Escrevendo a propria vida I

Enquanto "Ágape" ia vivendo sua vida normalmente, resolvi analisar sua coleção de escritas dos livros Escrevendo a própria vida. "Ágape" sempre dissera que tal escrita nada tinha em comum com sua vida, mas em verdade ambas sabíamos que em cada personagem estava uma projeção inconsciente de seu Eu. Assim ganhei a liberdade de decodificá-los. No primeiro livro, independente da história em si, eu destaquei os seguintes personagens como uma sombra do arquétipo sonhador de "Ágape": um sujeito aparentemente normal e feliz que se suicida ao descobrir que não podia ser pai, em contraste com um criminoso que, através do amor, aceita tratar seus traumas psicológicos da infância e consegue conviver, recuperado de si mesmo, no meio social. É esse mesmo amor que também muda a vida de uma prostituta, a qual se relacionou com esses dois homens em situações de vida totalmente diferentes. Vale lembrar que a mulher que acolhe e assume esse amor com os dois personagens masculinos é uma escritora famosa que resolve escrever uma biografia de sua própria vida e deixa o mesmo legado a seus filhos para que a historia tenha conseqüência e permanência. O quê de "Ágape" está oculto por trás de tais personagens?
Assim como no mundo das fábulas, uma história normal também possui seu simbolismo. Conscientemente "Ágape" se projetou nessa personagem escritora para fazer disso a sua própria inspiração. Ser escritora sempre foi o maior sonho de "Ágape", mas ela nunca julgou que sua vida pudesse ser suficiente para tal. Daí ela começou a escrever historias quaisquer até que seu primeiro envolvimento amoroso despertou-a para a real necessidade de escrever sua biografia e ser escritora apenas disso. O encontro do Eu narrador com o Eu personagem do livro se cumpriu despercebidamente na vida de "Ágape" cerca de dois anos após a escrita do mesmo. Vejo o suicida como uma representação de seu lado ignorante e infantil, o qual quer deixar de existir por causa de alguns fatos banais indesejáveis que designa como insuportáveis e cruéis. De toda forma, ela deixa claro através da história que esse espírito suicida precisa de imenso auxílio, o qual obviamente carece de muito respeito e dedicação. Daí essa ajuda parte inicialmente de um adolescente, revelando a idéia de "Ágape" que a idade mental ou física nada se compara com a idade emocional ou moral. O criminoso e a prostituta revelam seu lado necessitado de compreensão, respeito e afeto também. As mudanças de vida dos dois personagens, cada um em sua particularidade, refletem claramente que o amor pode tudo, mas deixa explicito que o mundo em si só tem preconceito e medo. Entre esses dois sentimentos negativos, a confiança e a lealdade passam a ser ingredientes mágicos e totalmente especiais desse amor incondicional por vezes ligado ao amor-paixão que une um homem e uma mulher. Adiante a historia entremeia mais dois personagens que são irmãos gêmeos de sexo oposto e que se dão bem um com o outro. "Ágape" já me revelara sua imensa vontade de ter um irmão homem presente em sua vida e do qual pudesse confiar, ter afinidades e intimidade. Ela tinha dois irmãos por parte de pai, mas o fato destes morarem em Portugal e ela ter estado com eles uma única vez na vida, fazia-os serem inexistentes em sua realidade do cotidiano. Em verdade ela nem sabia se eles ainda eram vivos.