Sonhei com muitos casais de cobras finas na garagem que, esticadas, se encontravam cabeça com cabeça formando várias linhas de cobras paralelas num alinhamento diagonal. Havia alguém lavando a garagem, acho que era a faxineira do inquilino da casa de cima, e minha mãe olhava essa pessoa da porta de entrada daqui de casa. Perguntei a minha mãe se não iam matar as cobras e ela respondeu que não sem dar maiores explicações. Nisso eu quis acordar e não conseguia. Chamava pela minha mãe para ela me acordar. Minha voz saia sôfrega e rouca. Sabia que me desesperar era pior. Eu precisava me acalmar se quisesse acordar e, como em todas as vezes que sonhei com isso, tentei manipular a situação não forçando o despertar para ele vir a ocorrer de modo natural. É como se de certa forma eu estivesse com meu cérebro acordado, mas todo o resto do meu corpo não me obedecesse estando em profundo sono. Isso continuou desesperador até que de fato consegui acordar bastante assustada. Quando voltei a dormir sonhei que meu dente canino esquerdo estava mole e quebrado enquanto havia outro torto e pequeno nascido por dentro. Eu estava de luva preta rendada e conforme mexia no dente para analisá-lo, a luva sujava com bastante sangue. Por fim eu tirei a luva suja ainda perplexa e penalizada tentando entender como meu dente ficara daquela forma. Sonhar com tudo isso foi horrível e eu me sentia sem ter o que fazer para mudar ou sanar os problemas. Será que isso tem referência a esse mesmo sentimento com relação a situações concretas da vida?
Disse-lhe que as cobras podem ser vistas sob a lente de aumento dos sonhos, ou seja, nestes uma imagem invisível ao nosso olhar comum pode ser amplificada pela psique e em caso de distorção se constrói a imagem em cima de representações e códigos de imagens mais próximos do que seria a imagem autêntica. Neste caso era importante que "Alra" considerasse a possibilidade de representação simbólica de infestação microbiana. Indiquei-a para ficar atenta a possibilidades de infecções por vírus e bactérias. Mas além disso, as cobras possuem múltiplas, importantes e vastas significações. Uma delas está ligada à dimensão pessoal e ao coletivo. A cobra encarna a psique inferior, o psiquismo obscuro, misterioso, incompreensível e raro. As serpentes formam a multiplicidade primordial, indivisível, que nunca encerra o desenrolar, descamar e renascer. O homem aparece numa ponta da escala de evolução e as serpentes na outra ponta. É ligada ao símbolo da energia vital (a kundaline) que ascende a partir do cóccix pela coluna vertebral, a subida da libido, renovação da vida, terminando nos chacras superiores para levar o indivíduo à individuação ou à insanidade. No sonho relatado pareceu-me uma indicação de atualização dos mecanismos psíquicos de "Alra", principalmente o processo e a dinâmica de desenvolvimento da resistência necessária para suportar o impacto da realidade ou do que a vida a exige. Para sermos bem sucedidos em nosso processo de desenvolvimento precisamos nos preparar, ou estar preparados, para suportar o impacto devastador da realidade sobre nós. Impacto diário e inevitável que todos vivemos com essa realidade, apenas por estarmos vivos. Se, a cada mudança da realidade sofrermos como os escalpelados que sucumbem, com o impacto de uma leve brisa, à dor, acabaremos desmoronados e devastados por esse impacto-realidade. Pessoas sucumbem por despreparo, indisciplina, fragilidade, resistência à mudanças, delicadeza, senso de tudo evitar, desorganização, falta de planejamento, super-estima, orgulho, falta de humildade, arrogância, etc.
A realidade é mutável e descontínua. É difícil aceitar, pois exige humildade, mas, definitivamente, nós não temos escape. Por exemplo: Como a morte é definitiva e atingirá com sua mão a todos, é necessário trabalhar a aceitação deste desígnio e fortalecer a resistência psíquica a essa realidade para que a morte de um ente querido deixe de representar o fim do “outro” afetivo e passe a significar a morte pessoal, transformando um desígnio coletivo em um suicídio pessoal. Desta forma, é necessário que trabalhemos todas as possibilidades devastadoras da realidade para não sermos pegos despreparados pela imprevisibilidade da vida. É isto que eu chamo de um processo onírico de atualização psíquica. A psique nos coloca em situação propícia, de confronto, para que trabalhemos mudanças necessárias ou para que exercitemos e ampliemos respostas possíveis diante da imprevisibilidade dessa realidade devastadora. Em segundo lugar, além da atualização e da necessidade de se trabalhar a relação pessoal com forças internas propulsoras, pulsionais, instintivas e de origem inconsciente, surge a tendência coletiva e instintiva de matar a “serpente”. É uma relação arquetípica a que vivemos em relação a esses vertebrados donde eles sempre apareceram como ameaçadores, principalmente pelo fato de, no passado, se peçonhentos, não ofereciam possibilidade de sobrevida quando inoculavam o seu veneno. Logo, representavam a morte. Portanto, é o encontro com a morte ameaçadora, com o imponderável, com aquilo que foge ao controle pessoal. Sinaliza sobretudo os temores de "Alra", os quais devem ser liquidados pelo conhecimento e a responsabilidade. A serpente é um animal dos primórdios bíblicos. Ela ensina que, ao comermos o fruto do conhecimento, assumimos a responsabilidade da consciência e não temos mais a chance de escapar alegando ignorância de nossos atos.
A dificuldade de despertar define a ansiedade e a profundidade do sono, já que não aparece como sinal de patologia. Neste aspecto é fundamental que "Alra" aumente a sua disciplina pessoal e o autocontrole para evitar angústias e pânico em situações, em principio, naturais. Quando o corpo funciona dentro de seus padrões de “normalidade”, nós não somos exigidos, mas quando o somos, temos de estar preparados para lidar com o imponderável. Aqui existe a associação entre os dois cenários: as cobras e a angústia para despertar. São variações de um mesmo tema que adverte "Alra" para a importância de trabalhar seu domínio, controle e calma dentro de cenários desfavoráveis. Existem certos momentos em que não nos cabe o “fazer”, apenas nos cabe a atitude e a postura para que não sejamos pulverizados pelo impacto devastador da vida.
Dente canino, mole e quebrado (sem poder de mordedura, mastigação). Dente pequeno nascendo dentro do dente. Sangue na luva (proteção de mão) preta rendada. Primeira associação está ligada à menstruação, obviamente por causa do sangue. Perder dentes está relacionado à perda de força, de agressividade, resistências e defesas. Isso simboliza frustração e castração. As luvas representaram o instrumento de desafio nas situações de defesa da honra e dos princípios moral e religioso. Vestimenta das mãos funciona como defesa por intermediar a relação com o meio. No sonho podem significar a introdução de um mecanismo ou instrumento que intermédia à força agressiva de "Alra" e que media a sua relação com a realidade ou introduz um filtro nesta relação. Considerando sua característica (rendada) podemos pensar em refinamento. Só pareceu-me impreciso a cor preta, já que pode sinalizar um instrumento ainda não purificado (branco), não desenvolvido plenamente, ou em fase de formação (saído das sombras). Resumindo isso demonstra que "Alra" se defende com características como ser educada, culta e com charme de tímida ao se relacionar com o meio em que vive. Somos ensinados a ser “refinados” uns com os outros, mas isso é muito perigoso. A polidez, a finura e a bondade pode ser só uma armadura porque "Alra" teme que, ao se tornar verdadeira, as emoções que foram reprimidas irão borbulhar de maneira quase descontrolada. O liberalismo explosivo a deixa temerosa. Entretanto, é preciso purificar esse refinamento e ser educada, culta e charmosa não apenas para assim parecer, mas por de fato assim o ser e não ter medo de mostrar o que é, mesmo que exista um outro lado grosseiro que, por vezes, em favor da autenticidade e da espontaneidade, também precisa ser mostrado sem medo ou pudor.
A realidade é mutável e descontínua. É difícil aceitar, pois exige humildade, mas, definitivamente, nós não temos escape. Por exemplo: Como a morte é definitiva e atingirá com sua mão a todos, é necessário trabalhar a aceitação deste desígnio e fortalecer a resistência psíquica a essa realidade para que a morte de um ente querido deixe de representar o fim do “outro” afetivo e passe a significar a morte pessoal, transformando um desígnio coletivo em um suicídio pessoal. Desta forma, é necessário que trabalhemos todas as possibilidades devastadoras da realidade para não sermos pegos despreparados pela imprevisibilidade da vida. É isto que eu chamo de um processo onírico de atualização psíquica. A psique nos coloca em situação propícia, de confronto, para que trabalhemos mudanças necessárias ou para que exercitemos e ampliemos respostas possíveis diante da imprevisibilidade dessa realidade devastadora. Em segundo lugar, além da atualização e da necessidade de se trabalhar a relação pessoal com forças internas propulsoras, pulsionais, instintivas e de origem inconsciente, surge a tendência coletiva e instintiva de matar a “serpente”. É uma relação arquetípica a que vivemos em relação a esses vertebrados donde eles sempre apareceram como ameaçadores, principalmente pelo fato de, no passado, se peçonhentos, não ofereciam possibilidade de sobrevida quando inoculavam o seu veneno. Logo, representavam a morte. Portanto, é o encontro com a morte ameaçadora, com o imponderável, com aquilo que foge ao controle pessoal. Sinaliza sobretudo os temores de "Alra", os quais devem ser liquidados pelo conhecimento e a responsabilidade. A serpente é um animal dos primórdios bíblicos. Ela ensina que, ao comermos o fruto do conhecimento, assumimos a responsabilidade da consciência e não temos mais a chance de escapar alegando ignorância de nossos atos.
A dificuldade de despertar define a ansiedade e a profundidade do sono, já que não aparece como sinal de patologia. Neste aspecto é fundamental que "Alra" aumente a sua disciplina pessoal e o autocontrole para evitar angústias e pânico em situações, em principio, naturais. Quando o corpo funciona dentro de seus padrões de “normalidade”, nós não somos exigidos, mas quando o somos, temos de estar preparados para lidar com o imponderável. Aqui existe a associação entre os dois cenários: as cobras e a angústia para despertar. São variações de um mesmo tema que adverte "Alra" para a importância de trabalhar seu domínio, controle e calma dentro de cenários desfavoráveis. Existem certos momentos em que não nos cabe o “fazer”, apenas nos cabe a atitude e a postura para que não sejamos pulverizados pelo impacto devastador da vida.
Dente canino, mole e quebrado (sem poder de mordedura, mastigação). Dente pequeno nascendo dentro do dente. Sangue na luva (proteção de mão) preta rendada. Primeira associação está ligada à menstruação, obviamente por causa do sangue. Perder dentes está relacionado à perda de força, de agressividade, resistências e defesas. Isso simboliza frustração e castração. As luvas representaram o instrumento de desafio nas situações de defesa da honra e dos princípios moral e religioso. Vestimenta das mãos funciona como defesa por intermediar a relação com o meio. No sonho podem significar a introdução de um mecanismo ou instrumento que intermédia à força agressiva de "Alra" e que media a sua relação com a realidade ou introduz um filtro nesta relação. Considerando sua característica (rendada) podemos pensar em refinamento. Só pareceu-me impreciso a cor preta, já que pode sinalizar um instrumento ainda não purificado (branco), não desenvolvido plenamente, ou em fase de formação (saído das sombras). Resumindo isso demonstra que "Alra" se defende com características como ser educada, culta e com charme de tímida ao se relacionar com o meio em que vive. Somos ensinados a ser “refinados” uns com os outros, mas isso é muito perigoso. A polidez, a finura e a bondade pode ser só uma armadura porque "Alra" teme que, ao se tornar verdadeira, as emoções que foram reprimidas irão borbulhar de maneira quase descontrolada. O liberalismo explosivo a deixa temerosa. Entretanto, é preciso purificar esse refinamento e ser educada, culta e charmosa não apenas para assim parecer, mas por de fato assim o ser e não ter medo de mostrar o que é, mesmo que exista um outro lado grosseiro que, por vezes, em favor da autenticidade e da espontaneidade, também precisa ser mostrado sem medo ou pudor.
COLABORAÇÃO ESPECIAL: M. EDUARDO
APOIO: A_LINGUAGEM_DOS_SONHOS
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