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quarta-feira, 3 de março de 2010

No consultório psicológico...

Conforme consulta marcada, "Alra" foi encontrar-se com a psicóloga do Uai. Como "Graúda" era a mais interessada de lá comparecer, para falar dos problemas da filha, assim que acordou escreveu duas folhas de papel ensaiando o que reclamaria (sobre a filha) para a psicóloga. Depois foi passar todas as escritas a limpo, já que sem elas poderia esquecer alguma coisa importante, e assim, ficou a manhã toda se preparando. "Alra" já havia se tratado com uma psicóloga também da unidade do Pampulha há cerca de uns cinco anos atrás, mas como ela só aplicava umas técnicas de relaxamento, algo que em nada contribuía na visão de "Alra" para sua timidez, ela interrompeu o tratamento. No horário marcado de uma hora da tarde, ambas lá estavam aguardando o atendimento. Depois de uma hora e pouco esperando após o horário marcado, ambas adentraram na sala de consulta. "Graúda" começou a relatar os tópicos de problemas previamente anotados. "Alra" só respondeu algumas questões que a psicóloga lhe fez sendo plenamente verdadeira e encarando-a firme nos olhos. Na visão da psicóloga, quem teria de ser tratada é a família, pois é essa que vive fazendo cobranças, criando expectativas e sufocando "Alra". Disse que as pessoas dão palpites, criticam e querem resolver os problemas alheios para encobrir os seus próprios, os quais não conseguem dar fim. Ela foi enfática ao dizer que a tensão sobre "Alra" existe porque quem a rodeia pratica o dito popular de que “é mais fácil resolver os problemas dos outros dos que os próprios”. Ela disse que a família tem que respeitar "Alra" para esta conseguir ter o seu espaço de vida.
Perante as reclamações de "Graúda" a psicóloga virava e dizia: “...e quem falou para a senhora que...” dando-lhe uma contra-resposta inquisitiva. Até um questionamento direto serviu de apoio para a psicóloga dizer que "Alra" não tinha nada: “...se todos têm uma visão negativa dela, por que ela fazer diferente se, na cabeça das demais pessoas, ela já é o pior?” Ela explicou que, inconscientemente, "Alra" é aquilo que os outros acham dela, pois não consegue ter liberdade para se descobrir e desenvolver sua própria individualidade. "Graúda" teve que interromper a leitura da lista de problemas no segundo tópico. Em resumo ela disse que "Alra" não tinha nada estranho, anormal ou que justificasse aquela consulta. Finalizando ela disse que precisava dizer a verdade e, olhando para "Graúda" soltou a frase: “...deixe-a viver a vida dela. Vocês estão vendo problema onde não existe”.
Para quem por certo está acostumada com casos escabrosos, não há problema em encontrar uma jovem que ainda não tem uma orientação profissional e vive insegura se refugiando da gigante cobrança familiar, o que segundo ela, mais atrapalha do que ajuda. Sem mais a consulta psicológica nisso ficou. "Alra" se sentiu imensamente mais confiante após essa “hora da verdade”. Pela milésima vez era mais um ponto para "Alra" (principalmente por não estar diante de uma psicóloga interessada apenas em ganhar dinheiro e adquirir mais uma cliente, como tantas que "Alra" já freqüentara por insistência familiar).
No retorno do Uai, "Alra" passou com sua mãe no supermercado Bretas e, após deixarem as compras em casa, ambas seguiram os planos do dia indo ao centro espírita do “Badeco”. Enquanto "Graúda" foi de ônibus "Alra" foi caminhando, mesmo debaixo do guarda-chuva que a protegeu de uma garoa enjoada. Na ida ela passou na biblioteca municipal donde trocou seus livros e, conforme costume, só chegaram de volta em casa próximo das dez horas da noite. Assim outro dia, por sinal bem positivo, chegara ao fim.

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