefícios do bem que praticamos. É preciso orar e vigiar para não agirmos sem pensar. Ainda bem que Deus sabe nos compreender com seu amor infinito e tem misericórdia de nós.
___ Não somos culpados pelos nossos erros, mas somos responsáveis por todos os nossos atos.
___ Exato – concordou "Ágape" voltando a olhar nos olhos de "Mateus". – Penso que tudo é relativo. Cada coisa desse tudo depende dos pensamentos, sentimentos e vivência particular. Existe um mundo exterior que manipula nosso universo interior, mas nós somos aquilo que deixamos nosso universo interior exteriorizar e conquistar do mundo exterior. Nós somos tudo no meio do nada e nada no meio do tudo. Somos a eternidade no meio do tempo e o tempo no meio da eternidade. Nossa mente é o que somos, nossos sentimentos é o farol que nos conduz, nossas dores são o que nos faz crescer, nossa alegria constante é a certeza límpida da consciência tranqüila. Ainda hoje estive conversando mentalmente sobre minha vida com ‘Ameth’ e ele tranqüilizou-me ao dizer que estamos no caminho certo quando nos sentimos otimistas, esperançosos e alegres. Você sabe que muitas vezes fico me sentindo culpada por pensar que posso estar sendo uma pessoa acomodada perante minha própria vida. ‘Ameth’ me disse que a busca pela felicidade é sempre maior que o comodismo. Este não deve ser sinônimo de tranqüilidade ou preguiça, mas sim de um falta de perspectiva mais ampla, bem sucedida e feliz. O que nos faz agir é a idéia de conseguir obter algo ou atingir uma situação que possa nos fazer mais feliz, entretanto, como disse no inicio, tudo depende do nosso ponto de vista e os motivos que podem nos fazer feliz se encaixa perfeitamente nessa relatividade particular. Nós moldamos a realidade pela maneira de captarmos os fatos. É por isso que nossa realidade pode ser linda, mesmo que os fatos sejam horríveis. Tudo são regras e conceitos que encaixamos aqui, ali e acolá para dar sentido ao que nos rodeia. Tudo são meras comparações que nos faz compreender e definir o que existe ou o que não é real.. somos nós mesmos quem ditamos o que nos faz feliz e daí, ser feliz só depende de nós. Viver no comodismo da felicidade é valido, mesmo que o mundo te inveje e te xingue de acomodado. Covardia não é ficar inerte preparando-se para a luta, mas sim agir às pressas perante o desespero. Quem vive é para ser desafiado e tudo vale a pena quando a alma não é pequena. Como disse ‘Ameth’, o exterior é apenas um reflexo daquilo que carregamos dentro de nós.
___ Profundas palavras de sabedoria – concluiu "Mateus" com um sorriso enquanto "Ágape" se aproximava dele para um abraço.
Pensativos ambos deixaram o silêncio dominar aquele momento... e assim outro dia se foi.
Atualização
Há 4 anos
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