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quinta-feira, 1 de julho de 2010

Psicanálise e personalidade...


“Olá 'Pessoal do mundo todo'! Acabei de ler um livro chamado Psicanálise e personalidadei. Tecerei apenas alguns comentários, pois o assunto é bastante extenso e mais voltado para especialistas da área. Diz o livro que a conduta do homem pode ser influenciada não só por conteúdos psíquicos conscientes, mas igualmente por conteúdos inconscientes. Isso não é novidade para mim. Para a neurose, a realidade psíquica tem uma significação maior do que a realidade material. Interessante saber que a atividade superior, seja religiosa ou profissional, pode ser uma via de escapamento criada pela libido.
Nestas condições, a atividade é, afinal de contas, da mesma natureza da própria libido. Isso recebe o nome de sublimação, ou seja, o processo pelo qual se realiza a conversão da libido em atividades especificamente humanas. Explica-se que a desordem psíquica emana das próprias tendências construtivas da personalidade. A origem da desordem psíquica reside no fato de que a construção normal da personalidade foi entravada por circunstancias desfavoráveis, ou continuou por caminhos inadequados.
A desordem manifesta-se, então, principalmente pelo fato do indivíduo não estar satisfeito consigo mesmo. Ele tem uma visão inadequada de sua própria pessoa e da dos outros. O resultado mais característico na terapia, portanto, não está necessariamente numa solução de problemas, mas numa libertação de tensões e numa modificação na maneira de sentir e ver a si mesmo. Estudando um indivíduo através do seu quadro de referência interna, chegamos a conclusão de que as generalizações são possíveis e que certos princípios gerais agem aí ativamente, mas podemos estar certos de que eles seriam de uma ordem diferente dos julgamentos tais como paranoico, obsessivo, inibido, etc., baseados em fundamentos exteriores concernentes aos indivíduos.
Válido saber que os elementos, presentes de maneira latente ou inconscientes no psiquismo, não permanecem necessariamente em estado de impotência e de inatividade. Um elemento pode permanecer inconsciente e, entretanto, intervir ativamente no comportamento. Ele exerce igualmente uma influência ativa sobre a conduta consciente sem, por isso, penetrar até a consciência. Nossa personalidade também possui conteúdos psíquicos que foram recalcados da consciência pelas censuras do terceiro setor da personalidade, que é o Superego. Assim como a inibição e a submissão, o recalque é definido no livro como uma forma de conduta em que as aspirações espirituais ou morais tentam dominar ou regularizar as forças biológicas da libido. O religioso e o erótico possuem, aliás, elementos comuns, porque seus dinamismos nascem, não de camadas idênticas da personalidade, mas de necessidades mais gerais, principalmente as de contato, de integração e de expansão.
Tanto na vida coletiva como na individual, o homem opõe resistência aquilo que torna impossível a forma de realização que ele se propôs. É por isso que certas manifestações de necessidade são excluídas da vida social, na medida em que se opõem à realização da imagem cultural da personalidade. Por essas normas sociais o homem coletivo protege-se contra forças que nele próprio, constituem um obstaculo à realização ideal de suas potencialidades. Numa mudança de postura, o recalque da necessidade deve ser trocado pela falta de atração do objeto necessitado. Assim, as velhas necessidades ou formas de conduta são sentidas, a rigor, como menos satisfatórias, até se extinguirem. Seria como trocar as necessidades ou as formas de satisfação.
A timidez está em querer proteger a persona, a figura social (máscara) que se escolhe ser. Isso leva a pessoa ao impulso da autoproteção. Incrível como isso faz sentido para mim e define o muito que já sofri. O primeiro passo para lidar com isso é aceitar-se como é, com as qualidades e defeitos que se tem e, sem segunda instância, socializar a personalidade, expor o que é sem fechar ou sufocar a expansão da personalidade.
Assim, o elemento ativo e dinâmico de bloquear-se pela autoproteção se dissolve, perde a sua função e força. Isso também faz a pessoa diminuir sua postura auto-perfeccionista e compreender na prática que a perfeição está em não se abater e nem se deixar dominar pelas próprias imperfeições. Um esforço extraordinário de sinceridade e simplicidade é exigido para que certas pessoas se tornem elas mesmas até o mais profundo de sua própria personalidade íntima. É preciso nesse processo sentir-se livre, ser fiel a si mesmo e ter concepção otimista sobre a própria personalidade, bem como com relação aos contatos interpessoais. O misantropo e o homem anti-social vivem em contato com outrem, mas sentem esse contato de maneira negativa. Ser alguém consciente de si e ter confiança nas próprias potencialidades constituem uma condição indispensável para poder entrar em contato com outrem. Com efeito, é necessário possuir um mínimo de confiança em si para ser o que se é, para sair de si mesmo e enriquecer-se num contato psíquico no qual se dá e se recebe.
O homem falho de consistência interior fecha-se aos outros embora sinta uma necessidade de apoio e de contato. O que acontece é que ele não tem a força vital pela qual um psiquismo pode abrir-se ao contato e em interações vitais. É sentindo-se amado ou estimado, sustentado ou reconhecido e, sobretudo, pelo dom ativo no esquecimento de si, que o homem atinge esse resultado. Com efeito, o que é notável nessa construção da personalidade psico-social, é que o homem se mantém e se expande tanto mais, quanto menos diretamente concentra sua atividade sobre si mesmo e abre-se mais largamente aos outros. No tímido, ou em todo homem preocupado consigo mesmo, deparamos justamente uma concentração de atenção diretamente sobre si, algo que diminui o sucesso na vida social.
Não somente o organismo biológico ou o ego consciente procuram manter-se, mas também, e principalmente, o núcleo profundo da personalidade. A atitude psicológica de defesa, típica de um ego fraco que teme sua própria existência e projeta nos outros o objeto de seu medo (o ataque), quer dizer que o outro é considerado como uma ameaça para o ego, por causa do sentimento de insegurança e da fraqueza interior do próprio ego. A renuncia ao ego, tomada nesse sentido, constitui, pois, a forma vital de desenvolvimento de si mesmo. Grande número de pessoas que, exteriormente, podem parecer muito seguras de si mesmas, sofre de neuroses cuja base deve ser procurada na incapacidade de integrar-se à sua vida. A insegurança está ligada ao complexo de inferioridade que a pessoa possui. Quanto mais o homem se sente inferior, mais tem necessidade de realizações extraordinárias para fazer-se valer aos seus próprios olhos. É o processo da supercompensação. É nessas condições que se produz a transposição para o plano do irreal, isto é, o plano da fantasia, do não-social e do domínio mais ou menos patológico.
Em muitas pessoas, o receio do fracasso desempenha um papel muito importante na construção do caráter e da atitude em geral em face da vida.
É assim que, por exemplo, crianças ou adultos fazem questão de realizar com a maior displicência tudo o que devem fazer, trabalhos ou estudos. Evitam, principalmente, dar aos outros a impressão de que eles, realmente, se aplicam a alguma coisa. Nunca fazem todo o possível e não levam nada a sério. Negligenciam tudo, com pilhérias e pouco caso. Assim, muitas vezes trata-se de indivíduos que, no fundo, não podem nem aplicar-se totalmente a qualquer atividade, nem fazer o possível, porque, inconscientemente, não estão seguros de poder realizar alguma coisa e temem fracassar ou fazer menos progresso que os outros. O melhor modo de nunca fracassar realmente é nunca empenhar-se completamente numa tarefa. Inconscientemente, arranjam-se de modo a fazer com que os outros atribuam seu fracasso, não a sua falta de capacidade, mas ao fato de tudo lhes ser indiferente. Acho que esse também é um probleminha que reconheço em mim. Enquanto me esquivo, minha personalidade permanece intacta. Este é um exemplo dos múltiplos mecanismos de defesa do ego, o qual tem sua origem no receio do fracasso e, portanto, na fraqueza do ego.
Ele solapa a atividade positiva e torna impossível o desabrochar real da personalidade para protegê-la num mundo idealizado e imaginário. Uma outra categoria de pessoas tenta fazer-se valer de modo negativo, e critica tudo o que os outros realizam. Eles mesmos se contentam em dizer como se poderia ou deveria fazer.
É assim que percebemos que a segurança está em ser confiante e viver sem defesas. Se pensarmos bem, Jesus não se defendeu em momento algum. Um mecanismo de defesa protege-nos de qualquer coisa excessiva. Alguns religiosos dizem que o homem se defende do medo porque se defende de Deus. Quando dizemos sim para Deus, o medo vai embora. Isso é uma verdade que já experimentei: quando deixamos o cálice de nossa vida nas mãos de uma força maior, justa e superior, mesmo que venha sofrimento ou dor, confiamos que também virá força e coragem em mesma proporção. Isso extingue nossos temores ou preocupações. Aquilo pelo que nos defendemos torna-se real, ou seja, quanto mais defendemos o nosso ego, mais nos identificamos com ele e mais nos distanciamos do nosso verdadeiro interior de poder. Não é possível ficar na defensiva e ser livre. Não é possível reprimir emoções e se sentir íntegro. Não é possível erguer um muro à sua volta e se ligar a Deus. Não é possível ficar ao lado do medo e também ficar aberto ao amor. Afastar as defesas abre caminho para a verdadeira cura, o verdadeiro amor e a verdadeira força. Quando você sente alegria, está ouvindo seu espírito. Não é o perigo que vem quando você abaixa suas armas. É a cura, a alegria, a liberdade e a inspiração. Enfim, é preciso compreender os processos psíquicos secretos e granjear coragem e confiança em si mesmo a fim de que se mantenha e se desenvolva a personalidade e individualidade normalmente. Da leitura é isso. Muita luz e prosperidade a todos!”
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i NUTTIN, Joseph. Psicanálise e personalidade. 4ª Ed. Trad.: Geraldo Servo. Rio de Janeiro: Agir Editora, 1964.

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